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Candlemass celebra 40 anos de carreira na Argentina e Chile; veja como foi

Banda sueca de doom metal se apresentou nos países vizinhos antes de chegar ao Brasil para tocar no Setembro Negro Festival

As origens do doom metal remetem ao Black Sabbath, mas quem sacramentou esta vertente foi o Candlemass, com seu disco de estreia “Epicus Doomicus Metalicus” (1986) cunhando o termo. Os trabalhos seguintes fortaleceram a fórmula, mesmo que “Chapter VI” (1992) tenha trazido uma pegada diferente, com um vocalista, Thomas Vikström (que depois ganhou fama com o Therion), muito mais melódico.

O mentor da banda, o baixista e compositor Leif Edling, ficou sozinho na segunda metade dos anos 1990. Lançou álbuns que obtiveram pouca repercussão, mas que traziam uma nova abordagem no doom — principalmente o forte “From the 13th Sun” (1999).

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O movimento estratégico para voltar aos holofotes era o retorno do vocalista Messiah Marcolin — integrante entre 1986 e 1991 —, o que aconteceu logo após a virada do milênio. A história é longa e complexa, mas em resumo, o frontman voltou em 2002 e seguiu até 2006, quando abriu espaço para Rob Lowe (Solitude Aeternus) e Mats Léven.

Sem a possibilidade de ter Messiah novamente na linha de frente, Edling e companhia recrutaram em 2018 o vocalista original do disco de estreia, Johan Längqvist. Desde então, saíram dois álbuns de estúdio, dois EPs e um disco ao vivo. Fizeram turnês como nunca e inclusive, foram ato de abertura de uma turnê do Ghost, levando sua música a públicos maiores que o habitual.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Em excelente fase e sem um disco novo para divulgar, mas sob a ideia de celebrar os 40 anos de carreira, o Candlemass retornou à América do Sul para três apresentações, poucos meses após a última visita. Em maio, vieram para um show único na Venezuela. Com a confirmação do show no terceiro e último dia do Setembro Negro Festival, em São Paulo, no próximo domingo (7), logo surgiram mais duas datas: Buenos Aires, Argentina, na quinta-feira (4); e Santiago, Chile, sexta (5).

São ocasiões distintas em comparação ao festival paulistano, pois contam com repertórios completos, de aproximadamente 85 minutos, contra os 50 a ser executado no Brasil.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Argentina

A primeira data foi realizada no The Roxy, em Buenos Aires. Inicialmente, seria no Vorterix, mas a casa foi alterada poucos dias antes do show para um lugar bem mais compacto. A qualidade de som estava absurda, próxima de ouvir a música gravada em estúdio, e a banda exalou inspiração.

A abertura ficou com o duo doom Ararat, composto pelo vocalista e baixista Sergio Chotsourian e pelo baterista Gaston Gullo e apreciado pelo público que curtia discretamente, mas com atenção. Nem mesmo quando o Candlemass subiu no palco por uma escada lateral, para ter acesso ao backstage, a galera perdeu o foco no set da dupla. Foram apenas 25 minutos de palco, encerrados de maneira um tanto abrupta, mas o suficiente para chamar atenção de quem ainda não os conhecia.

Quanto ao Candlemass, o setlist trouxe apenas uma música diferente do usual, a faixa-título do último disco “Sweet Evil Sun” (2022), e outras onze que são clássicos absolutos do doom metal, todas oriundas dos anos 1980. O quinteto formado por Edling, Längqvist, Mats “Mappe” Björkman (guitarra base), Lars “Lasse” Johansson (guitarra solo) e Jan Lindh (bateria) apostou nas favoritas dos fãs, sem tentar equilibrar o repertório para cobrir outras fases.

Teria sido fantástico conferir músicas de discos estelares como “Candlemass” (2005), “King of Grey Islands” (2007) e “Death Magic Doom” (2009) —deixados de lado nos shows desde o retorno de Längqvist. Ainda assim, não há como reclamar do que os suecos apresentaram em solo argentino.

Às 21h20, a intro “Marche Funebre” tomou o ambiente, abrindo espaço para uma dobradinha covarde logo de cara: “Bewitched” e “Dark are The Veils of Death”, ambas do “Nightfall” (1987), disco que marcou a estreia de Messiah Marcolin no grupo. A voz mais rasgada e encorpada de Längqvist adiciona um novo espectro às faixas, que soam poderosas e atemporais. De “Ancient Dreams” (1988), “Mirror Mirror” não é veloz ou brutal, mas isso não impediu o público de abrir várias rodinhas nesta e em outras canções de andamento moderado.

Como “Epicus Doomicus Metalicus” é a pedra fundamental do doom metal, nada mais justo que tocar boa parte dele: foram 5 das 6 músicas da tracklist original — apenas “Black Stone Wielder” ficou de fora. A fenomenal “Under the Oak” é um lamento pela extinção da humanidade em diferentes tons de desespero, sentimento no qual o narrador afunda até o momento em que ele mesmo sucumbe à existência. O sentimento de cada fã, ao ouvi-la, é proporcionalmente inverso: os riffs metálicos, as melodias vocais cativantes e a cozinha pesada causam alívio e até mesmo esperança.

Outro épico, “Crystal Ball” tem versos daqueles que transcendem a compreensão humana; “Visions and dreams you can see in the crystall ball” é um tipo de refrão que não sai da cabeça. No mesmo nível está “A Sorcerer’s Pledge”, cheia de mudanças e melodias fortes. Em solo argentino, o coro feminino da versão original foi cantado pelo público, num momento apoteótico. No meio disso tudo, surgiram a já citada “Sweet Evil Sun”, heavy metal grudento e de refrão poderoso, e a veloz “Dark Reflections”, outra que causou alvoroço na galera próxima ao palco.

“Vocês conhecem esta próxima música? Acho que vocês irão reconhece-la de cara”. Assim, Längqvist anunciou a soturna “The Well of Souls”. A apoteótica “The Bells of Acheron”, colosso de “Ancient Dreams”, veio a seguir, com direito a uma breve citação ao riff da faixa-título do álbum de 1988 no encerramento. Por fim, a grandiosa “Solitude” serviu como despedida do Candlemass em mais uma visita à Argentina.

Chile

No dia seguinte, o Candlemass rumou até Santiago para show no Club Chocolate, com realização da BTS!! Producciones. A visita anterior à capital do Chile ocorrera em 2023, em apresentação potente no Blondie, que permanece até hoje na memória deste que vos escreve.

O setlist foi exatamente o mesmo da noite anterior: ou seja, uma celebração aos anos 1980. Todos os discos daquela década tiveram ao menos uma música como representante; dos outros nove lançados de 1992 até os dias atuais, tivemos apenas “Sweet Evil Sun”, que não fez feio mesmo esmagada entre tantos clássicos e, especificamente no Chile, arrancou reações enérgicas da plateia.

“Crystal Ball” teve espaço para um solo do subestimado guitarrista Lars Johansson, notório pelos solos cheios de feeling aliado ao bom gosto nos arranjos. Seu talento se amplifica pela parceria com as bases de Mappe Björkman, que se apresentou mesmo claramente cansado — talvez até enfermo. Completa o time o preciso baterista Jan Lindh, que ofereceu violência sonora e não desperdiçou virtuosismo em “Demon’s Gate”.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Se o show foi igual ao da Argentina nas músicas apresentadas, houve particularidades interessantes. Em “A Sorcerer’s Pledge”, Längqvist cantou o verso “A thousand years of midnight” trocando “years” por “days”, sem motivo aparente. No meio dela, apresentou apenas Leif Edling e Jan Lindh, parando por aí. Na volta ao bis, em “The Well of Souls”, houve um pequeno problema com a guitarra de Björkman na introdução, enquanto o baixo ficou desligado até os primeiros versos depois da parte declamada. Pouco mais adiante, Lasse improvisou um solo cheio de garra, bem diferente da original. Ninguém reclamou.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

A abertura em Santiago ficou com a Lapsus Dei, que também contou com 25 minutos de palco e cinco músicas. O frontman Martín Morales chegou a anunciar que aquele seria o último show do baixista Jose Agustin Bastias. Com tempo curto, focaram nas músicas: uma espécie de death/doom metal com predominância de vocais limpos e guturais pontuais. Nas partes limpas, o timbre de Morales chega a lembrar Tomi Joutsen, do Amorphis. Entre os destaques, o mais recente single “Paradises Collide”, e a bonita e melódica “Falling Apart”.

Foto: Clovis Roman @clovis_roman

Último show da turnê

No Brasil, a banda terá 50 minutos de palco no último dia do Setembro Negro, portanto, cerca de 30 minutos a menos que o repertório regular. Por aqui, provavelmente devem ficar de fora “A Sorcerer’s Pledge”, “The Bells of Acheron” e “Demon’s Gate”.

Setlist — Candlemass na Argentina e Chile

  1. Bewitched
  2. Dark Are the Veils of Death
  3. Mirror Mirror
  4. Under the Oak
  5. Dark Reflections
  6. Demon’s Gate
  7. Sweet Evil Sun
  8. Crystal Ball
  9. A Sorcerer’s Pledge
  10. The Well of Souls
  11. The Bells of Acheron
  12. Solitude

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Clovis Roman
Clovis Romanhttps://acessomusic.com.br/
Em 25 anos de carreira, o jornalista Clovis Roman cobriu e fotografou mais de mil shows pelo Brasil e exterior, assim como realizou centenas de entrevistas e resenhas de discos. Atuou na produção de shows e turnês – inclusive do Angra – em seus anos na produtora Top Link Music. Em 2017, fundou o Acesso Music, no qual atua como jornalista e assessor de imprensa. Em 2020, contribuiu na pesquisa e escrita do livro Andre Matos – O Maestro do Heavy Metal; e é autor do livro Andre Matos – A Obra, em parceria com Gustavo Maiato. Traduziu livros de bandas como Accept, Paradise Lost, Mortification e Iron Maiden; e revisou o relançamento de Sepultura – Os Primórdios, de André Barcinski. Escreveu apêndices para os livros O Reino Sangrento do Slayer, Death – A História de Chuck Schuldiner e a HQ Angra: Renascimento. Contribuiu, de maneira regular ou pontual, com veículos como Rolling Stone, 91Rock, Igor Miranda, Whiplash, Roadie Crew, Rock Brigade, Order News, 89 FM – A Rádio Rock, entre outros.

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