Rob Halford não se incomoda com a natureza oposta de opiniões sobre diversos assuntos. No entanto, ele gostaria que as pessoas fossem mais abertas a dialogar com divergentes, algo que a atual situação do mundo não permite – especialmente tendo a política como foco central dos embates.
Em entrevista ao Los Angeles Times em Español, o vocalista do Judas Priest falou sobre como lida com o excesso de conservadorismo na cena que ajudou a criar meio século atrás. Especialmente tendo em vista o fato de ser o homossexual com maior projeção nos holofotes nesse meio.
Disse o Metal God, conforme transcrição do Blabbermouth:
“É muito, muito verdade que o mundo do metal tem muitos fãs conservadores. É assim que eles são. Acho extraordinário, mas aceito. Não entendo muito bem, mas essa é a alegria da vida e o livre arbítrio para escolher sua música. Mas o fato de eu estar em uma banda que ocasionalmente faz uma declaração provocativa, além de ser um homem gay em uma banda de heavy metal mundialmente famosa, provavelmente a pessoa mais famosa do heavy metal que já existiu… mas resumindo tudo isso, no mundo de hoje, o clamor e o barulho de teclas incensadas, o que percebi conforme cresci e vivi essa longa vida é que é tão difícil agora ter um simples desentendimento. Há tanto ódio e tanta violência entre ideias. Duas pessoas na mesma sala que nunca se conheceram que têm duas ideias diferentes sobre um assunto, mas ambas querem se matar porque não concordam. [Risos] É insano.”
Rob Halford e a política
Rob prosseguiu sua explanação apontando para como a política acabou exercendo grande influência nas relações humanas.
“Eu não sou uma pessoa política. Eu gosto de grandes debates políticos, o que não tenho visto ou ouvido já há muito tempo. Mas em termos de debater ideias, filosóficas, sociopolíticas, antropológicas, seja o que for, eu adoro ver pessoas sãs e inteligentes tendo uma conversa sobre uma ideia ou um assunto que estão em desacordo entre si, mas são civilizadas. Elas podem discordar, mas não sacam uma arma ou começam a socar umas às outras na cara. Infelizmente, esse parece ser o mundo em que vivemos, em grande medida. Não completamente, porque a propaganda nunca foi tão forte na América agora do que eu me lembro quando criança crescendo nos anos 50 e 60. A maneira como a verdade é distorcida — essa ideia de que se você contar uma mentira por tempo suficiente, as pessoas acreditam que ela se torna a verdade — é insana. É insana.”
Halford destaca que a tolerância perante os fãs que pensam diferente é fundamental para que se estabeleça algum tipo de conexão. E ressaltou algo que aconteceu em recente homenagem ao Judas Priest.
“Sei que estamos saindo do assunto, mas há fãs de metal, fãs conservadores de metal, que têm algumas dessas qualidades. E eu adoro o fato… Eu vi um clipe meu outro dia quando eu disse no Rock and Roll Hall Of Fame, ‘Oi, pessoal, eu sou o cara gay do grupo’, e o teto explodiu. E então eu discursei sobre inclusão.”
Judas Priest e a união no heavy metal
Para exemplificar seu pensamento, o Metal God usou o show da noite anterior, promovendo uma análise antropológica do público.
“Quando eu estava no palco ontem à noite no Missouri, eu olhava para a plateia e sabia que havia um espectro completo de pessoas de todas as esferas da vida, incluindo a econômica. Alguns chegaram lá em uma velha caminhonete surrada, outros dirigindo sua Ferrari. Mas estávamos todos juntos na sala, batendo nossas cabeças e nos divertindo muito. E isso nunca passa despercebido para mim, enquanto observo a maneira como as pessoas reagem. Eu só acho que são as expressões mais profundamente belas em que qualquer artista pode estar imerso, ver a humanidade da noite se unir em um tipo unificado de aceitação e celebração da música que todos nós amamos. Então isso nunca passa despercebido para mim.”
Sendo assim, até mesmo um instinto revolucionário pode ser desperto a partir de um show, entende o cantor.
“Nunca vou perder de vista o poder que a música tem, seja para dar às pessoas a melhor noite de suas vidas ou para começar uma revolução quando você acorda de manhã. Você vê seu artista favorito e no dia seguinte fará algum tipo de revolução, seja mudando algo em seu vida, mudando de emprego, seja lá o que for. Vá e fique em cima de uma caixa no canto de uma rua e comece a gritar sobre Israel e Gaza — seja lá o que for, esse é o poder da música. Eu amo todo esse tipo de habilidade conceitual que o show pode te dar. Mas, sim, é isso que eu amo na comunidade do heavy metal. Há diferenças em todos os níveis, mas para aquele show em particular, estamos unidos como um povo pelo amor que temos por esse tipo de música.”
O Judas Priest segue em excursão pela América do Norte até 26 de outubro. Em dezembro, a banda vai até o Japão para cinco shows. Serão os últimos de 2024. Até o momento, a agenda está vazia para o ano que vem.
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