Surgido no início da década de 1980, o Ratos de Porão é uma das bandas mais importantes e influentes da história do punk nacional. Ainda assim, não raramente o grupo é acusado de ser um “traidor do movimento” — especialmente após a confusão de João Gordo com o ator Dado Dolabella. De acordo com o vocalista, há uma razão para essa fama.
Durante entrevista com a apresentadora Mafê para o canal Instituto Cultiva (via Rockbizz), o cantor explicou que a ideia permeou toda a trajetória da banda. Isso porque, segundo ele, os músicos foram pioneiros — algo que o público da época não conseguia compreender.
Basicamente, o Ratos iniciou a carreira sob forte influência do punk. No entanto, já no álbum de estreia, “Crucificados pelo Sistema” (1984), apresentou um som mais voltado ao hardcore. Depois, no disco “Descanse em Paz” (1986), por exemplo, incorporou elementos do thrash metal. Em vez de interpretar cada mudança como um passo inovador dentro do cenário brasileiro, parte dos fãs passou a enxergá-las como “traidores”.
Primeiro, João contextualizou:
“Embarcamos no crossover, uma mistura de metal com punk. As bandas que eu gostava [de punk] em 1984 eram bandas inglesas, que começaram a tocar metal. Depois, surgiu Metallica, Slayer, Venom, Exodus. [Naquela época] Os metaleiros usavam camisa de punk e, ao mesmo tempo, os punks que a gente era fã estavam usando camisetas de metal. Como a gente era mais bem informado, porque a gente tinha correspondência [com pessoas de fora], começamos a mudar [nosso som]. Estávamos sempre um passo à frente do resto da galera.”
Assim, cada “experimentação” para acompanhar o mercado internacional era vista como deslealdade. O fato de Dado Dolabella ter afirmando que Gordo traiu o movimento punk durante uma famosa discussão na MTV em 2003 também parece ter contribuído para a disseminação da ideia, que, nas palavras do cantor, é “ridícula”:
“Quando todo mundo era punk rock, a gente fazia hardcore. Aí nos chamaram de ‘traidor do movimento’. Quando o Ratos de Porão lançou em 1984 o disco ‘Crucificados pelo Sistema’, que tinha um símbolo da paz, os caras falaram que éramos hippies e ‘traidor do movimento’. Quando a gente começou a ouvir metal e fazer esse crossover, que é o metal punk e era uma onda que estava tendo na Europa, falaram que a gente era metaleiro e era traidor. Mas a gente sempre era pioneiro na parada. E o preço de ser pioneiro em um país que nem o nosso é muito tosco. Até hoje tem playboy, fã de Dado Dolabella, que fica me chamando de traidor do movimento, mas não sabe nem o motivo. Quem é fã da banda, sabe a história e acha essa coisa ridícula. A gente só era mais bem informado do que as outras pessoas.”
Ratos de Porão e os “traidores do movimento punk”
Não é a primeira vez que João expõe o raciocínio. Ao Flow Podcast em 2021, como compartilhado pelo Whiplash, o cantor já havia argumentado:
“Fomos os primeiros em muitas coisas. Por isso, tem essa fama de ‘traidores do movimento’, porque na época em que todos estavam punk rock, a gente, por ter mais informações, estava no hardcore. Quando o pessoal foi para o hardcore, nós estávamos no metal, seguindo a onda do pessoal lá de fora.”
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