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Pastor escreve artigo para a Folha em defesa do heavy metal

Alexandre Gonçalves é fã de bandas nacionais como Crypta, Torture Squad, Korzus e Angra — e já usou até música do Slayer em pregação

Um pastor evangélico escreveu um artigo para a Folha de S.Paulo onde falou de sua paixão pelo heavy metal, inclusive nas vertentes mais extremas. O texto serve como um complemento da declaração de outro religioso no jornal, que defendeu o direito dos cristãos de denominação protestante apreciarem a obra do cantor Caetano Veloso.

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Alexandre Gonçalves é pastor pentecostal, além de policial rodoviário federal no estado de Santa Catarina e atuante em causas sociais. Logo no começo do texto, o religioso explicou as diferenças entre os cultos do autor do artigo anterior e o seu próprio, para já deixar claro o que vem por aí.

O religioso disse:

“Diferentemente do culto de liturgia rígida e com som baixo, sendo eu pentecostal, acostumei-me ao culto mais espontâneo e livre, com som mais alto e onde se pode pular e até correr pela igreja. Talvez por isso, minhas referências musicais sejam outras. Desde o chamado power metal do Angra, passando pelo thrash metal do Korzus e indo até o death metal do Torture Squad, para falar apenas de bandas nacionais.”

No texto, Gonçalves cita até um exemplo de músico famoso de heavy metal e evangélico, o que mostra que uma coisa não exclui a outra. Nas palavras do pastor:

“Poucos também sabem que o virtuoso baterista do Angra, meu querido irmão Bruno Valverde, foi criado em uma igreja pentecostal e até hoje toca bateria em uma igreja nos Estados Unidos, onde reside. Ele é um dos exemplos de que é possível ser evangélico e gostar de música pesada, desafiando preconceitos.”

Metal e religião

Ao longo do artigo, Alexandre Gonçalves também conta como a música pesada e a religião podem andar juntas sem problemas. O pastor mostra isso ao citar um encontro que teve com Fernanda Lira, vocalista e baixista da Crypta, e sua relação com as letras do trio brasileiro.

Ele conta:

“No dia que encontrei com a querida Fernanda Lira, vocalista da banda Crypta, uma banda de death metal nacional, que faz grande sucesso fora do Brasil, tocando nos maiores festivais europeus, eu reproduzi a foto desse encontro em minhas redes. Fui xingado de todos os palavrões gospel que podem imaginar, tais como herege e belzebu.

O que esses haters não sabiam era que nosso encontro tinha a ver com gratidão, em face do impacto das letras de suas músicas na vida de minha família naquele momento delicado de pandemia. Canções como ‘From the Ashes’ e ‘Lord of Ruins’ falam da alma destruída, mas que consegue renascer em meio às cinzas.”

O pastor pentecostal contou também sobre o uso de uma música do Slayer como parte de um culto de jovens. A canção escolhida, por incrível que pareça, foi “Disciple”, famosa pelo refrão onde Tom Araya (que por sinal, é cristão católico) grita insistentemente que “Deus odeia a todos nós” (“God Hates Us All”, frase também usada como título do álbum de 2001 da banda). Segundo Alexandre:

“Já utilizei, por exemplo, a música ‘Disciple’, do Slayer, como base para uma mensagem em um culto de jovens. A letra, basicamente, diz que Deus odeia a raça humana, na perspectiva de quem não tem fé e vê as desgraças que ocorrem no mundo e a hipocrisia de cristãos indiferentes ante essas mesmas desgraças.

Eu tenho certeza que Deus não odeia ninguém, mas é importante saber que é assim que muitos pensam e parte disso tem a ver com o comportamento e discurso de ódio de muitos cristãos.”

No fim das contas, a mensagem de Alexandre Gonçalves tem a ver com um preconceito bastante enraizado em alguns grupos religiosos. O pastor faz uma comparação entre as letras de metal extremo com filmes de terror, ao supor que as obras do cinema também deviam ser tão condenadas quanto a música, pelo conteúdo similar, o que não acontece.

O religioso encerrou o artigo com uma citação bíblica. Clique aqui para ler na íntegra.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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