Crypta quase faliu após tornado mesmo com vaquinha, segundo Fernanda Lira

Vocalista e baixista se emocionou ao lembrar de fã que morreu por conta do desastre: "precisei de muita terapia para lidar com isso"

Em 2023, a Crypta passou por uma situação difícil durante turnê pelos Estados Unidos com Morbid Angel, Skeletal Remains e Revocation. O trailer que carregava o equipamento foi totalmente destruído durante a passagem de um tornado por Belvidere, Illinois, Estados Unidos.

O fenômeno natural atingiu o Apollo Theater, onde acontecia a apresentação. Uma pessoa que estava na plateia morreu, com várias outras ficando feridas.

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O grupo contou com uma vaquinha online para ajudar a custear as emergências básicas. Ainda assim, a situação chegou ao extremo de a banda quase falir.

A revelação foi feita por Fernanda Lira durante entrevista ao Heavy Talk. Ela contou, conforme transcrição do site IgorMiranda.com.br:

“É impossível descrever aquelas primeiras 24 horas em um ou dois minutos. Corremos risco de morte. Quando o tornado estava se aproximando nós estávamos lá fora tirando as nossas coisas de dentro da van. Orientaram pegarmos as coisas que precisávamos para trabalhar.”

A operação ainda contou com a dificuldade causada pela imprevisibilidade do desastre.

“O tornado já estava ali e a gente não sabia. Você vê o desenho bonitinho e, de repente, vira uma grande nuvem e vem aquela tempestade. A Luana (Dametto, baterista) quase ficou para trás, mal estava conseguindo andar por conta do vento. Veio um tour manager e puxou ela para dentro. Foi preciso vários homens para fechar a porta. A gente poderia ter morrido.”

Nove minutos e a queda do teto

O terror seguiu com a queda do teto do local. Fernanda recorda até mesmo o tempo em que tudo aconteceu.

“O teto caiu quando a gente tinha acabado de sair do palco. Entre isso e tornado bater foram 9 minutos. Eu tenho cronometrado, tirei print. Poderia ter acontecido ainda no palco e teria sido um estrago não muito legal. Fomos levadas para o porão, o tornado apagou a luz, o teto tremendo… Só lembro de abraçar a Luana e ver o pozinho caindo do teto, igual em filme.”

A reação natural foi aquilo que chamamos popularmente de “ver a vida passar diante dos olhos”.

“Lembro de olhar para a Luana naquele desespero e dizer ‘Foi uma vida massa até aqui, velho, eu curti. Se tiver que ser aqui, foi’. E realmente eu achei que a gente ia morrer ali.”

Fernanda Lira e o aterrorizante pós-tornado

Lira ainda revela que o que veio a seguir foi péssimo, muito pior do que as pessoas imaginam.

“Voltou a luz, ficou aquele silêncio e começamos a ouvir gritos abafados, a gente não sabia o que tinha acontecido lá em cima. Veio um fã ensanguentado dos pés à cabeça e desmaiou na escada. Os meninos subiram e quando voltaram disseram ‘Caiu o teto em cima da galera’. Foi horrível, a sensação é péssima. Desceu uma fã com a cabeça aberta, eu fazendo reiki nela até chegar os bombeiros. Ela desesperada, com o celular explodido, dizendo que precisava falar com a mãe. Emprestei o meu e ela devolveu com uma capa de sangue.”

O choque seguinte aconteceu quando a banda saiu do local e viu a van.

“Quem já assistiu o vídeo sabe o quanto é chocante. A gente com a roupa do show no corpo e um frio do c*ralho. Nossas coisas ficaram lá e não sabíamos se dava pra pegar, porque o prédio foi condenado. No dia seguinte nevou e não tínhamos roupa de frio. Fui praticamente pelada no Walmart. Chegando lá todo mundo comentava sobre o que tinha acontecido. Foi quando caiu a ficha. Eu estava desconectada, no modo sobrevivência.”

A morte do fã também é um acontecimento que não sai da memória.

“Ninguém tem ideia do que é saber que uma pessoa morreu no seu show. E espero que nunca tenham, porque é uma das piores sensações que já experimentei na vida. Eu toco olhando nos olhos das pessoas. Então, eu ficava lembrando e pensando quem daquelas pessoas morreu naquele dia. Precisei de muita terapia para lidar com isso. Todo o resto era possível de resolver. Ele comprou uma camiseta da Crypta antes do show, queria apoiar desde o começo. Quando acharam o corpo, estava com a camiseta penduradinha do lado. São detalhes que a gente não fala, mas foi muito mais profundo do que as pessoas sabem.”

Crypta praticamente quebrou

Finalizando a explanação, Fernanda falou sobre como a vaquinha ajudou no momento urgente. Mas deixou claro que o grupo correu sérios riscos, mesmo com a ajuda.

“A dívida não ficou nos US$ 60 mil da vaquinha, ela chegou a US$ 101 mil, mais de meio milhão de reais. Foi muito difícil. Ali a banda praticamente quebrou em termos de caixa. A partir dali não entrou mais um dólar no bolso. Fomos nos recuperar financeiramente em janeiro desse ano.”

A prestação de contas completa da vaquinha, publicada ano passado, pode ser lida clicando aqui.

Crypta em turnê

A Crypta segue divulgando o mais recente álbum, “Shades of Sorrow” (2023). O quarteto realiza mais uma turnê pela América do Norte ainda este ano. Também há uma apresentação agendada para a próxima edição do Rock in Rio, além de uma curta excursão pelo Brasil com as seguintes datas:

  • 06.09 Goiania GO, Martin Cererê
  • 07.09 Brasília DF, Toinha
  • 08.09 Belo Horizonte MG, Mister Rock
  • 13.09 Teresina PI, Bueiro do Rock
  • 14.09 Fortaleza CE, Festival Ponto Ce
  • 15.09 Rio de Janeiro RJ, Rock in Rio
  • 15.12 São Paulo SP, Cine Joia

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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