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Quando o Living Colour criticou Axl Rose em show por expressões racistas

Letra de “One in a Million” deu início a situação que envolveu entrevista em rádio e interpelação a integrante errado nos bastidores

O Living Colour precisou superar muito racismo para atingir sucesso e os integrantes nunca tiveram medo de colocar o dedo nessa ferida. Uma das situações envolveu enfrentar Axl Rose.

Em 1988, o Guns N’ Roses atraiu polêmica com a música One in a Million, do álbum GN’R Lies. A letra foi criticada por muitos devido ao uso de linguagem racista e homofóbica. Rose se retratou, afirmou que usou os termos apenas no contexto de personagens e negou compactuar com tais ideias.

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No ano seguinte, os Rolling Stones contaram com o Guns na abertura da turnê “Steel Wheels”. O Living Colour foi convidado para tocar também em algumas datas — vale lembrar que Mick Jagger apadrinhou o grupo.

Durante uma entrevista de rádio antes de uma performance, o guitarrista Vernon Reid e o baterista Will Calhoun questionaram o pedido de desculpas de Axl. Depois do primeiro show do Living Colour na turnê, ele veio tirar satisfação.

Ironicamente, o cantor interpelou a pessoa errada. O frontman do Guns abordou o baixista Muzz Skillings, que nada tinha a ver com a história e só queria conferir os colegas de abertura. O músico contou ao Los Angeles Times:

“A primeira coisa a sair da boca dele foi: ‘Você tem um problema comigo, cara?’. Eu falei: ‘Do que você tá falando?’ E nisso ele começa: ‘Tá na mídia que eu sou como se fosse um racista, cara… Eu não sou racista’.”

Axl tentou explicar sua visão de mundo para Skillings. Uma situação incômoda só se tornou pior. Skillings relembra:

“Ele desceu esta longa lista: ‘Eu não acho que você seja um (epíteto racial). Qualquer um pode ser um (epíteto). Se você é uma pessoa má, você é um (epíteto). Eu não acho que os negros sejam (epíteto). Eu não acho que as bandas negras sejam (epíteto)’.”

Durante o show, Rose tentou se explicar para a plateia. Os resultados foram semelhantes, visto que ele utilizou uma série de expressões racistas.

A reação do Living Colour

Vernon Reid redobrou sua posição na noite seguinte. O guitarrista aproveitou o momento antes de tocar “Cult of Personality” para condenar uso de linguagem homofóbica e/ou racista. Ele falou (via Pitchfork):

“Olha, se você não tem problema com pessoas homossexuais, não use termos como b*****. Se não tem problema com negro, não use termos como c******. Eu nunca conheci um c****** na minha vida. Paz.”

O grupo então fez uma versão particularmente agressiva da canção. Em entrevista ao Los Angeles Times, Calhoun brincou sobre ter quebrado mais baquetas que o normal durante aquele show. Quanto a Skillings, o baixista destacou que o episódio o lembrou de como certas atitudes não mudam.

A opinião do Guns N’ Roses sobre a música

De modo geral, os demais integrantes do Guns N’ Roses enxergam “One in a Million” de diferentes formas. Na época do lançamento de “GN’R Lies”, o então guitarrista Izzy Stradlin disse em entrevistas que a canção falava sobre as diferentes relações raciais na tumultuada Los Angeles dos anos 1980.

Já o outro guitarrista, Slash, que é filho de uma mulher negra, incomodou-se com o conteúdo da letra. Comenta-se nos bastidores que ele e o baterista Steven Adler tentaram tirar “One in a Million” do disco, sem sucesso.

Em entrevista de 1991 à Rolling Stone, o músico declarou:

“Quando Axl apareceu com a música e realmente queria gravá-la, eu disse que não achava muito legal. Não me arrependo de tocar em ‘One in a Million’, só me arrependo do que estamos passando por causa dela e da forma como as pessoas perceberam nossos sentimentos pessoais.”

Axl Rose fala de “One in a Million”

Falando também à Rolling Stone, mas em 1989, Axl Rose tentou se explicar – o que não ajudou muita coisa. O vocalista disse que compôs a letra na casa de um amigo enquanto pensava em como seria ir embora de Los Angeles, ao mesmo tempo em que relembrava seus primeiros dias na cidade.

“Comecei a escrever sobre querer sair de L.A., ir embora por um tempo. Eu iria até a estação de ônibus Greyhound, no centro de L.A. Se você nunca esteve lá, não pode me falar m**da nenhuma sobre o que acontece e sobre meu ponto de vista. Lá tem um número enorme de negros vendendo joias roubadas, crack, heroína e maconha, e a maioria das drogas é falsa. Também há enganadores vendendo espaços para estacionar onde não há cobrança. Tentando enganar cada garoto que desce do ônibus e não sabe exatamente onde está e para onde ir, tentando pegar a pessoa de qualquer jeito.”

Perguntado sobre o uso de palavras pejorativas, Rose criticou uma possível censura e dizendo que negros podem usar a mesma palavra sem problema. Ele cita a música “Woman is the Nigger of the World” (“Mulher é o Crioulo do Mundo”), de John Lennon, e o significado da sigla do grupo de hip hop N.W.A.: “Niggaz Wit Attitudes” (“Crioulos Com Atitude”).

“Por que as pessoas negras podem chamar umas as outras de ‘nigger’, mas quando um cara branco faz isso, de repente há polêmica? Não gosto de limites de nenhum tipo. Não gosto que me digam o que posso e o que não posso dizer. Usei a palavra porque serve para descrever alguém que é basicamente um incômodo na sua vida, um problema. A palavra ‘nigger’ não significa necessariamente ‘crioulo’.”

Ao longo da entrevista, o vocalista do Guns N’ Roses citou problemas que teve com homossexuais e imigrantes ao longo da vida, o que o levou a ter opiniões extremas. Perguntado a respeito de homofobia, ele se classificou como “pró-hetero” e disse não entender por que alguns homens não se interessam por mulheres – embora admita que goste de ver mulheres se relacionando.

“Não sou contra eles fazerem o que querem fazer, desde que não esteja ofendendo ninguém que não estejam forçando isso para mim. Não preciso deles na minha cara ou, perdoe o trocadilho, na minha b*nd@ com isso.”

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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