“Comfortably Numb” é um dos maiores sucessos do Pink Floyd. Terceiro e último single de “The Wall” (1979), a música também representa um dos grandes embates entre Roger Waters e David Gilmour, que assinaram juntos a composição e que, até hoje, discordam sobre a contribuição de cada um.
A ideia original veio do guitarrista, que trabalhava na música para seu primeiro álbum solo, homônimo, lançado em 1978. O músico chegou a definir “minha música, letra dele”, durante entrevista para a revista Mojo.
No documentário “David Gilmour: Wider Horizons” (2015), Gilmour relembrou o processo de criação e mostrou uma demo da canção. A maior surpresa da versão inicial é a letra, diferente da contida no resultado final e, curiosamente, composta pelo próprio guitarrista.
Diz o que parece o refrão – com trecho semelhante posteriormente usado em “Yet Another Movie”, presente no disco “A Momentary Lapse of Reason” (1987):
“Put it on the line; put it to the test (coloque tudo em jogo; ponha à prova)
I’m just the same as all the rest (sou igual a todos os outros)
I’m not the worst, but I’m not the best (não sou o pior, mas também não sou o melhor)
There’s nothing to live and nothing to die for (não há nada pelo que viver, nada pelo que morrer)
There is no future, no past to cry for (não há futuro, nem passado para lamentar)
I’m just dust floating away in the wind (sou apenas poeira flutuando ao vento).”
No registro, o guitarrista comentou que nem se lembrava de ter escrito uma letra para a música. Como se sabe, foi Waters quem assumiu a parte lírica da faixa, inspirado por duas experiências pessoais.
A inspiração por trás de “Comfortably Numb”
Para Roger Waters, a contribuição de David Gilmour foi menor. O baixista declarou para a Mojo que o ex-colega trouxe apenas a ideia base, alegando ter desenvolvido a maior parte do trabalho musical restante, além da letra. Ele afirmou:
“David me deu uma sequência de acordes, então se você quer brigar sobre isso – e eu não quero brigar sobre isso –, eu poderia dizer que compus a melodia e toda a letra, obviamente. Acho que nos refrãos ele cantarolou um pedaço da melodia, mas nos versos certamente não. Isso nunca foi um problema para mim, acho que é uma ótima sequência de acordes.”
A letra de “Confortably Numb” é uma das poucas coisas sobre a faixa que não gera discussão. Assim como todo o conceito de “The Wall”, ela foi ideia de Waters e faz um paralelo entre duas situações vividas por ele.
A primeira, na infância, foi quando ele teve uma febre, acompanhada pela sensação de tranquilidade. Foi daí que veio o verso “When I was a child I had a fever / My hands felt just like two balloons” (“Quando eu era criança, tive uma febre / sentia minhas mãos como dois balões”).
A segunda situação aconteceu em um show em 1977, quando Waters estava doente e sentia fortes dores estomacais. Ele relembra:
“Isso veio de um show específico no Spectrum, na Filadélfia (29 de junho de 1977). Eu tinha dores de estômago tão fortes que achei que não seria capaz de tocar. Um médico no backstage me deu uma injeção de alguma coisa que eu juro por Deus que poderia ter matado uma p*rra de um elefante. Fiz o show inteiro com dificuldade para levantar a mão acima do joelho. Ele disse que era um relaxante muscular, mas me deixou quase insensível. Foi tão ruim no fim do show que o público estava pedindo mais. Eu não conseguia. Eles fizeram o bis sem mim.”
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