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A curiosa amizade entre David Gilmour e John Lydon, que dizia odiar Pink Floyd

Vocalista do Sex Pistols admitiu que camiseta provocativa era apenas uma forma de chamar atenção

Há um famoso ditado que diz: “prego que se destaca leva martelada”. Nos anos 1970, o Pink Floyd foi o prego escolhido pelo Sex Pistols. A lógica por trás da ideia até que fazia sentido para os punks. Afinal de contas, o grupo de Roger Waters e David Gilmour estava no topo do mundo. Para alguém subir até lá, seria necessário retirá-lo.

Sendo assim, o vocalista John Lydon – à época conhecido como Johnny Rotten – costumava ostentar uma camiseta com a escrita “I hate Pink Floyd” (“Eu odeio Pink Floyd”, em português). Hoje, o próprio reconhece que se tratava de uma zoeira muito bem planejada. E funcionou, já que quase meio século depois, aqui estamos escrevendo sobre o assunto.

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Em entrevista de 2014 à revista britânica Uncut, resgatada pela Classic Rock, o cantor disse:

“Toda essa coisa de ‘Eu odeio Pink Floyd’ foi hilária. Qualquer um que levou isso a sério precisa de um novo cérebro. Acontece que eu adoro o Pink Floyd antigo com Syd Barrett – o Sid Vicious original, a propósito – e até mesmo algumas coisas dos anos 70. Apenas odiava a suposição de que eles eram mais santos que Deus e que você não podia dar uma pancada neles.”

Ainda assim, o frontman fez questão de destacar uma relação que acabou se desenvolvendo com a trégua adquirida.

David Gilmour é um grande cara e nos tornamos amigos pessoais.”

Pink Floyd e Sex Pistols “interligados”

Quatro anos antes, à The Stool Pigeon, Lydon admitiu ter formulado uma impressão diferente da realidade ao imaginar como os músicos da banda progressiva eram.

“Você teria que ser idiota como um pincel para dizer que não gostava do Pink Floyd. Eu conheci membros da banda e me dou bem com eles. Não são como as pessoas imaginam. Houve uma espécie de leitura e deturpação através da imprensa.”

Já ao Newsweek, em 2017, “Joãozinho Podre” foi além e estabeleceu uma conexão entre as duas bandas.

“Estamos todos interligados, gostemos ou não. Não crie um inimigo onde você não precisa de um. Você pode não gostar dos sons que o Pink Floyd criou ou o que quer que seja, mas fizeram algo importante para todos nós. Nos fizeram pensar, e qualquer um que pense nunca pode ser meu inimigo.”

A origem da polêmica camiseta

Ano passado, falando à BBC Radio Scotland (via Rock Celebrities), Lydon comentou a origem da camiseta. A intenção não era espalhar “ódio gratuito”, mas provocar o público — que colocava a banda de rock progressivo em alto patamar.

“Se alguém usasse uma blusa escrito ‘eu odeio o Sex Pistols’, não significaria a mesma coisa. O conteúdo da blusa e o que ele significava historicamente foi fascinante para mim, eu amei ser tão atrevido. O Pink Floyd era aceito como a família real. Eles eram considerados sagrados, não podia mexer com eles, ninguém os criticava, eram apenas magníficos.”

Sobrou espaço para celebrar a fase inicial dos amigos, quando a psicodelia tomava conta da obra, guiada por seu primeiro líder.

“De fato, algumas das músicas do Pink Floyd são magníficas, principalmente as mais antigas com Syd Barrett. Na verdade, eu não os odiava, mas sabia que isso despertaria raiva nas pessoas e foi isso que aconteceu.” 

David Gilmour: “Quem poderia nos odiar?”

De sua parte, David Gilmour nutria admiração pelos Pistols. À Q Magazine, em 1999, ele falou:

“Eu não odiava o Sex Pistols, achava que eram muito bons. Eu estive em um show com Johnny Rotten, no Sadler’s Wells, em Londres, na Inglaterra. Ele me disse que nunca odiou o Pink Floyd e que, na verdade, considerava-se meio fã. Confesso que não acreditei muito nisso. Quem poderia nos odiar?”

Na década passada, durante a exibição “Pink Floyd: The Mortal Remains“, Gilmour chegou a posar em frente a uma réplica da camiseta em um mural. Clique aqui para ver.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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