Quando entrevistei Tobias Sammet em novembro de 2022, uma das perguntas girou em torno do futuro do Edguy. Embora tenha floreado a questão, o que eu realmente queria saber era: quando uma das bandas mais cativantes da leva noventista do hard ‘n’ heavy alemão voltaria à ativa? Com o media training em dia, Tobias preferiu não cravar uma resposta, mas poderia muito bem ter dito: “pra quê voltar?”. “No Avantasia, eu não só posso trabalhar com mais liberdade, como também tomo todas as decisões sem precisar justificar cada uma delas”, explicou. “No tempo que levo para finalizar um riff com o Edguy, componho e gravo quatro músicas para o Avantasia! [Risos.] Às vezes é difícil encontrar um denominador comum, e é por isso que projetos solo como este fluem melhor.”
A sinceridade do alemão ajuda a entender por que o Avantasia atingiu um patamar com o qual o Edguy jamais sonhou: headliner de grandes festivais, palcos monumentais ao redor do mundo e uma base de fãs que extrapola os limites do power e symphonic metal. Ainda que os álbuns recentes sigam certa fórmula — com composições moldadas aos convidados, alguns deles presenças recorrentes —, o projeto mantém uma aura de grandiosidade que conquistou até mesmo ouvintes casuais.
No encerramento do Bangers Open Air 2025, Tobias Sammet e companhia entregaram um espetáculo de altíssimo nível, marcado pela coesão da banda base e pelo carisma avassalador de seu criador. “A única regra desta noite é: toda vez que eu disser ‘São Paulo’ ou ‘Brasil’, vocês gritam, ok?”, disse Tobias, recebendo como resposta uma onda sonora que varreu o Memorial da América Latina.
A sequência de convidados seguiu o padrão milimetricamente orquestrado pelo maestro. A primeira a surgir foi Adrienne Cowan, vocalista do Seven Spires, que já chegou com força total em “Reach Out for the Light”, segunda música do set. Na sequência, vieram astros de maior ou menor estatura, mas todos com importância dentro da trajetória do projeto – ou do metal como um todo.
O sueco Tommy Karevik, vocalista do Kamelot e presença constante no Avantasia desde 2013, subiu ao palco para a nova “The Witch”, em sua terceira participação no festival após as apresentações do grupo americano em dois dias seguidos. Herbie Langhans (Firewind, ex-Seventh Avenue), conhecido por sua voz rouca e poderosa, deu as caras em “Devil in the Belfry”. Já Eric Martin (Mr. Big) foi responsável por reviver sua interpretação de Klaus Meine (Scorpions) em “Dying for an Angel”, e dividiu os vocais de “Twisted Mind” com Ronnie Atkins (Pretty Maids). Esta última, um dos destaques do álbum “The Scarecrow” (2008), teve seu impacto sonoro praticamente engolido pelo público, que cantou tão alto que por vezes abafava os vocais. No total, seis faixas do citado disco foram executadas, incluindo a catártica faixa-título, que em seus quase 12 minutos prendeu a atenção do público do início ao fim, com olhares fixos, celulares no alto e emoções à flor da pele.
O segundo disco mais celebrado foi “Here Be Dragons”, último trabalho de estúdio da banda. Ao anunciar “Avalon”, Tobias notou certa frieza na plateia e tratou de ensinar a etiqueta dos shows: “Toda vez que uma banda apresentar uma música do seu disco mais recente, vocês finjam empolgação. Só assim a gente continua gravando discos e voltando pra cá!”, brincou. O comentário bem-humorado serviu para energizar a audiência, que respondeu à altura na performance seguinte, encabeçada por um vocalista teatral e excêntrico, herdeiro direto da escola de Alice Cooper – quase um chapeleiro louco esotérico em meio a portões góticos e bolas de fogo.
Pois sim, onde há dragões, há fogo. Se o Sabaton economizou na pirotecnia na véspera, o Avantasia fez o contrário: foram chamas, efeitos de luz, estruturas móveis e todo o aparato necessário para transformar o palco em uma ópera metalizada de fantasia e excessos.
Em um dos momentos mais emotivos da noite, “Shelter from the Rain”, com Jeff Scott Soto dividindo os vocais com Tobias, trouxe aquele tipo de arrepio coletivo que só grandes refrãos conseguem provocar. Logo depois, ao anunciar “Let the Storm Descend Upon You”, Tobias fez piada: “Que Deus não leve isso ao pé da letra!”, em alusão à ameaça de temporal repentino que ronda São Paulo desde que o mundo é mundo.
No bis, a balada “Lost in Space” uniu vozes e corações, preparando o terreno para o grand finale: um medley épico de “Sign of the Cross” e “The Seven Angels”, com todos os convidados no palco em clima de confraternização. A performance, além de impecável, pareceu um agradecimento coletivo por uma noite memorável.
Ao fim de tudo, ficou claro: Tobias Sammet não lidera apenas um projeto. Ele comanda um império de sonhos em formato de canção — e, ao menos no Brasil, seu trono está garantido por muito tempo. Edguy pra quê?
**Este conteúdo faz parte da cobertura Bangers Open Air 2025 — clique para conferir outras resenhas com fotos e vídeos.
Repertório — Avantasia no Bangers Open Air 2025
- Creepshow
- Reach Out for the Light (com Adrienne Cowan)
- The Witch (com Tommy Karevik)
- Devil in the Belfry (com Herbie Langhans)
- Dying for an Angel (com Eric Martin)
- Twisted Mind (com Eric Martin e Ronnie Atkins)
- Avalon (com Adrienne Cowan)
- The Scarecrow (com Ronnie Atkins)
- The Toy Master
- Shelter from the Rain (com Jeff Scott Soto)
- Farewell (com Chiara Tricarico)
- Let the Storm Descend Upon You (com Herbie Langhans e Ronnie Atkins)
- Death is Just a Feeling
Bis:
- Lost in Space
- Sign of the Cross / The Seven Angels (todos os convidados no palco)
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