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Paradise Lost realiza show sombrio, denso e inesquecível no Bangers Open Air

Num festival dominado por espadas e épicos grandiloquentes, ingleses escolhem a introspecção como arma — e acertam em cheio

A importância do Paradise Lost pode ser medida tanto por seu pioneirismo na consolidação do death/doom e do gothic metal quanto pelo peso mastodôntico de “Draconian Times” (1995), obra-prima que moldou o que hoje se entende como melancolia em sua forma sonora mais visceral. E foi com “Enchantment”, faixa de abertura desse clássico, que os britânicos deram início à sua apresentação no Ice Stage, durante o domingo (4), último dia do Bangers Open Air 2025, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

A formação atual trouxe Nick Holmes (vocal), Greg Mackintosh (guitarra solo), Aaron Aedy (guitarra base), Stephen Edmondson (baixo) e Guido Zima Montanarini (bateria). Mackintosh, com seu visual inconfundível — cabeça raspada e sorriso tímido —, parecia em dissonância com o peso existencial da música que executava. A contradição, no entanto, faz parte do charme da banda, que transforma dor em catarse. Prova disso é “Forsaken”, cuja letra reverbera com intensidade em quem ouve com o coração aberto para o sombrio.

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Foto: Rogério von Krüger / MHermes Arts

Após um breve cumprimento de Holmes — de boné e voz soturna, como manda o figurino —, foi a vez de “Pity the Sadness” escaldar o público. Com sua pegada mais agressiva e cadência quase thrash em alguns trechos, a faixa evidenciou o lado mais metálico da banda, gerando um mar de punhos erguidos ao som do tradicional “hey, hey, hey!” entoado por fãs veteranos e neófitos.

No presente — e talvez eterno — cabo de guerra entre fé e ceticismo, a faixa-título de “Faith Divides Us – Death Unites Us” (2009) soou incrivelmente atual. O tema da música, que versa sobre divisões existenciais e a busca por sentido em meio à desesperança, encontrou eco em um público que parece cada vez mais imerso em tempos incertos.

Foto: Rogério von Krüger / MHermes Arts

Do seminal “Gothic” (1991), um dos álbuns fundadores do gothic metal, o resgate veio com “Eternal”. Com seus riffs arrastados, vocais cavernosos e atmosfera lúgubre, a canção remete a uma época em que a banda ainda moldava sua identidade. Já “No Hope in Sight”, de “The Plague Within” (2015), talvez tenha sido o momento mais devastador da noite: uma marcha fúnebre revestida em beleza trágica, ilustrando o niilismo que permeia a fase mais recente do grupo.

Foto: Rogério von Krüger / MHermes Arts

Mas nenhuma dessas faixas despertou tamanha comoção quanto “The Last Time”, single emblemático de “Draconian Times”. Cantada a plenos pulmões, foi o ponto de virada emocional da performance, fazendo jus ao status de hino. E, lógico, não faltou “As I Die”. Campeã absoluta em execuções ao vivo, ela provou por que permanece no repertório da banda desde 1992: é a síntese perfeita do Paradise Lost, onde peso, melodia e angústia coexistem em harmonia desoladora.

Foto: Rogério von Krüger / MHermes Arts

Num festival dominado por espadas e épicos grandiloquentes, o Paradise Lost escolheu a introspecção como arma. E acertou em cheio. Afinal, não é todo dia que a tristeza encontra uma trilha sonora tão bela.

**Este conteúdo faz parte da cobertura Bangers Open Air 2025 — clique para conferir outras resenhas com fotos e vídeos.

Foto: Rogério von Krüger / MHermes Arts

Repertório — Paradise Lost no Bangers Open Air 2025

  1. Enchantment
  2. Forsaken
  3. Pity the Sadness
  4. Faith Divides Us – Death Unites Us
  5. Eternal
  6. One Second
  7. The Enemy
  8. As I Die
  9. Smalltown Boy (cover de Bronski Beat)
  10. The Last Time
  11. No Hope in Sight
  12. Say Just Words

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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