Steve Di Giorgio já elogiou publicamente o Metallica. No passado, o baixista do Testament citou a banda como uma das responsáveis por continuar perpetuando o legado do metal ao lado de nomes como Slayer, Megadeth e Anthrax. Ainda assim, o músico acredita que James Hetfield e companhia causaram um problema na música pesada durante a década de 1990.
Em entrevista concedida ao canal D’Addario and Co., o artista afirmou que o disco “…And Justice for All” (1988) atuou como o principal responsável pelo apagamento do baixo nos trabalhos da época. Uma das características mais marcantes do álbum é justamente o instrumento quase inaudível de Jason Newsted na mixagem final.
Conforme transcrição do Ultimate Guitar, Steve explicou:
“Chegaram os anos 90 e surgiu esse novo padrão de os baixistas serem rebaixados, jogados para o fundo, praticamente apagados da mixagem. Isso já vinha acontecendo antes de ‘…And Justice for All’, do Metallica, mas esse é o exemplo mais famoso de um álbum onde o baixo foi praticamente eliminado na gravação. A combinação desse disco com aquele período e aquele estilo levou o baixo a um ponto em que era quase vergonhoso. Isso me motivou a tocar de forma ainda mais exagerada e dar um motivo para o baixo voltar à mixagem.”
Ainda que sem citar o Metallica diretamente, Steve também mencionou a questão durante uma entrevista à Bassplayer (via Wayback Machine) em 2012. Na ocasião, o músico aproveitou para reforçar a importância do baixo dentro de uma banda, dizendo:
“Aconteceu gradualmente, ao longo de um curto período de tempo, mas, de repente, os baixistas simplesmente não estavam mais sustentando sua parte na banda. Odeio soar tão convencido, mas eram simplesmente baixistas muito ruins. Talvez fossem bons músicos, mas o que eles traziam para as gravações simplesmente não era bom o suficiente e acabavam sendo apagados […]. E isso é uma droga, porque todos nós fomos influenciados pelos mesmos baixistas de hard rock e metal dos primórdios. Você consegue imaginar tirar a linha de baixo de qualquer música do ‘Blizzard of Ozz’ [álbum de Ozzy Osbourne] ou de qualquer coisa do Rainbow, Black Sabbath ou Iron Maiden? Se você remover o baixo de qualquer uma dessas músicas, você sequer a reconheceria? Led Zeppelin, tantas bandas… O baixo não está apenas segurando a base, ele está criando uma parte essencial da música.”
Jason Newsted e “…And Justice For All”
O baixo de Jason Newsted no álbum “…And Justice For All” (1988), do Metallica, ficou praticamente inaudível na mixagem final, passando despercebido por quem o escuta. Em entrevista de 2021 à Metal Hammer, o músico admitiu que ficou revoltado na primeira vez em que ouviu o resultado. No entanto, ele acabou por “defender” a opção sonora feita pelo vocalista/guitarrista James Hetfield e pelo baterista Lars Ulrich:
“Lars e James eram a dupla original da banda ainda nos tempos de garagem. Eles sempre fizeram as gravações dessa maneira, desde (a demo de 1982) ‘No Life ‘Til Leather‘, eram Lars e James, guitarra e bateria. Na fita original, há a caligrafia de Lars, em caneta de tinta, na embalagem, dizendo: ‘abaixe o baixo no estéreo’. Já naquela época!”
Ao mesmo tempo em que revela ter compreensão da situação, Newsted também não exime a culpa de Ulrich. Ainda dentro do exemplo da demo de 1982, o baixista comentou que a banda deixou ordens explícitas para que o volume do instrumento, ainda tocado pelo integrante original Ron McGovney, fosse diminuído antes da audição.
“De início, acabaram mixando ‘No Life ‘Til Leather’ da forma correta: tem o baixo e tem a guitarra. Mas Lars não queria, pois mexeu com a bateria de alguma forma. Quando ele envia a demo para a gravadora, Combat Records, a instrução é: ‘abaixe o baixo antes mesmo de ouvir isso’. Antes mesmo de começar, apenas abaixe o baixo. Desde o início. Antes mesmo de começar.”
Ao ser questionado sobre, Lars disse que nada ocorreu de forma intencional. Conforme a Rolling Stone, o baterista argumentou em 2008:
“‘Justice’ era ‘O Show de James e Lars’ do início ao fim, mas não era algo tipo: ‘f*da-se esse cara, vamos reduzir o volume do baixo’. Era algo mais como: ‘estamos mixando, então, vamos dar um tapinha nas nossas costas e aumentar a guitarra base e a bateria’. Mas transformamos tudo isso até um ponto em que o baixo desapareceu.”
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