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Black Pantera “bota pra f#der” e reforça seu protagonismo no Bangers Open Air

Maior nome do metal brasileiro atual fez muita gente chegar cedo ao festival para assistir a seu show, que é tão musical quanto político

Em um festival com múltiplos palcos e atrações se apresentando simultaneamente, um bom termômetro para medir a relevância de um artista nacional é a quantidade de público que ele consegue mobilizar mesmo quando há uma banda internacional — teoricamente mais rara — tocando no mesmo horário. Para quem ainda duvida do protagonismo do Black Pantera no atual cenário do metal brasileiro, bastava observar a massa de pessoas reunida diante do Sun Stage ao meio-dia do último dia do Bangers Open Air 2025, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

Sob o sol inclemente e o calor digno de uma fornalha, uma multidão se aglomerava diante do trio mineiro, formada por fãs fervorosos e curiosos de olhar desconfiado prestes a serem convertidos pela força de um show que é tão musical quanto político. Porque, por mais cristalina que seja a mensagem — não basta não ser racista, misógino ou LGBTfóbico, é preciso combater ativamente todo e qualquer preconceito —, ela ainda encontra resistência em um meio dominado por homens, brancos, cis e heterossexuais, onde bandeiras progressistas muitas vezes são tratadas com desdém.

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Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Formado pelos irmãos Charles Gama (guitarra e vocais) e Chaene da Gama (baixo e vocais) e pelo baterista Rodrigo “Pancho” Augusto, o Black Pantera carrega na música e na postura a consciência afiada de quem não faltou à aula de história. Mais do que músicos, são militantes em pleno exercício de sua arte. A mensagem antirracista, feminista e anti-homofobia que permeia suas letras não é panfletária — é visceral, vivida, urgente. E se engana quem pensa que isso diminui a força do show. Ao contrário: potencializa.

A apresentação foi um verdadeiro tsunami de riffs e atitude, com momentos de puro enfrentamento convertidos em catarse coletiva. A pancada sonora de faixas como “Seleção Natural” e “Sem Anistia” só encontra paralelo no impacto de sua mensagem. Lá pelas tantas, a já aguardada roda de pogo só com mulheres se formou — incentivada pela banda — em um gesto simbólico de inclusão e resistência num espaço historicamente hostil à presença feminina.

Em outro momento, o público se dividiu para um wall of death — uma espécie de coreografia de confronto corporal típica dos shows de metal, semelhante aos bailes de corredor do funk carioca, mas aqui com uma regra clara: “Se o coleguinha cair, a gente levanta”, ensinou Charles, em tom didático e afetuoso. O recado foi entendido — e cumprido — com entusiasmo e respeito.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

A saideira ficou por conta de “Boto pra F#der”, hino de afirmação que sintetiza bem a potência de um show que é ao mesmo tempo mosh e militância, pedal duplo e posicionamento, suor e consciência. Mas a verdade é que eles já tinham botado pra f#der desde o primeiro acorde.

Quem ainda questiona se o Black Pantera é o maior nome do metal brasileiro na atualidade provavelmente ficou preso em 2001 — e esqueceu que o mundo gira, e o metal também.

**Este conteúdo faz parte da cobertura Bangers Open Air 2025 — clique para conferir outras resenhas com fotos e vídeos.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Repertório — Black Pantera no Bangers Open Air 2025

  1. Candeia
  2. Provérbios
  3. Padrão é o c#ralho
  4. Seleção Natural
  5. Ratatatá
  6. Mosha
  7. Perpétuo
  8. Tradução
  9. A Horda
  10. Sem anistia
  11. Revolução é o caos
  12. Boto pra f#der

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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