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O vocalista que os críticos queriam enfiar no AC/DC, segundo Malcolm Young

De acordo com saudoso guitarrista, mídia especializada queria que banda substituísse Bon Scott por "vocalista que não gritasse o tempo todo"

Após a morte de Bon Scott em 1980, o AC/DC lidou com a difícil missão de encontrar outro vocalista. Porém, antes mesmo do falecimento do cantor, conversas sobre substituições já rolavam na mídia — e apenas nela. Segundo o saudoso Malcolm Young, os críticos queriam colocar a todo custo um artista em específico na banda.  

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Conversando com a extinta revista Metal CD em 1992, o guitarrista opinou que o talento de Scott era subestimado e pouco reconhecido. Isso era evidente porque, em suas palavras, os profissionais especializados batiam na tecla de que o grupo deveria contratar “um vocalista que não gritasse o tempo todo” e trocar o cantor por alguém como David Coverdale, à época notório por ter integrado o Deep Purple.

Conforme resgatado pela Classic Rock, o músico contou:  

“Depois de ‘Highway to Hell’, alguns críticos começaram a perceber que Bon realmente tinha talento. Então, quando ele morreu, de repente todos passaram a dizer que ele havia sido um grande artista. E esses eram os mesmos caras que, dois anos antes, diziam que nos sairíamos muito melhor com um vocalista que não gritasse o tempo todo. Diziam que deveríamos dispensar o Bon e arranjar alguém como David Coverdale! O que mais me machucou foi que Bon nunca recebeu o reconhecimento que merecia enquanto estava vivo.”

Diante da partida de Scott, Malcolm cogitou o fim do AC/DC. Na cabeça do integrante, não fazia sentido tocar com outra pessoa — o que eventualmente aconteceu com Brian Johnson.

Mencionando o próprio Coverdale como exemplo, ele contou em entrevista concedida em 1995 resgatada pela Rolling Stone Austrália

‘Back in Black’ é um álbum que nos orgulhamos porque achamos que era o fim da banda, para ser honesto. Eu e Angus estávamos juntos há duas semanas improvisando [ideias para o álbum], e depois [da morte de Bon] pensamos, ‘bem, acabou’. Eu simplesmente não conseguia ver David Coverdale cantando com a banda, entende?”

AC/DC e David Coverdale

Em janeiro de 1975, um AC/DC conhecido apenas em seu país enfrentou um Deep Purple já consagrado mundialmente. Com Ritchie Blackmore (guitarra), David Coverdale (vocais), Glenn Hughes (baixo e vocais), Jon Lord (teclados) e Ian Paice (bateria) na formação, o Purple se encaminhou para a Austrália para participar do Sunbury Festival.

De última hora a presença da banda se tornou incerta e os organizadores recorreram ao AC/DC, assim como relatado por Angus Young via Ultimate Classic Rock.

“Estávamos tocando em um pub no sábado e um empresário nos chamou e disse: ‘escutem, vocês podem ir a este lugar em Sunbury?’ O cara que estava promovendo estava um pouco preocupado. Ele disse: ‘não parece que o Deep Purple vai subir no palco’. Ele estava um pouco preocupado que ninguém fosse aparecer e não queria que os jovens se revoltassem. Então ele pensou: ‘Bem, vou pegar o AC/DC e talvez eles possam mantê-los controlados.’
[…] E o cara nos deixou lá, tinha um cara que nos levou até lá e ele chegou lá, deu uma olhada em como estava o festival, cheio de gente e lama, e disse, ‘Vocês estão por sua conta agora, pessoal, eu não vou entrar aí’. O táxi nos deixou na lama.
Então, eu desci e nós andamos no meio dos jovens e tudo mais, demos a volta no lugar inteiro — devemos ter andado mais de 2 quilômetros e meio até chegar no palco. Aí, assim que chegamos lá, todos esses carros, todos esses Rolls-Royce começaram a aparecer. Era o Deep Purple, e eles decidiram que eles iam tocar.”

Com as duas bandas presentes e agendadas para se apresentar no mesmo horário, foi iniciada uma confusão generalizada nos bastidores. O guitarrista relembrou o momento com bom humor.

“Bom, nos avisaram que iríamos tocar às nove horas ou algo assim. Enfim, até onde sabíamos tudo estava resolvido. Aí, de última hora, algo aconteceu — alguém disse que alguém deu um soco no nosso empresário, um dos caras da turnê do Deep Purple. E aí… estávamos todos juntos nessa caravana, nos arrumando, e eu lembro que todos saímos correndo.
E foi bem engraçado, de uma certa forma. Nós chegamos lá e tinha um cara que estava dirigindo uma empilhadeira, um trabalhador comum, e ele veio correndo com a gente e disse, ‘Eu vou ajudar vocês.’ Então chegamos no palco e — porque eu me lembro que eles estavam cercados por um monte de seguranças enormes — e ele jogou uns equipamentos em algum cara grande e o nocauteou.
E aí o Bon [Scott] pegou um cara no mata-leão e o cara estava girando ele no ar. [risos] E o Bon estava gritando, ‘Não se preocupem, pessoal, eu cuido desse aqui!’ [risos] E o Bon estava girando!”

No fim das contas o Deep Purple se apresentou e deixou o AC/DC de fora do festival.

“Enfim, tivemos meio que um impasse. E o produtor disse: ‘o Deep Purple vai tocar agora, e vocês podem tocar depois’. E nós pensamos: ‘beleza, vamos dar o benefício da dúvida.’ Então, o Deep Purple foi lá, fez o show deles, e aí depois… eu acho que eles só terminaram o show antes e saíram, e aí eles começaram a tirar os equipamentos. E aí o produtor começou a brigar com eles, porque ele estava dizendo, ‘Bom, é um festival contínuo. E os jovens estão esperando para ver essa banda o dia todo’, no caso o AC/DC. E aí começou tudo de novo.”

Por outro lado, a versão do Deep Purple tem um desfecho diferente. Conforme publicado pelo Blabbermouth, David Coverdale afirmou que o AC/DC subiu no palco naquela noite. 

“Depois de uma performance aquém do satisfatório, nós deixamos o palco, entramos em nossos carros e começamos a sair do local. De repente nós ouvimos música vindo do palco. Aparentemente, uma jovem banda australiana tinha subido no palco, se plugado em nossos equipamentos e começado a tocar! Bom, aquilo ali virou o inferno, pelo que eu ouvi falar. Nossos roadies — que poderiam ser bem incômodos — lutaram com a jovem banda para tirá-los do nosso equipamento e do palco. Caos e travessuras.
Enfim, acredite se quiser, esses garotos com culhões eram ninguém menos do que uma nova banda chamada AC/DC. Eu ri bastante quando ouvi. Eu achei ótimo! E é isso que eu lembro desse episódio. Eu trabalhei com e cheguei a conhecer os rapazes muitos anos depois e nós relembramos essa ocasião entre uma cerveja e outra. Uma memória muito engraçada! Mas eles nunca foram chutados de uma turnê do Deep Purple [conforme diziam alguns rumores]… só do palco!”

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Maria Eloisa Barbosa
Maria Eloisa Barbosahttps://igormiranda.com.br/
Maria Eloisa Barbosa é jornalista, 24 anos, formada pela Faculdade Cásper Líbero. Colabora com o site Keeping Track e trabalha como assistente de conteúdo na Rádio Alpha Fm, em São Paulo.

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