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Com voz de Axl “escondida”, Guns N’ Roses toca para público apático em Curitiba

Apesar de cansativa seção final de set, banda se esforçou e tocou por mais de 3h diante de plateia, em maioria, mais preocupada em filmar

Texto por Luís S. Bocatios | Desde os improváveis retornos de Slash e Duff McKagan, o Guns N’ Roses já está em sua quarta visita ao Brasil — eles vieram anteriormente em 2016, 2017 e 2022. Ao final do giro de 2025, serão incríveis 23 shows em solo brasileiro considerando somente o período pós-reunião com Axl Rose.

A única novidade da atual turnê é o excelente baterista Isaac Carpenter, que entrou no lugar do mediano Frank Ferrer e deu uma renovada na energia do grupo ao oferecer mais swing e vigor. De resto, a formação segue com Dizzy Reed nos teclados, Richard Fortus na guitarra base e Melissa Reese nos sintetizadores, backing vocals e afins.

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Curiosamente, o Guns N’ Roses jamais se apresentou em Curitiba sem chuva. Tanto em 2014, na Vila Capanema, quanto na Pedreira em 2016, 2022 e 2025, o clima fez de tudo para atrapalhar o show. Por sorte, na noite da última terça-feira (28), não foi muito mais do que uma chuva fina que parava e voltava.

Foto: divulgação via Guns N’ Roses

Mesmo assim — e, ao que tudo indica, diferentemente de Florianópolis e São Paulo —, o público curitibano estava apático e mais interessado em filmar o show do que curti-lo. A banda, apesar de competente do início ao fim, também exagerou na duração do set e deixou a plateia cada vez mais cansada, gerando uma experiência… estranha.

Raimundos

O começo da noite foi ao som de Raimundos, quarteto atualmente formado por Digão (vocal e guitarra), Marquim (guitarra e vocais de apoio), Jean Moura (baixo) e Caio Cunha (bateria). O grupo cumpriu com competência o papel de aquecer o público, botando a Pedreira Paulo Leminski para cantar alguns dos maiores sucessos do rock brasileiro da década de 1990.

A primeira música do repertório foi a pesada “Os Calo”, que também abre o trabalho mais recente do grupo — “XXX”, de 2025. Rendeu uma reação fria, mas aplausos calorosos ao fim. Nesse ponto, as coisas melhoraram na segunda canção, a ótima “Esporrei na Manivela”, de “Lavô tá Novo” (1995), álbum que dominou o repertório com 4 das 11 faixas executadas e representa a transição entre o som pesado do primeiro disco e uma pegada mais acessível.

O clima cresceu em “Reggae do Manêro” e “O Pão da Minha Prima”, na qual Digão pediu para a plateia inteira pular e contou com uma adesão limitada, já mostrando que o povo, apesar dos celulares no alto, não estava muito disposto. O fraco hit “Me Lambe” também foi bem recebido, assim como a excelente “I Saw You Saying (That You Say That You Saw)”, que balançou a Pedreira com o auxílio de um excelente sistema de som.

Em suas interações com o público, Digão se mostrou grato pela oportunidade de abrir para o Guns N’ Roses. Também avisou que havia encontrado com Duff McKagan nos bastidores e ele “estava louco pra fazer um p#ta show hoje”. O líder do Raimundos ainda fez questão de ressaltar o quão especial é a Pedreira na história do grupo, por ter sido o palco onde eles abriram para os Ramones em 1994.

A consagração ficou guardada para as últimas quatro músicas. Não por acaso, são possivelmente os quatro maiores clássicos: “A Mais Pedida”, “Mulher de Fases”, “Puteiro em João Pessoa” e “Eu Quero Ver o Oco”.

Repertório — Raimundos:

  1. Os Calo
  2. Esporrei na Manivela
  3. Reggae do Manêro
  4. O Pão da Minha Prima
  5. Me Lambe
  6. I Saw You Saying (That You Say That You Saw)
  7. Palhas do Coqueiro
  8. A Mais Pedida
  9. Mulher de Fases
  10. Puteiro em João Pessoa
  11. Eu Quero Ver o Oco

Guns N’ Roses

Contrariando a fama de atrasado que ganhou ao longo das décadas, o Guns N’ Roses subiu ao palco às 19h50, dez minutos antes do horário marcado. Seja por talvez não botar fé na pontualidade de Axl Rose ou pelo evento ocorrer em um dia de semana, não parava de chegar gente até a sétima ou oitava música.

Foto: divulgação via Guns N’ Roses

É difícil pensar em um início de show de rock mais arrebatador do que “Welcome to the Jungle”. A canção, que também abre o lendário álbum de estreia “Appetite for Destruction” (1987), é um prato cheio para o público enlouquecer. No entanto, essa combinação tende a atrapalhar as filmagens, então bem mais pessoas priorizaram seus celulares no alto. Sinal dos tempos.

Em seguida, veio “Bad Obsession”, que voltou ao repertório em 2023 após trinta anos e soa como algo que os Rolling Stones fariam na época da obra-prima “Exile on Main St.” (1972), mas com um pouco mais de distorção. Em seguida, mais dois clássicos de “Appetite”: a fantástica “Mr. Brownstone” e “It’s So Easy” foram duas das melhores da noite.

Foto: divulgação via Guns N’ Roses

A essa altura, já estava claro que a apatia do público permaneceria durante a noite inteira. Se nem com esse desfile de clássicos no começo o povo se animou, não seria com uma música de “Chinese Democracy” (2008) já com duas horas e meia de show que as pessoas iriam pirar.

O set tem sequência com a ótima “Pretty Tied Up”, também resgatada em 2023 após trinta anos, e “Sabbath Bloody Sabbath”, belíssima homenagem a Ozzy Osbourne, que teve sua imagem projetada nos telões e seu nome gritado no final da música. Surpreendentemente, Axl deu conta do recado, mesmo na pesadíssima parte mais aguda na parte final. Mais tarde, a banda ainda executou o seminal petardo “Never Say Die”, também do Black Sabbath.

Após “Live and Let Die”, cover dos Wings que eles performam rotineiramente desde os anos 1990, há uma trinca com a tenebrosa “The General”, a desnecessária “Slither”, cover de Velvet Revolver (banda que Slash e Duff fundaram anos após deixarem o Guns), e a decente “Hard Skool”. Mais tarde, ainda houve a pavorosa “Absurd”. Ou seja: das quatro composições que o grupo lançou nos últimos anos, ficou faltando apenas “Perhaps” (ainda bem).

Foto: divulgação via Guns N’ Roses

Isso nos leva ao questionamento: se um grupo não lança um álbum inédito há quase vinte anos, claramente não há grande preocupação artística com novidades. Por que, então, insistir em tocar músicas que, além de matar totalmente a empolgação do público (que nesse caso já era baixa), são fracas?

Em compensação, logo veio a sequência que mais contou com engajamento do público: a linda “Yesterdays”, a balada “Don’t Cry”, o petardo “You Could Be Mine” e a magnífica “Estranged”, cujos solos de Slash já valeram o preço do ingresso.

Foto: divulgação via Guns N’ Roses

Bebeto e Romário (ou não)

Os principais pontos de discussão sobre o Guns N’ Roses atualmente são as duas principais figuras da banda, Slash e Axl Rose. O guitarrista claramente não parou de evoluir no instrumento, seja em técnicas, seja no uso de recursos como talkbox e slide guitar. Além de veloz, é preciso e mostra saber em quais momentos pode pirar e em quais o público quer ouvir exatamente o que está no disco, como em “Sweet Child o’ Mine” e “November Rain”. É o incontestável destaque.

A situação de Axl Rose é bem diferente. Todos já sabem que o estado de sua voz está muito longe do ideal. O meme é real: seu timbre fino e sem drive faz com que ele soe como o Mickey Mouse nas músicas mais agudas. Dito isso, a banda faz um excelente trabalho em escondê-lo na mixagem nessas faixas ao deixar as guitarras muito mais altas do que o canto, incomodando menos.

Foto: divulgação via Guns N’ Roses

Em contrapartida, o timbre mais grave de Rose ainda está ótimo e boa parte do repertório é construído em cima dessas músicas — o que explica, por exemplo, o resgate das já citadas “Bad Obsession” e “Pretty Tied Up”. Como já se tornou costume e de vez em quando viraliza nas redes, Axl também escolhe alguns momentos para usar drive por alguns segundos, nos quais soa como nos anos 1980. É quase como se falasse “ainda sei fazer, mas não tô aguentando mais”.

Talvez esse seja o motivo da falta de canções como “My Michelle” e “Dead Horse”. Torna-se especialmente frustrante pelo fato de o catálogo da banda ser tão curto e do show ser tão longo e, mesmo assim, algumas das melhores composições ficarem de fora.

Foto: divulgação via Guns N’ Roses

Três horas é muito

Outra sequência excelente foi formada por “Double Talkin’ Jive”, também de vocal mais grave; “Sweet Child o’ Mine”, que fez todos cantarem, mas os celulares novamente estavam lá no alto e a plateia ignorou o incentivo de Duff McKagan para pular; a balada “So Fine”, com Duff nos vocais; e a excelente porradaria “Shadow of Your Love”, anterior até a “Appetite for Destruction” e representativa do momento de maior interação entre Axl e a banda, no qual chegou a dividir o microfone com Slash.

A abordagem mudou a partir da maravilhosa “Rocket Queen”, que durou mais de 15 minutos. A música teve improvisos enormes tanto de Richard Fortus, um discreto virtuoso, quanto de Slash, que tira onda na talkbox. Se esse fosse o momento de maior piração do show, estaria tudo certo. Todavia, isso se estende por mais de uma hora, transformando a parte final do set em uma egotrip gigantesca.

Foto: divulgação via Guns N’ Roses

“Knockin’ on Heaven’s Door”, clássico cover de Bob Dylan, também contou com solos estendidos de ambos os guitarristas e, logo em seguida, Slash faz mais um solo imenso com citações a Stevie Ray Vaughan e Johnny Winter, entre outros gênios da guitarra de rock n’ roll.

 “Civil War” foi mais direta — e, não por acaso, um dos grandes momentos do set —, mas logo em seguida veio “Coma”, que, apesar de trazer um dos mais pesados riffs da carreira do grupo, já é estendida demais em estúdio e ao vivo fica ainda mais cansativa. A essa altura, o espetáculo já havia se tornado praticamente uma prova de resistência do “Big Brother”.

Foto: divulgação via Guns N’ Roses

O cover de “Wichita Lineman”, de Jimmy Webb, não ajudou, mas “November Rain” compensou ao emocionar até o mais cínico que estava na Pedreira. O final contou com problemas de som, com a guitarra sumindo em alguns momentos, algo que se estendeu à lamentável “Street of Dreams”, única representante de “Chinese Democracy” no repertório. A essa altura, já havia uma certa debandada do público.

O final veio com a dobradinha formada pela fantástica “Nightrain”, outra das melhores da noite, e pela clássica “Paradise City”, cantada de costas por parte do público, que já se dirigia à saída. No fim das contas, o Guns entregou até mais do que o necessário, especialmente levando em conta a falta de animação do público. Tomara que, pelo menos, as filmagens tenham ficado boas e não tenham ido apenas para os stories do Instagram, onde desaparecem após 24 horas. Quem viveu o show de verdade se lembrará dele por anos e anos. A tour continua pelo Brasil indo a Cuiabá (31/10) e Brasília (02/11).

Foto: divulgação via Guns N’ Roses

Guns N’ Roses — ao vivo em Curitiba

  • Local: Pedreira Paulo Leminski
  • Data: 28 de outubro de 2025
  • Turnê: Because What You Want & What You Get Are Two Completely Different Things
  • Produção: Mercury Concerts / Like Entretenimento

Repertório:

  1. Welcome to the Jungle
  2. Bad Obsession
  3. Mr. Brownstone
  4. It’s So Easy
  5. Pretty Tied Up
  6. Sabbath Bloody Sabbath (cover de Black Sabbath)
  7. Live and Let Die
  8. The General
  9. Slither
  10. Hard Skool
  11. Yesterdays
  12. Don’t Cry
  13. You Could Be Mine
  14. Estranged
  15. Never Say Die (cover de Black Sabbath)
  16. Absurd
  17. Double Talkin’ Jive
  18. Sweet Child o’ Mine
  19. So Fine
  20. Shadow Of Your Love
  21. Rocket Queen
  22. Knockin’ on Heaven’s Door (cover de Bob Dylan)
  23. Solo de guitarra + Civil War
  24. Coma
  25. Wichita Lineman (cover de Jimmy Webb)
  26. November Rain
  27. Street of Dreams
  28. Nightrain
  29. Paradise City

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16 COMENTÁRIOS

  1. Acredito que eu estava em um show diferente então. Foi lindo, emocionantez enérgico, indiscutível a qualidade do Axl, Duff, Slash enfim, de todos. Curitiba é e continuará sendo a capital nacional do rock e é uma grande honra fazer parte desta história, participando dos shows. Espero que eles voltem logo pois dessa vez irei de premium

  2. Texto cansativo e cheio de críticas de quem parece ter assistido o show pelo “celular” do que ido a pedreira assistir o show, engraçado se for ver o tanto de comentários falando sobre o público neste mesmo sentido.
    Axl não está mais com seus auges de 28 anos, e sim, mais de 60, além das cirurgias que já passou para conseguir continuar proporcionando aos fans estes shows, que mesmo durando suas 3hrs (e que mesmo com os pés doendo e a chuva caindo) ainda fazem com que quem gosta da banda, no fundo desejasse continuar lá para poder escutar várias outras músicas desejadas.
    Fui ao show, e achei ótima a voz do Axl, claro que em alguns pontos o fôlego e até mesmo os agudos pedem arrego, no entanto, foi um show excelente para viver e se divertir.

  3. Muito estranho esse comportamento dos curitibanos nesse show, isso não é normal. Nos shows que vou no Tork’n roll Curitiba a galera dança e canta junto, tanto que os músicos ficam fascinados com a plateia de Curitiba. Fui no show no Skillet domingo e foi difícil ouvir a banda de tão empolgada que a plateia estava cantando junto.

  4. Cansei de colar em shows com o povo filmando em vez de curtir o som. É ridículo esse comportamento. Galera vai pra postar que foi kkkkk É a doença dos dias atuais. Mais importante postar. Já fui em peça de teatro assim. Tenho dó. Escravos das mídias sociais.

  5. O que desmotivou, além dos solos absurdamente longos, foram os playbacks no início. A quantidade de gente que não conseguiu assistir o show e estava na pista vip também deixou a desejar e foi frustrante. Ninguém paga mais de 1000,00 pra não ver o show

  6. Olha eu estava na vip e gostei bastante, mas vi mesmo essa apatia absurda mencionada, dava para contar nos dedos as pessoas animadas em meu entorno e arrisco a dizer que o povo ficou mais animado no Raimundos do que em todo o set do Guns, é o que acontece com ingressos caros para caralho, muita gente que nem conhece a banda indo ao show mais como demonstração de status do que para realmente curtir a banda, além de ser acessível a um público mais velho que não iria agitar em um dia chuvoso.

    Soma-se a isto culpa do setlist mal montado, tanto por muitas músicas desconhecidas a maior parte do público, quebrando o encadeamento das classicas na empolgação de um público que nem conhecia Civil War ou Estranged, como não aproveitando os timbres graves do Axel, que estavam também falhando, porém contornando a deficiência vocal de melhor maneira.

    Para mim foi ótimo pela experiência, primeira vez que pude levar a minha mãe de 60 anos para curtir um show de rock de uma banda que ela curtia na adolescência, agora como apreciador de shows foi um dos mais deprimentes que já fui e não tanto por culpa da apresentação em si.

  7. Acho que vc foi em outro show hein?!?! ruim demais seu textinho e nem perto do que aconteceu!!!! Você estava mesmo em Curitiba??? ou cobriu o show por home-office??? o Show foi sensacional!!!

  8. Mas o Guns esteve no rock in Rio 2 , no Maracanã. Pelos comentários ,você não parece ser muito expert em shows e, até mesmo, rock. Acho que precisa adquirir mais experiência…

  9. Tem que ter humildade pra falar do Guns! É um privilégio e uma despedida vê-los tocando no Brasil. Geração que não sabe mais o que é um show de Rock assista em casa! Covardia querer exigir alta performance porque pagou um ingresso. Aproveitem enquanto estão aí, filmem menos e curtam mais!

  10. Criticas vazias de quem não deve ter ido ao show…. o público interagiu com a banda, a performance do grupo foi excelente. O Axl mostrou mais vigor que nos shows anteriores. Parece uma tentativa de lacrar em cima da personalidade do curitibano, mas introspectivo, quando cita o termo “apatico”.

  11. A pior análise de crítica ao show que li nos últimos tempos! Eu sou de Floripa e fiquei sem adjetivos suficientes para descrever o show do Guns! Eles arrasaram e são lendas do Rock! Me desculpa, mas mais respeito por quem fez e faz história no Rock internacional!

  12. Ruim tua crítica mal embasada e depreciativa comun em pessoas que querem inaltecer suas opiniões!
    E se você foi a show? ou não tem percepção? ou é frustrado!

  13. Que texto infeliz. Será que vc está achando apático um povo educado, que sabe curtir um show sem precisar de exagero e quer registrar um momento épico?? Apaga que dá tempo.

  14. O público de Curitiba estava sim apático. Acho que muitos estavam cansados pois ficaram a tarde toda na fila com chuva. Na hora de abrir os portões foi um perrengue, pista premium, pista comum e camarote todos pelo mesmo portão de entrada, mal revistaram as pessoas. Sem falar dos alimentos levados por quem pegou o ingresso solidário que foi simplesmente jogado num monte na chuva. Um descaso. Na pista premium não tinha lanches, quem quisesse teria que se deslocar até a pista normal pra comprar um cachorro quente ou batata frita. Desde a abertura dos portões todos ficaram em pé aguardando o show. Deviam estar com muita dor nas costas e gastaram o último cartucho de energia com os Raimundos. Talvez teria sido diferente se o show fosse na Arena da Baixada.

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