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A vida de Brian Wilson foi dura, mas suas canções saram qualquer dor

Principal compositor dos Beach Boys enfrentou doença mental, vício em drogas e aproveitadores, mas seu gênio prevaleceu no final

Chamar Brian Wilson de um dos compositores mais importantes do século 20 é uma afirmação nada hiperbólica. O ex-integrante dos Beach Boys, cuja morte foi anunciada nesta quarta-feira (11), foi uma figura fundamental para a evolução da música pop como conhecemos.

Nascido em Los Angeles, o músico era o primogênito de Murry e Audree Wilson. Seus irmãos, Carl e Dennis, eram dois e quatro anos mais novos, respectivamente.

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Desde pequeno, Brian exibiu uma facilidade para aprender melodias de ouvido. Era capaz de reproduzir qualquer coisa que ouvisse quase instantaneamente.

Murry Wilson era em si um compositor e incentivou o aprendizado musical de seus filhos, em particular o de Brian. Ao mesmo tempo, abusava física e emocionalmente dos filhos.

Brian aprendeu a tocar piano sozinho quando criança e desenvolveu suas capacidades como compositor estudando música clássica, standards de jazz e R&B — este último estilo apresentado por seus irmãos. No Ensino Médio, ele decretou que sua ambição era trabalhar com música.

Nascem os Beach Boys

Em 1961, ele formou o grupo The Pendletones com Carl, Dennis, seu primo Mike Love e Al Jardine, vizinho da família. O primeiro single do grupo, “Surfin’” se tornou um hit local em Los Angeles e atingiu a 75ª posição da Billboard. Entretanto, o compacto não foi lançado sob o nome que eles deram ao selo Candix Records. A gravadora os rebatizou como os Beach Boys.

Os Beach Boys assinaram com a Capitol Records em 1962 e deram início a um período de sucesso estrondoso. Apesar disso, Brian se retraiu cada vez mais do resto da banda. O estresse de ser o principal compositor afetava sua saúde mental. Ele abandonou a estrada após um colapso nervoso durante um voo em dezembro de 1964.

A partir dali, Brian se tornou uma presença exclusivamente de estúdio, e isso fez com que seu gênio musical desabrochasse. O músico era um fã confesso do estilo de produção de Phil Spector, com sua wall of sound, e desejava incorporar mais elementos orquestrais ao vocabulário da música pop.

O primeiro resultado dessa exploração foi Pet Sounds. O álbum de 1966 viu os Beach Boys adotarem uma sonoridade mais elaborada, diferente do surf rock dos seus primórdios. Apesar de hoje ser considerado um dos maiores discos de todos os tempos, o fato de ter alcançado somente o 10º lugar nas paradas americanas significou fracasso absoluto nos olhos de Brian.

Ele redobrou seus esforços para fazer uma obra ainda mais ambiciosa, capaz de condensar todas as regiões, estilos musicais e história dos Estados Unidos em um álbum só, batizado “Smile”. O primeiro single, “Good Vibrations”, foi para a época o compacto mais caro da história, custando estimadas dezenas de milhares de dólares.

Pouco importou. A canção – um triunfo absoluto do formato pop – chegou ao topo das paradas, justificando a ambição de Brian. Ele havia provado a capacidade de elevar a música de sua geração ao patamar dos clássicos. Mas ele não estava sozinho.

Rivalidade e desestabilização

Nesse período, Brian se via numa rivalidade ferrenha com outro grupo de sucesso, os Beatles. O músico viu a British Invasion como uma ameaça à hegemonia dos Beach Boys. A evolução criativa do quarteto de Liverpool apenas o incentivou a superá-los em todo quesito.

Apesar do sucesso de “Good Vibrations”, ele se viu derrotado quando em 1967 dirigia seu carro e “Strawberry Fields Forever” começou a tocar no rádio. Brian descreveu a situação anos depois (via X/Twitter):

“Quando ‘Strawberry Fields Forever’ começou a tocar no rádio, eu fiquei pasmo. Precisei parar o carro no acostamento e falei para mim mesmo: ‘Nunca ouvi algo assim na minha vida’.”

O resto das gravações de “Smile” começou a se arrastar. Brian há alguns anos fazia uso copioso de LSD e exibia comportamento errático. Por vezes era extremamente perfeccionista, a ponto de se preocupar com detalhes minúsculos da orquestra tocando no estúdio; em outros momentos adotava um tom de brincadeira capaz de fazer as sessões saírem completamente dos trilhos.

O segundo single do álbum, “Heroes and Villains”, saiu quase nove meses após o lançamento de “Good Vibrations” e não teve o mesmo sucesso de seu antecessor. O estado mental de Brian se deteriorou a tal ponto dele abandonar as gravações e “Smile” ser engavetado.

Surge uma figura complicada

Os anos seguintes foram um período complicado para Brian Wilson. Lendas urbanas corriam pela cidade sobre seus hábitos, peso e saúde mental no início da década de 1970, até o músico ressurgir sob os holofotes em 1976. O problema era que a partir dali uma figura problemática se tornou uma parte enorme de sua vida.

Brian se tornou paciente do psicólogo Eugene Landy. Inicialmente, conseguiu melhorar a ponto de poder sair em turnê com os Beach Boys, então um grupo cujo sucesso era passado. Entretanto, o consumo inveterado de drogas do músico fez seus irmãos ficarem preocupados com sua saúde. Chegaram ao ponto de o fazerem assinar uma procuração concedendo ao doutor controle total sobre todos os aspectos de sua vida em 1982.

Landy passou os anos seguintes cobrando quantias astronômicas por seus serviços enquanto receitava remédios que deixavam Brian removido da realidade. Algum tempo depois, o músico se desvencilhou dessa situação. Mesmo assim, ele se manteve longe dos holofotes devido a seu estado mental e diversos processos em curso no qual estava envolvido.

Valor a Brian Wilson

Eventualmente, contudo, o mundo deu a Brian Wilson seu valor adequado. Em 1998, “Pet Sounds” foi incluído no Grammy Hall of Fame, e seis anos depois, na Library of Congress por sua relevância histórica e cultural.

No mesmo ano, 2004, ele lançou “Brian Wilson Presents Smile”, uma versão reimaginada de sua obra prima perdida. O álbum chegou à 13ª posição da Billboard, 7º lugar nas paradas britânicas e foi indicado ao Grammy.

Desde então, Brian saiu em turnês esporádicas e exibiu sinais de melhora. Ele finalmente teve o reconhecimento que merecia e pôde aproveitar a paz de espírito de colocar seus demônios para trás.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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