Turnê do Titãs mostrou semelhanças entre pós-ditadura e pós-Bolsonaro, diz Nando Reis

Segundo músico, banda pôde "reiterar o que sempre foi" durante série de shows e mostrar posição em prol da liberdade como no passado

Quando o Titãs surgiu em 1982, o Brasil vivia os últimos momentos de ditadura militar. Poucos anos mais tarde, a partir de 1985, o país iniciou um processo de redemocratização.

Em meio a tal contexto, nas palavras do baterista Charles Gavin, os músicos encontraram “maneiras dentro desse sistema de conseguir se expressar”. Álbuns como “Cabeça Dinossauro” (1986) exerceram extrema importância no período. 

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Décadas mais tarde, a banda continuou entoando as faixas daquela época na turnê de reunião “Titãs Encontro”, iniciada em abril do ano passado e finalizada em março último. Apesar de contextos diferentes, havia muitas semelhanças entre aqueles anos pós-ditadura e o “recente” fim do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022, na opinião de Nando Reis.

Ao jornalista Lucas Brêda para a Folha de S. Paulo, o cantor explicou a comparação. Em suas palavras, a ideia conservadora de “achatar as liberdades individuais e a diversidade” perdurou os quatro anos em que Bolsonaro esteve no poder. Quando a banda iniciou a série de shows, depois que o político deixou o posto, o desejo era de mostrar um posicionamento contrário em prol da liberdade, exatamente como no passado.

O músico disse: 

“Aquelas músicas nunca deixaram de fazer sentido. Independente do contexto em que elas estavam inseridas, há um grau de abertura na interpretação — tanto que algumas foram usadas pela extrema direita. Por exemplo, ‘Bichos Escrotos’ na época da Lava Jato, e ‘Desordem’, em vídeos bolsonaristas. [Na turnê] fui muito atacado, caluniado, vítima de fake news. Mas a gente se manteve coerente. Foi a oportunidade de reiterar o que sempre fomos, e delinear as semelhanças dos momentos políticos e sociais — o pós-ditadura e o pós-Bolsonaro. Essa direita quer achatar as liberdades individuais e a diversidade e, nesse sentido, pensamos o oposto, defendemos a real liberdade.”

Segundo o próprio, já existia uma consciência política entre os integrantes desde que estavam na escola. Ainda assim, o artista destaca que, independentemente disso, não é apoiador de nenhum partido: 

“Mas era só ver ao redor para perceber as coisas inaceitáveis que aconteciam no Brasil e no mundo. E falo isso porque sempre me mantive distante de uma certa militância, de movimentos estudantis. Sempre fui artista. É engraçado porque no colégio Equipe [onde a banda se conheceu] a gente era chamado de alienado, p#rra-louca, bicho grilo. Sempre tive interesse por pessoas com pensamento próprio. Nunca fui de partido, não sou petista.”

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O músico Nando Reis durante show com o Titãs Encontro em dezembro de 2023
Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.show

Por fim, Nando também afirmou que a discografia do Titãs continuaria relevante mesmo que Bolsonaro não tivesse sido eleito em 2018. Isso porque a “qualidade estética e musical” é “indiscutível”, como pontuou:  

“Se não houvesse os quatro anos daquele desastre, as músicas teriam seu lugar e sua força. Há uma qualidade estética e musical indiscutível. Os arranjos são criativos, originais e poderosos. Éramos oito, e tem a ver com o jeito cada um, com as suas predileções e influências impactando de formas diferentes. E daí o resultado é caleidoscópico.”

“Nome Aos Bois” na turnê de reunião

Entre as músicas executadas pelo Titãs na turnê de reunião, figurou “Nome Aos Bois”. Lançada como parte do álbum “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” (1987), a letra cita ex-chefes de Estado que ficaram marcados pelos males causados à humanidade.

Na série de shows em questão, os músicos alteraram a composição e acrescentaram o nome de Jair Bolsonaro. Antes de um dos compromissos em São Paulo, no dia 18 de junho de 2023, Nando Reis declarou conforme transcrição do Estado de Minas

“O Brasil, logo depois da redemocratização, quando basicamente começamos, tinha ali uma promessa de futuro, tinha uma sombra de passado, uma perspectiva. E, de certa maneira, vivemos um quadro aterrador nos últimos quatro anos que faz com que esse reencontro tenha também conexão com o momento onde escrevemos aquelas canções. Por isso, elas estão ainda mais fortes, mais firmes, atuais e expressam aquilo que sempre acreditamos e estamos aqui para reiterar.” 

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

Titãs Encontro

Em nota, o Titãs afirmou que planejava apenas 10 shows para a turnê “Encontro” como um todo, mas os compromissos se multiplicaram de modo a compor um itinerário inicial de 22 datas pelo Brasil, reunindo um público aproximado de 600 mil pessoas. Depois, marcaram outras 30 performances em território nacional, além de outras agendadas para o exterior.

O encerramento aconteceu no Lollapalooza Brasil, em março deste ano. A banda continua com Branco Mello, Sérgio Britto e Tony Bellotto, em compromissos divulgando o álbum “Olho Furta-Cor” (2022).

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Maria Eloisa Barbosa
Maria Eloisa Barbosahttps://igormiranda.com.br/
Maria Eloisa Barbosa é jornalista, 22 anos, formada pela Faculdade Cásper Líbero. Colabora com o site Keeping Track e trabalha como assistente de conteúdo na Rádio Alpha Fm, em São Paulo.

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