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Promessa? Spiritbox prova ser realidade com show poderoso em SP

Banda estreou no Brasil abrindo para o Bring Me the Horizon, mas arrastou vários fãs consigo para o Allianz Parque — e certamente converteu novos admiradores

Um sorriso é a expressão mais simples e notória de felicidade. E não é comum que músicos de metal, Spiritbox incluso, saiam por aí com os lábios distendidos para os lados. Porém, houve quebra de protocolo na ocasião do fim da tarde do último sábado (30), quando eles se apresentaram pela primeira vez no Brasil diante de um Allianz Parque bem cheio — horas depois completamente lotado para o Bring Me the Horizon (a cobertura completa do evento, que também contou com Motionless in White e The Plot in You, será publicada em breve).

A vocalista Courtney LaPlante, dona de presença de palco magnética e domínio técnico raríssimo em qualquer subgênero da música pesada, parecia não se conter. Ao fim de cada canção, era só sorrisos e pura gratidão nas breves, mas simpáticas conversas com o público. Às vezes, até mesmo em meio às músicas, quando lhe atiraram presentes antes e depois de “Hurt You” ou no mar de lanternas de celulares para o alto durante “Blessed Be”.

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Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Formado em 2016 após o fim do Iwrestledabearonce — grupo que contou com LaPlante e seu esposo, o guitarrista Mike Stringer —, o Spiritbox não é alheio aos grandes palcos. Excursionou com Korn, Limp Bizkit (em uma fatídica turnê em 2021 cancelada no início), Shinedown, Ghost, Underoath e o próprio Bring Me the Horizon. Tocou em festivais como Reading, Leeds, Louder than Life, Download, Sick New World e por aí vai.

Ainda assim, o Brasil tem seu charme. Courtney já havia adiantado em entrevista a este site: “Quando todo artista que conheço fala sobre o show mais incrível que já fez, é sempre na América do Sul, sempre no Brasil”. Difícil saber se a melhor apresentação da carreira deles até aqui aconteceu no último sábado (30), mas este escriba pode garantir que o Spiritbox causou impacto muito acima da média para sua condição de atração de abertura.

Spiritbox fora do “box”

Pontualmente às 17h50, Mike Stringer, o baixista Josh Gilbert e o baterista Zev Rosenberg subiram ao palco e assumiram seus postos para dar início a seus 60 minutos de set com “Cellar Door”. Courtney LaPlante surgiu depois e foi recebida aos gritos por parte da plateia. Uma das músicas mais pesadas do Spiritbox ofereceria, também, um dos momentos mais pesados do dia, dedicado a formatos distintos de metalcore.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Apesar do “box” do nome, é difícil colocar o som do Spiritbox em uma caixinha só. Tem metalcore e a própria Courtney reconhece isso ao dizer, lá no fim do set, que “o Bring Me the Horizon mostrou que nosso tipo de música pode tocar em um lugar como esse”. Todavia, vai além. Também tem elementos de post-metal e djent, alguma coisa de progressivo e um tempero pop salpicado com equilíbrio. Afinal, açúcar em excesso pode estragar uma receita.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Vocais gritados em demasia, também. Se “Cellar Door” é toda na base do gutural/screamo, “Jaded”, na sequência, mescla esse tipo de interpretação com o timbre limpo — e lindo — de LaPlante. São a performance dela e o trabalho rítmico envolvendo execução entrançada de todos os três instrumentos (a ponto de Stringer abdicar dos solos para não deixar de dar liga e peso) os responsáveis por darem dinamismo a um repertório que, por recorrer a afinações mais graves, poderia soar repetitivo se não fosse conduzido com maestria.

Sucedendo um breve cumprimento, “Angel Eyes” e “Soft Spine” voltam a colocar o lado mais intenso da voz da frontwoman sob os holofotes, cada uma a seu modo: a primeira permitindo-se experimentar em variações rítmicas, a segunda (durante a qual um fã acendeu um sinalizador na pista premium) em um groove à la nu metal. “The Void”, por sua vez, explora uma interpretação clean por completo e melodias quase pop, mas de um jeito tão natural que até espanta. A partir desta, reações enérgicas começam a ser cada vez mais comuns na plateia.

Em outro rápido diálogo, LaPlante exaltou: “Sei que vocês estão aqui para ver o Bring Me the Horizon, que vendeu 50 mil ingressos, mas agradeço por terem chegado mais cedo para assistir a todas as bandas”. O público fez isso por saber que não iria se arrepender, nem mesmo de testemunhar a estreia ao vivo da recém-lançada “Perfect Soul” — que, como “Soft Spine”, estará no próximo álbum “Tsunami Sea”.

Após os já mencionados presentes atirados em “Hurt You”, “Yellowjacket”, gravada originalmente com a participação de Sam Carter (Architects), trouxe boa dinâmica vocal entre Courtney e Josh Gilbert, a cargo dos vocais limpos. Impressiona o senso melódico apurado mesmo em canções mais experimentais como esta. “Blessed Be”, normalmente cortada quando os sets são mais curtos, pôde ser executada para deleite dos presentes — rendendo o citado momento espontâneo com lanternas para o alto e muitas reações entusiasmadas. Uma das melhores do set.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Arremate

O público estava nas mãos da banda no momento do arremate, com quatro músicas, quase todas conectadas por pequenas trechos instrumentais pré-gravados, como em um álbum conceitual. A agitada “Rotoscope” tem ritmo quase sexy — apesar do breakdown em seu miolo — e chegou a ser acompanhada por palminhas no início. Poderiam ter encerrado com o forte refrão de “Circle with Me”, de longe a faixa mais ouvida do grupo no Spotify, e trechos diversos de “Holy Roller”, primeiro single deles a realmente repercutir online, mas “Hysteria” serviu como a cereja do bolo. Refrão e pré são tão cativantes que beiram o pop, mas, novamente, de um jeito próprio.

Enquanto segue sendo tratado como promessa, o Spiritbox tem mostrado, de formas diferentes, que é uma realidade incontestável no metal contemporâneo. Seja nos discos — e tudo indica que “Tsunami Sea” sobe o sarrafo em relação a “Eternal Blue” (2021) e “The Fear of Fear” (2023), seja ao vivo.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

A performance madura que se ouve nos álbuns, diga-se, é devidamente traduzida para o palco, independentemente do tamanho. Pode ser aquele imenso do Allianz Parque; pode ser algum mais modesto, como o de um possível show solo no Brasil que certamente milhares de fãs passaram a aguardar após a apresentação exemplar do último sábado (30). Que voltem logo.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Spiritbox — ao vivo em São Paulo

  • Local: Allianz Parque
  • Data: 30 de novembro de 2024
  • Produção: 30e

Repertório:

  1. Cellar Door
  2. Jaded
  3. Angel Eyes
  4. Soft Spine
  5. The Void
  6. Perfect Soul (estreia ao vivo)
  7. Hurt You
  8. Yellowjacket
  9. Blessed Be
  10. Rotoscope
  11. Circle With Me
  12. Holy Roller
  13. Hysteria
Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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