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Manowar contorna problemas e faz show de devoção ao heavy metal em Brasília

Pilastras em frente ao palco comprometem visão, mas banda compensa com clássicos bem executados e Eric Adams em ótima forma

A julgar pela fama de banda preciosista e até temperamental, é de se surpreender que o Manowar tenha topado fazer um show com não apenas uma, mas duas grandes pilastras em frente ao palco do Galpão 17, local em Brasília que não era o originalmente programado para a apresentação (o evento estava agendado para o Opera Hall, com o dobro da capacidade). Se a visão não foi a ideal, porém, pode-se dizer que o som esteve bastante satisfatório e ajudou a contornar esse e outros problemas numa noite marcada pela devoção ao metal — às vezes, até mais do que a razão recomenda.

Não foi a primeira vez que os autoproclamados “Reis do Metal” enfrentaram adversidades na capital federal. Em 1996, o show também mudou de local às pressas. Desta vez, esse e outros fatores — preço de ingresso exorbitante, venda confusa, promoção relâmpago em site paralelo — geraram certa desconfiança no público. Ainda assim, o saldo foi positivo.

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Amparada por um leque de clássicos que estão na ponta da língua dos fãs e o vocal de Eric Adams em ótima forma, a banda fez da apresentação na noite de sexta-feira (22) uma espécie de redenção para quem chegou a duvidar da realização do evento. Não precisava ser assim, obviamente, mas o Manowar parece gostar de jogar com o perigo. E o baixista Joey DeMaio sabe explorar como poucos o fascínio que esse estereótipo exerce sobre o metal.

Foto: Guilherme Gonçalves

Som potente, visão prejudicada

Longas filas se formaram nas imediações do Galpão 17 e a entrada no local não foi ágil. Para muitos, o atraso de 40 minutos no início do show acabou sendo providencial. Alguns ainda se posicionavam na pista quando o Manowar começou a tocar, às 22h40.

Para comportar a estrutura da banda, a produção precisou inverter a disposição do palco e investiu pesado em PA’s para distribuir o som, que se mostrou potente e, surpreendentemente, bem definido.

Pela baixa altura do local, no entanto, o cenário de palco esteve longe de ser usado por completo. Havia apenas alguns panos de fundo envelopando as laterais, por onde os integrantes entravam e saiam ao longo da apresentação, especialmente Eric Adams.

Foto: Guilherme Gonçalves

Aos 72 anos, o vocalista ainda canta que é um absurdo. Desde o início com “Manowar”, “Warriors of the World United” e “Immortal”, ficou claro que sua voz seria o ponto alto do show. Vestido com uma armadura de combate, Adams travava uma batalha particular com a pilastra que insistia em escondê-lo, principalmente de quem estava posicionado à direita do palco e teve a visão muito prejudicada pelas vigas.

Seu gogó, entretanto, compensava esse problema. E mesmo sem conversar diretamente com os presentes, o vocalista interagia com caras e bocas, incitando a vibrarem e cantarem juntos.

Destaque da primeira parte do show, “Blood of My Enemies”, do álbum “Hail to England” (1984), foi entoada a plenos pulmões. A execução instrumental, no geral, esteve à altura dos discos, com os “novatos” da formação Michael Angelo Batio (guitarra) e Dave Chedrick (bateria) — veteranos em seus instrumentos, ambos entraram em 2022 — cumprindo bem suas tarefas.

Catarse e fim abrupto

O repertório de 14 músicas foi idêntico ao de Curitiba dois dias antes, na quarta-feira (20), mudando apenas a ordem delas. Em relação a um show recente em El Salvador, porém, quatro canções foram limadas: “The Dawn of Battle”, “Gates of Valhalla”, “The Power” e até mesmo “Black Wind, Fire and Steel”.

Apesar disso, a reta final da apresentação pegou fogo com uma sequência avassaladora de clássicos do cancioneiro “true metal”. A partir de “Fighting the World”, o show ganha ares de “best of” e a banda proporcionou uma catarse para “manowarrior” nenhum botar defeito.

Na ausência de “Battle Hymn”, inexplicavelmente fora do setlist em 2024, “Kill With Power” e “Hail and Kill” foram as mais festejadas. E mesmo não tendo exatamente o status de hino, “Fight Until We Die” conseguiu abrir uma roda considerável na pista.

Sem maiores despedidas, a banda se retirou do palco no que, para muitos, foi um encerramento abrupto. Tal saída à francesa não ofuscou a apresentação, mas deixou um gostinho de “quero mais”.

Como de praxe, o Manowar — que iniciou sua turnê nacional em Curitiba e também visitará Recife (24/11) e Rio de Janeiro (26/11) — acaba se perdendo em algumas de suas próprias contradições. Para uma banda que preconiza tanto a simbiose com os fãs, apenas 1 hora e 20 minutos de show parece pouco. Mesmo assim, foi o suficiente para injetar doses vitais de heavy metal inoxidável em quem ama o gênero.

*Esta cobertura não conta com fotos profissionais. A produção do evento gentilmente aprovou a solicitação de credenciamento feita pelo fotógrafo do site IgorMiranda.com.br, mas no local, seguranças da banda não permitiram que o profissional realizasse seu trabalho.

Foto: Guilherme Gonçalves

Manowar – ao vivo em Brasília

  • Local: Galpão 17
  • Data: 22 de novembro de 2024
  • Turnê: Crushing the Enemies of Metal Tour 2024
  • Produção: Dark Dimensions / Live Concert Produções

Repertório:

  1. Manowar
  2. Warriors of the World United
  3. Immortal
  4. Brothers of Metal Pt. 1
  5. Blood of My Enemies
  6. Call to Arms
  7. Sign of the Hammer
  8. Mountains
  9. Fighting the World
  10. Kings of Metal
  11. King of Kings
  12. Kill With Power
  13. Hail and Kill
  14. Fight Until We Die

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Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É repórter do Globo Esporte e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room e Rock Brigade. Revisa livros das editoras Belas Letras e Estética Torta e edita o Morbus Zine, dedicado ao death metal e grindcore.

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