Em entrevista de 2022 ao site IgorMiranda.com.br, o guitarrista Michael Romeo disse que as atividades do Symphony X após a pandemia serviriam para “religar os motores”, reativar a já longa carreira, prestes a completar 30 anos atualmente. Deve se tratar de um motor a álcool em dia frio, que requer um longo período de aquecimento.
Antes do pesadelo da covid, a banda já estava em um quase recesso. O último disco de inéditas, “Underworld”, é de 2015. Era de se esperar alguma novidade que justificasse uma nova turnê pelo Brasil. Em 2022, vieram para celebrar o aniversário de 25 anos de carreira. Em 2023, o irrecusável convite para participação no Monsters of Rock. Em 2024? Nenhuma.
Porém, o Symphony X é um caso à parte. A longa relação com o Brasil, iniciada em 2000, permanece estável e frutífera. Dispensa explicações para reencontro. Esta é a décima primeira vinda ao país. Começou com um show bem-sucedido em Belo Horizonte na última sexta (26).
Em São Paulo, um bom público compareceu no último sábado (27), mas longe de ocupar suficientemente o Tokio Marine Hall, que tem capacidade para até quatro mil pessoas. Um setor da casa (cadeiras inferiores, que ficam ao fundo da pista), sequer foi aberto. Algo parecido como foi no show do In Flames, no mesmo local, no fim de 2023.
Luiz Toffoli
Não é possível dizer se foi ironia ou script quando o vocalista Cássio Marcos disse que estava feliz e o quanto era importante ver o lugar lotado. O show da banda Luiz Toffoli havia recém começado e de lotado não tinha nada naquele momento, muito pelo contrário.
Liderado pelo guitarrista curitibano, com nome de ministro de Supremo Tribunal Federal, o grupo é a abertura oficial desta turnê do Symphony X nas três cidades: Belo Horizonte, São Paulo e Curitiba. Fazem um prog metal, consideravelmente diferente da atração principal: mais calcado no Dream Theater, também com um pouco de power metal como influência.
O show começou meio que no susto: pegaram o pequeno público de surpresa, com os músicos no palco sem nenhuma introdução. Ou seja: silêncio quase completo no recinto. Mas foi o único resquício de amadorismo ou falha de produção. Toffoli é um guitarrista exímio e montou um time de igual competência. Além de Cássio Marcos, é acompanhado por Léo Carvalho no teclado, Pedro Tinello na bateria e Marcos Janowitz no baixo.
O repertório foi baseado no disco “Enigma Garden”, lançado em 2023. Antes de encerrarem com “Frenetic Freak”, homenagearam a influência maior com um cover de “As I Am”, cantado pelo, então, crescente público.
O profissionalismo, exuberante, não se restringiu à execução das músicas. Som potente e claro, iluminação dinâmica e adequada, um backdrop e bumbo da bateria personalizados. Está claro que a quantidade astronômica de trabalho e dinheiro investidos estão sendo corretamente canalizados e utilizados. Uma adição coerente e de muito bom gosto ao evento organizado pela Top Link Music.
Symphony X
A casa sequer estava escura quando, cerca de vinte minutos depois, o já mencionado Michael Romeo, Michael LePond (baixo), Michael Pinella (teclados) e Jason Rullo (bateria) entraram no palco. O lance de começar de surpresa era o mote da noite pelo jeito.
O vocalista Russell Allen foi o último a entrar, correndo, usando um tipo de óculos de surfista de gosto duvidoso, bem na hora de começar a cantar os versos de “Iconoclast”. O palco estava mais escuro e o backdrop do Symphony X era pequeno, então a produção não seria um fator a tornar essa passagem por São Paulo especial.
Não que a banda não se esforce. Russell agradece por diversas vezes à plateia ao longo do show e reforça o quanto a banda é grata pelo vínculo especial — o que não é exagero. Alguns dos maiores públicos para os quais a banda já tocou, seja solo ou em festival, foram em terras paulistas.
Allen também corre, muito, para todas as direções. Em “Nevermore”, chegou a correr de lado. Chega a ser engraçado quando corre em torno do próprio estande de microfone e, depois, passa a bater no próprio peito. Vocalistas de bandas de prog metal que não tocam instrumentos costumam ter muito tempo livre no palco. É preciso fazer algo para passar o tempo.
É difícil não focar a análise em Russell. É um dos melhores vocalistas que alguém pode ver em cima de um palco atualmente. Canta com uma facilidade que faz uma cara de quem está dizendo “boa noite” enquanto alcança notas e interpreta de uma maneira que beira o impossível para a maioria dos mortais. O final à capella em “To Hell and Back” foi um desses momentos. O frontman é o fator determinante que dá relevância ao hard rock à la Deep Purple e Rainbow com quebradeira e duração característicos do prog metal que o Symphony X pratica.
O que o restante da banda faz não é simples, embora tampouco memorável. Principalmente no caso de Jason Rullo, que toca forte e sem atalhos os intricados arranjos. Ele e Michael Lepond seguraram incansavelmente e sozinhos “Run with the Devil”, que foi tocada em versão alongada enquanto Russell Allen conversava com a plateia e apresentava a banda.
Vale destacar como o vocalista apresentou Michael Romeo: “nós o chamamos de muitas maneiras, mas as três que mais gostamos são ‘amigo’, ‘irmão’ e ‘família’”. Antes de que todos pudessem fazer uma pausa para descanso, ainda teve “Set the World on Fire”.
O público chamou em alto bom som a banda durante o intervalo antes do bis. Russell anunciou que um disco novo será lançado ano que vem. Essa notícia e o setlist mais longo do que o normal (12 músicas em vez das 9 ou dez que normalmente aparecem) podem ter sido as novidades de mais essa passagem do Symphony X pelo Brasil — que certamente não será a última.
Symphony X — ao vivo em São Paulo
- Local: Tokio Marine Hall
- Data: 27 de julho de 2024
- Turnê: Latin American Tour
- Produção: Top Link Music
Repertório:
- Iconoclast
- Nevermore
- Inferno (Unleash the Fire)
- Serpent’s Kiss
- Without You
- To Hell and Back
- Evolution (The Grand Design)
- Run With the Devil
- Set the World on Fire (The Lie of Lies)
Bis:
- Paradise Lost
- Out of Ashes
- Of Sins and Shadows
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