No universo musical, é comum que artistas lancem autobiografias. De Michael Jackson a Serj Tankian, muitas bandas e cantores decidem compartilhar suas vidas em livros escritos a próprio punho – normalmente com a ajuda de um colaborador. Andreas Kisser, no entanto, não é um grande fã desse tipo de obra.
O guitarrista do Sepultura refletiu a respeito durante participação no programa No Tom, apresentado por Zé Luiz e Bebé Salvego. Tudo começou quando o músico mencionou novamente o desejo de convidar os ex-membros de seu grupo para o show final da turnê de despedida “Celebrating Life Through Death”, que deve acontecer em São Paulo em 2026.
Conforme transcrição do site IgorMiranda.com.br, ele disse:
“Temos o planejamento de convidar todos que foram parte da banda [para participar da turnê de despedida]. A ideia é celebrar. Não quero sentar na mesa e discutir: ‘ó, Max [Cavalera], você estava errado e eu estava certo’. Isso é irrelevante, não vai levar a lugar nenhum. Ele tem o ponto de vista dele, eu tenho o meu. A gente faz os nossos livros biográficos e fala, aí cada um acredita no que quiser.”
A partir daí, Andreas construiu seu raciocínio. Citando como exemplo a série “Senna”, que estreou na Netflix no último mês de novembro, o guitarrista opinou que biografias de um modo geral trazem muitos erros por geralmente adotarem um único ponto de vista:
“Não tem a série do [Ayrton] Senna agora? Tá cheia de defeito, porque cada um tem um ponto de vista. Pra mim, biografia é feita sobre o Mozart, do Bach. Você tem um contexto histórico, um outro ponto de vista do que é o Bach hoje, do que é o Mozart hoje. Para isso que serve uma biografia.”
Em seguida, o músico descreveu como “patético” o ato de escrever sua própria história. Ao seu ver, a tendência é deixar de lado o que não seja “politicamente correto”, criando um personagem limitado e não um retrato fiel da realidade:
“Acho meio patético você escrever sua própria história. Com todo respeito às biografias que estão aí, inclusive de amigos, mas quem se importa com a minha opinião sobre eu mesmo? Você vai falar tudo na sua biografia? Lógico que não, né? Você vai criar um personagem com as limitações do que é o politicamente correto. Todo mundo fez m#rda, velho. E as consequências de sucesso foram por causa das m#rdas feitas, né? Com arrependimento ou não.”
Raciocínio de Lars Ulrich
Por fim, Kisser também citou como referência a polêmica autobiografia do Mötley Crüe, “The Dirt”, e uma declaração de Lars Ulrich, baterista do Metallica, para embasar seu argumento:
“Lars Ulrich falou isso: ‘pô, não vou escrever uma biografia porque eu não posso falar tudo’. Imagina as histórias do Lars Ulrich sobre contratos, backstage podre no sentido de showbusiness, grana, passar a perna no outro, gravadora… pra que mexer tudo nisso? Tirei minhas lições de tudo isso. Pra que mexer? É tipo as histórias do Mötley Crüe: ‘heroína, fui um viciado, ser um idiota’. Tem gente que acha legal ver o Ozzy cheirar formiga e não sei o quê. E o que vende é isso. […] O ser humano sempre foi assim, de entrar no Coliseu e querer ver o leão arrancar o braço do cara.”
Andreas Kisser e a autobiografia de Max Cavalera
Vale destacar que Max Cavalera, ex-vocalista e guitarrista do Sepultura, escreveu uma autobiografia. Intitulado “My Bloody Roots”, o livro saiu em 2013 e, conforme o subtítulo, traz “toda verdade sobre a maior lenda do heavy metal brasileiro”
À época, Andreas Kisser rotulou a obra como uma “ficção científica”. Durante entrevista à revista Metal Shock, ele disse:
“[A autobiografia de Max] é como ficção científica. É uma loucura. Mas ele tem o direito de falar o que quiser. Quer dizer, nós temos liberdade de expressão, e acho que ele tem um cérebro e uma boca, e ele pode muito bem falar o que quiser.”
A opinião de Lars Ulrich
De fato, Lars Ulrich é incerto sobre lançar sua própria autobiografia. Conversando com a Collider em 2020 (via Blabbermouth), o baterista do Metallica explicou o maior impasse: contar a verdade e, por consequência, envolver outras pessoas que não necessariamente querem ou podem ser expostas:
“Escrever uma autobiografia, na minha opinião, é desafiador, porque acho que você teria que ser completamente honesto, e ser 100% honesto torna difícil contar as histórias sem envolver outras pessoas. Você entra naquela questão de que talvez o protagonista daquela história específica não queira que a história seja contada. Para mim, isso se torna um dilema: se você vai falar sobre essas histórias, merece contar a verdade, mas, ao mesmo tempo, você não pode presumir que todos os envolvidos nessas histórias querem que elas sejam divulgadas.”
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