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Napalm Death oscila entre clássicos e novos experimentos de protesto em Brasília

Com repertório sinuoso, show que abriu 12ª turnê da banda no Brasil evita se prender ao passado e oferece diferentes espasmos de death/grind

Apesar de já ter reinventado a roda duas ou três vezes no âmbito da música extrema, o Napalm Death não se furta a continuar alimentando a própria inquietação. Vide os discos mais recentes e, por consequência, o show dos caras.

Marcada pelo desfile comedido de clássicos, a apresentação preconiza não se prender ao passado e transita por diferentes fases da banda, aclamada como pioneira do grindcore e da fusão deste com o death metal.

- Advertisement -
Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

O resultado é um setlist sinuoso, que não é e nem tenta ser perfeito o tempo todo. Um show com muitos altos, mas também alguns baixos (nada que comprometa, diga-se), como se viu na Toinha, em Brasília, na noite de quarta-feira (16).

Outro traço do show que abriu a 12ª turnê do Napalm no Brasil foram os discursos contundentes de Mark “Barney” Greenway, em especial contra três aspectos que o vocalista fez questão de elencar: sexismo, homofobia e transfobia.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Falas que encontraram eco na Death Slam, banda de abertura acertadamente escalada para abrir essa que foi a segunda passagem dos britânicos pela cidade – a primeira havia sido em 2010, juntamente com o Suffocation, no festival Ferrock.

Contemporâneos do grind

Formada em 1990, a Death Slam não tem o menor pudor em dizer que nasceu por influência direta do Napalm Death. E músicas como “Revolution”, “Every War Is Stupid”, “Underground Ways” e a que dá nome à banda escancaram isso.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

O quarteto local começou pontualmente às 19h45, com sangue nos olhos e já com um bom público na Toinha. Veterano do grind, Fellipe CDC (vocal) é o mestre de cerimônia e toma conta do palco com uma naturalidade impressionante.

Adélcio (guitarra), Itazil (baixo) e Ademir (bateria) completam a formação atual, que entregou um show muito eficiente e totalmente à altura da atração principal.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Repertório – Death Slam:

  1. Death Slam
  2. Revolution
  3. Evil’s Celebration
  4. Escravas do Medo
  5. Rota de Colisão
  6. A Miséria Está em Todos os Lados
  7. Fuck Religion
  8. Experiments
  9. Every War Is Stupid
  10. TV Is Your Life
  11. Grandes Ruas
  12. Our Streets
  13. Mr. Racist
  14. Underground Ways
  15. Technology
  16. New Order
  17. Welcome to Hell
  18. Cancer
  19. Carne Viva
  20. Coca
  21. Zumbi Humano
  22. F#da-se a Música Gospel

Protesto, logo existo

Seja qual for a era na cronologia histórica do Napalm Death, algo em comum estará sempre lá: o protesto. Do grindcore ancestral do “Scum” (1986) às esquisitices “pós-alguma coisa” de seu mais novo trabalho, “Throes of Joy in the Jaws of Defeatism” (2020), essa é a assinatura da banda. A ânsia de protestar.

“From Enslavement to Obliteration”, faixa-título da obra-prima lançada por eles em 1988, denuncia, por exemplo, a exploração do homem pelo homem e foi uma ótima escolha para abrir o set, seguida por “Taste the Poison” e “Next on the List”, ambas do álbum “Enemy of the Music Business” (2000).

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

“Contagion” trouxe dissonâncias de guitarra e vocais nada ortodoxos, mostrando algumas das experimentações recentes da banda. Além dela, tocaram mais quatro do já citado último disco: “That Curse of Being in Thrall”, “Backlash Just Because”, “F#ck the Factoid” e “Amoral”, essa com uma levada inicial de bateria quase indie e com o baixista Shane Embury cantando os versos.

Além de Barney e Shane, o Napalm conta com Danny Herrera, desde 1991 na bateria, e John Cooke, que passou a assumir a guitarra ao vivo em 2014. Pode-se dizer, no entanto, que o guitarrista de longos dreads é o elo fraco da formação. Seu timbre não é dos mais bonitos e falta maior definição nos riffs. Para uma banda que já teve Bill Steer e Jesse Pintado em suas fileiras, ele fica devendo.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Felizmente, o baixo de Shane preenche muitas das lacunas, como fica evidente na ritualística “Resentment Always Simmers”. O jeito desengonçado (e único!) de Barney agitar também reforça o carisma e apreende o olhar de todos, seja na “voivodiana” “The Wolf I Feed” ou na rápida e caótica “It’s a M.A.N.S. World!”, mais uma representante do “F.E.T.O.”.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

A essa altura, a apresentação já se encaminhava para a metade e, apesar dos esforços da banda, havia a sensação de que a resposta do público estava ligeiramente fria. Esse panorama se alterou à medida que surgiram hinos como “Suffer the Children”, do “Harmony Corruption” (1990), disco em que abraçam de vez o death metal, e a avassaladora tetralogia que contempla o debut: “Scum”, “M.A.D.”, “Success?” e “Suffer”, com seus incríveis… 1,316 segundo de duração.

“Nazi Punks F#ck Off”, cover de Dead Kennedys, mantém a euforia, mas por pouco tempo. Isso porque fica perceptível que a noite já se aproxima do final. Com um misto de felicidade e pesar, “Instinct of Survival” e “Contemptuous” encerram o curtíssimo show de apenas 1 hora e 5 minutos.

Cabia mais? Certamente. Faltaram clássicos como “Unchallenged Hate”, “The World Keeps Turning” e outros? Sem dúvida. Mas há de se valorizar também as novas formas de protesto, ou seja, canções recentes. E reconhecer: o Napalm mostra que segue relevante mesmo sem recorrer às muletas da nostalgia.

O Napalm Death ainda se apresenta nas seguintes datas e locais:
– 18/10 – Belém (Botequim)
– 19/10 – Fortaleza (Baladinha Club)
– 20/10 – Recife (Estelita)
– 22/10 – Belo Horizonte (Mister Rock)
– 23/10 – Rio de Janeiro (Circo Voador)
– 24/10 – Porto Alegre (Opinião)
– 25/10 – Curitiba (Cwb Hall)
– 26/10 – São Paulo (Vip Station)

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Napalm Death – ao vivo em Brasília

  • Local: Toinha
  • Data: 16 de outubro de 2024
  • Turnê: Latin America Tour 2024
  • Produção: Xaninho

Repertório:

  1. From Enslavement to Obliteration
  2. Taste the Poison
  3. Next on the List
  4. Continuing War on Stupidity
  5. Contagion
  6. The Wolf I Feed
  7. Resentment Always Simmers
  8. That Curse of Being in Thrall
  9. Amoral
  10. It’s a M.A.N.S. World!
  11. Backlash Just Because
  12. F#ck the Factoid
  13. Suffer the Children
  14. When All Is Said and Done
  15. Scum
  16. M.A.D.
  17. Success?
  18. You Suffer
  19. Metaphorically Screw You
  20. Dead
  21. Nazi Punks F#ck Off (cover de Dead Kennedys)
  22. Instinct of Survival
  23. Contemptuous
Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

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Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É repórter do Globo Esporte e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room e Rock Brigade. Atualmente revisa livros da editora Estética Torta e é editor do Morbus Zine, dedicado ao death metal e grindcore.

1 COMENTÁRIO

  1. Sem dúvida o que vimos na quarta-feira, foi uma banda atual, apesar dos 43 anos de estrada, segue com seu discurso intacto, experimentando coisas novas, mas sem perder sua essência, show curto, mas entregou o que seus fãs querem, muita fúria!!!

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Com repertório sinuoso, show que abriu 12ª turnê da banda no Brasil evita se prender ao passado e oferece diferentes espasmos de death/grind

Apesar de já ter reinventado a roda duas ou três vezes no âmbito da música extrema, o Napalm Death não se furta a continuar alimentando a própria inquietação. Vide os discos mais recentes e, por consequência, o show dos caras.

Marcada pelo desfile comedido de clássicos, a apresentação preconiza não se prender ao passado e transita por diferentes fases da banda, aclamada como pioneira do grindcore e da fusão deste com o death metal.

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Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

O resultado é um setlist sinuoso, que não é e nem tenta ser perfeito o tempo todo. Um show com muitos altos, mas também alguns baixos (nada que comprometa, diga-se), como se viu na Toinha, em Brasília, na noite de quarta-feira (16).

Outro traço do show que abriu a 12ª turnê do Napalm no Brasil foram os discursos contundentes de Mark “Barney” Greenway, em especial contra três aspectos que o vocalista fez questão de elencar: sexismo, homofobia e transfobia.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Falas que encontraram eco na Death Slam, banda de abertura acertadamente escalada para abrir essa que foi a segunda passagem dos britânicos pela cidade – a primeira havia sido em 2010, juntamente com o Suffocation, no festival Ferrock.

Contemporâneos do grind

Formada em 1990, a Death Slam não tem o menor pudor em dizer que nasceu por influência direta do Napalm Death. E músicas como “Revolution”, “Every War Is Stupid”, “Underground Ways” e a que dá nome à banda escancaram isso.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

O quarteto local começou pontualmente às 19h45, com sangue nos olhos e já com um bom público na Toinha. Veterano do grind, Fellipe CDC (vocal) é o mestre de cerimônia e toma conta do palco com uma naturalidade impressionante.

Adélcio (guitarra), Itazil (baixo) e Ademir (bateria) completam a formação atual, que entregou um show muito eficiente e totalmente à altura da atração principal.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Repertório – Death Slam:

  1. Death Slam
  2. Revolution
  3. Evil’s Celebration
  4. Escravas do Medo
  5. Rota de Colisão
  6. A Miséria Está em Todos os Lados
  7. Fuck Religion
  8. Experiments
  9. Every War Is Stupid
  10. TV Is Your Life
  11. Grandes Ruas
  12. Our Streets
  13. Mr. Racist
  14. Underground Ways
  15. Technology
  16. New Order
  17. Welcome to Hell
  18. Cancer
  19. Carne Viva
  20. Coca
  21. Zumbi Humano
  22. F#da-se a Música Gospel

Protesto, logo existo

Seja qual for a era na cronologia histórica do Napalm Death, algo em comum estará sempre lá: o protesto. Do grindcore ancestral do “Scum” (1986) às esquisitices “pós-alguma coisa” de seu mais novo trabalho, “Throes of Joy in the Jaws of Defeatism” (2020), essa é a assinatura da banda. A ânsia de protestar.

“From Enslavement to Obliteration”, faixa-título da obra-prima lançada por eles em 1988, denuncia, por exemplo, a exploração do homem pelo homem e foi uma ótima escolha para abrir o set, seguida por “Taste the Poison” e “Next on the List”, ambas do álbum “Enemy of the Music Business” (2000).

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

“Contagion” trouxe dissonâncias de guitarra e vocais nada ortodoxos, mostrando algumas das experimentações recentes da banda. Além dela, tocaram mais quatro do já citado último disco: “That Curse of Being in Thrall”, “Backlash Just Because”, “F#ck the Factoid” e “Amoral”, essa com uma levada inicial de bateria quase indie e com o baixista Shane Embury cantando os versos.

Além de Barney e Shane, o Napalm conta com Danny Herrera, desde 1991 na bateria, e John Cooke, que passou a assumir a guitarra ao vivo em 2014. Pode-se dizer, no entanto, que o guitarrista de longos dreads é o elo fraco da formação. Seu timbre não é dos mais bonitos e falta maior definição nos riffs. Para uma banda que já teve Bill Steer e Jesse Pintado em suas fileiras, ele fica devendo.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Felizmente, o baixo de Shane preenche muitas das lacunas, como fica evidente na ritualística “Resentment Always Simmers”. O jeito desengonçado (e único!) de Barney agitar também reforça o carisma e apreende o olhar de todos, seja na “voivodiana” “The Wolf I Feed” ou na rápida e caótica “It’s a M.A.N.S. World!”, mais uma representante do “F.E.T.O.”.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

A essa altura, a apresentação já se encaminhava para a metade e, apesar dos esforços da banda, havia a sensação de que a resposta do público estava ligeiramente fria. Esse panorama se alterou à medida que surgiram hinos como “Suffer the Children”, do “Harmony Corruption” (1990), disco em que abraçam de vez o death metal, e a avassaladora tetralogia que contempla o debut: “Scum”, “M.A.D.”, “Success?” e “Suffer”, com seus incríveis… 1,316 segundo de duração.

“Nazi Punks F#ck Off”, cover de Dead Kennedys, mantém a euforia, mas por pouco tempo. Isso porque fica perceptível que a noite já se aproxima do final. Com um misto de felicidade e pesar, “Instinct of Survival” e “Contemptuous” encerram o curtíssimo show de apenas 1 hora e 5 minutos.

Cabia mais? Certamente. Faltaram clássicos como “Unchallenged Hate”, “The World Keeps Turning” e outros? Sem dúvida. Mas há de se valorizar também as novas formas de protesto, ou seja, canções recentes. E reconhecer: o Napalm mostra que segue relevante mesmo sem recorrer às muletas da nostalgia.

O Napalm Death ainda se apresenta nas seguintes datas e locais:
– 18/10 – Belém (Botequim)
– 19/10 – Fortaleza (Baladinha Club)
– 20/10 – Recife (Estelita)
– 22/10 – Belo Horizonte (Mister Rock)
– 23/10 – Rio de Janeiro (Circo Voador)
– 24/10 – Porto Alegre (Opinião)
– 25/10 – Curitiba (Cwb Hall)
– 26/10 – São Paulo (Vip Station)

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Napalm Death – ao vivo em Brasília

  • Local: Toinha
  • Data: 16 de outubro de 2024
  • Turnê: Latin America Tour 2024
  • Produção: Xaninho

Repertório:

  1. From Enslavement to Obliteration
  2. Taste the Poison
  3. Next on the List
  4. Continuing War on Stupidity
  5. Contagion
  6. The Wolf I Feed
  7. Resentment Always Simmers
  8. That Curse of Being in Thrall
  9. Amoral
  10. It’s a M.A.N.S. World!
  11. Backlash Just Because
  12. F#ck the Factoid
  13. Suffer the Children
  14. When All Is Said and Done
  15. Scum
  16. M.A.D.
  17. Success?
  18. You Suffer
  19. Metaphorically Screw You
  20. Dead
  21. Nazi Punks F#ck Off (cover de Dead Kennedys)
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Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É repórter do Globo Esporte e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room e Rock Brigade. Atualmente revisa livros da editora Estética Torta e é editor do Morbus Zine, dedicado ao death metal e grindcore.

1 COMENTÁRIO

  1. Sem dúvida o que vimos na quarta-feira, foi uma banda atual, apesar dos 43 anos de estrada, segue com seu discurso intacto, experimentando coisas novas, mas sem perder sua essência, show curto, mas entregou o que seus fãs querem, muita fúria!!!

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