No próximo dia 9 de maio, o Beat realiza show único no Brasil, mais especificamente no Espaço Unimed, em São Paulo. Criado em 2023 pelo vocalista e guitarrista Adrian Belew, o supergrupo celebra os três primeiros álbuns lançados pelo King Crimson nos anos 1980: “Discipline” (1981), “Beat” (1982) e “Three of a Perfect Pair” (1984).
A formação ainda conta com outro ex-integrante da banda original, o baixista Tony Levin – que também toca com Peter Gabriel. Completam o lineup o guitarrista Steve Vai e o baterista Danny Carey (Tool).
Antes dessas apresentações, produzidas pela Mercury Concerts, este que vos escreve pôde conversar com Belew a respeito da visita ao Brasil e alguns outros assuntos. O bate-papo saiu na Rolling Stone Brasil (leia a íntegra aqui), mas vale trazer algumas respostas para o site IgorMiranda.com.br.
Entrevista com Adrian Belew (Beat, ex-King Crimson etc)
Igor Miranda: A turnê do Beat percorreu a América do Norte em 2024, com mais de 60 shows realizados. Como tem sido a reação do público até agora?
Adrian Belew: “Tem sido incrível. Acho que até mais do que qualquer um de nós esperava. Não sabíamos o que esperar. Eu sabia que haveria fãs jovens e velhos que queriam ver, mas a resposta foi muito melhor do que qualquer coisa. Foi o que nos fez dizer um ao outro: ‘temos que levar isso ao redor do mundo agora, é bom demais para parar’. Então, nossa primeira parada fora dos Estados Unidos é a América do Sul. Estou muito animado. Também iremos para a Ásia no final deste ano. E em 2026 faremos a Europa e voltaremos para os Estados Unidos. Levei cinco anos para montar esta banda. Esta é exatamente a banda que eu queria que tocasse essa música. Acho que é uma banda fantástica. Todos na banda amam a música e estão muito envolvidos nela. Nos divertimos muito no palco. Acho que há mais diversão do que o King Crimson já teve.”
IM: Antes de você convidar Steve Vai e Danny Carey, você chamou Robert Fripp e Bill Bruford (que faziam parte do King Crimson naqueles tempos). Já paruo para pensar como teria sido se eles tivessem aceito o convite?
AB: “Sim, já pensei sobre isso. Acho que falando apenas do lado financeiro, teria sido inacreditável. Teríamos ganhado muito mais dinheiro. Não estou reclamando, estou feliz com o que estou ganhando. Só acho que eles deixaram a oportunidade passar. Acho que as pessoas teriam ficado ainda mais empolgadas. Mas as pessoas também se empolgaram com o Beat. Creio que seja até melhor para mim, pois tem mais frescor desse jeito. É algo novo. Tem uma sensação diferente. Tem um swing, mais groove. Acho que a química muda por ter todos os músicos vindo dos Estados Unidos. Algumas pessoas me disseram até que gostam mais assim.”
IM: Em outra entrevista, você disse que Danny é o mais próximo que chegaríamos de Bill entre todos os outros bateristas, e que Steve Vai era a única pessoa em quem você conseguia pensar para esta banda. Como tem sido trabalhar com esses dois?
AB: “Desde o começo, conversei com cada um deles e deixei claro que queria apenas que eles aprendessem as coisas essenciais das músicas — as coisas que todos querem ouvir, como partes de guitarra interligadas e certas viradas de Bill. Fora isso, realmente quero ouvir muito de Steve Vai e muito de Danny Carey. Queria que a banda fosse além de apenas tocar igual aos discos. A ideia é explorar o espírito da música. Quando você tem músicos tão bons assim, o público realmente vai querer ouvir Steve Vai e Danny Carey tocando do jeito que eles tocam. E nunca vi Tony tão feliz. Ele realmente ama fazer isso e está tocando e cantando melhor do que nunca.”
IM: Steve disse em uma entrevista recente que o Beat está aberto a criar material inédito junto. O que você pode nos contar sobre isso?
AB: “Não é algo que discutimos muito. Nosso primeiro objetivo é dar a volta ao mundo com essa turnê mundial. Levaremos até quase o fim de 2026 para finalizarmos as turnês. Não acho que queremos definir nenhuma meta além disso. Mas quem sabe? Depois de fazermos tudo na turnê mundial, podemos sentar juntos e decidir se é algo a que cada um de nós pode dedicar tempo suficiente. Adoraria, mas se não acontecer, não ficarei muito decepcionado. Já estou emocionado com o que estamos fazendo.”
IM: Já que estamos falando sobre ideias, existe alguma ideia de expandir esse lineup para tocar material dos álbuns dos anos 1990 e 2000 — “Thrak” (1995), “The ConstruKction of Light” (2000) e “The Power to Believe” (2003) —, como no lineup Double Trio (com dois guitarristas, dois baixistas e dois bateristas no disco de 1995)?
AB: “Há algumas músicas de outros álbuns que eu adoraria nos ver tocando. Amamos o que estamos fazendo, não sentimos que precisamos mudar. Mas se tivermos tempo para ensaiar em algum lugar, talvez eu queira tentar tocar algumas das músicas que não exijam que a banda seja de seis integrantes. Há maneiras de tocar uma música como ‘Dinosaur’ sem ter dois baixistas e dois bateristas. Já fiz isso antes. Quanto a adicionar outros membros, não acho que queremos fazer isso, até porque seria apenas para algumas músicas.”
IM: Quando você olha para o catálogo completo do King Crimson, como você acha que aqueles três álbuns dos anos 1980 se encaixam na discografia? Que legado você acha que esses três álbuns deixam?
AB: “Só posso acreditar no que os fãs dizem pessoalmente ou no Facebook: parece que são os favoritos deles, que esta fase é a favorita da maioria dos fãs. Acho que o legado dessa fase continua sendo o fato de que aquela banda surgiu e fez algo soar como ninguém jamais havia feito antes. E ainda soa moderno hoje. Acho que esse é o legado: é atemporal. Tem seu próprio lugar, porque ninguém nunca fez aquilo antes ou depois.”
IM: Por curiosidade… você trabalhou com David Bowie, Robert Fripp, Frank Zappa e David Byrne. Qual desses gênios era o mais difícil de se trabalhar junto?
AB: “Nenhum. Quando se desenvolve um relacionamento de trabalho, cria-se uma amizade. Antes que você perceba, vocês são melhores amigos. Dessa forma, você pode discordar de algo dito, mas isso não significa nada para sua amizade. Muitas pessoas acham que Robert é muito difícil — e eu acho que ele pode ser —, mas ele me deu total incentivo para fazer o que eu achasse para as músicas. Se eu dissesse: ‘não, a música tem que ser assim’, ele me apoiava. As pessoas acham que não nos damos bem, mas não é verdade, somos grandes amigos. É o caso dos demais.
Não vejo David Byrne tanto, mas minha relação era muito próxima. Fiz duas turnês pelo mundo com David. Na segunda vez, em 1990, nos divertimos muito como amigos porque tocávamos a cada três dias por causa da montagem de palco. Levava dois dias para montar o palco. Onde quer que fôssemos, tínhamos dois dias de folga. Íamos a museus e restaurantes e nos divertíamos muito. Ele se tornou um grande amigo.”
*Leia na Rolling Stone Brasil o artigo original, com mais declarações e informações contextualizadas.
**No próximo dia 9 de maio, o Beat realiza show único no Brasil, mais especificamente no Espaço Unimed, em São Paulo. Ingressos na Eventim.
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É minha fase preferida do King Crimson, mas conheço pessoal que não gosta, a sonoralidade não tão rock afasta alguns que preferem Red e os dois primeiros albuns. Mas eu sempre achei King Crimson vanguardista.