Se o clima frio sentido no Rio de Janeiro na última sexta-feira (12) não era o mais costumeiro da cidade, o som que rolou no Sacadura 154 também não era o mais corriqueiro na Cidade Maravilhosa. A banda americana Suicidal Tendencies subiu ao palco do Sacadura 154, tendo a abertura de DFC, Eskröta e Pavio, refletindo ótima curadoria. Noite de som rápido e pesado para amantes de hardcore, thrash metal e da união entre ambos — o crossover.
O local escolhido para o evento tem se mostrado uma excelente opção para shows que são grandes para um Circo Voador, mas pequenos para uma casa do porte do Vivo Rio. Com boa acessibilidade — metrô e VLT possuem estações não muito distantes —, a região começa a adquirir maior movimentação, ainda que a segurança no entorno e acessos possa ser melhor trabalhada pelas autoridades.
Pavio: hardcore visceral na veia
Com a responsabilidade de abrir os trabalhos, os cariocas do Pavio iniciaram sua apresentação às 20h. Diante de um público já numeroso, não economizaram na agressividade, sonora e lírica, com seu hardcore sujo e seco.
O set teve apenas 30 minutos, mas o grupo formado por Marcelo Prol (voz), Pedro Henrique Licco (guitarra), João Paulo Mugrabi (baixo) e Cynthia Tsai (bateria) não desperdiçaram um segundo sequer, enfileirando pedradas atrás de pedradas.
Chamou atenção a nitidez e boa equalização do som, algo incomum a ser oferecido para bandas de abertura. Temas como “Racista, você não é bem vindo aqui”, “Execução Sumária” e o encerramento com “Estado Livre” se destacaram em meio ao repertório.
Repertório — Pavio:
- Pavio
- Racista, Você Não é Bem Vindo Aqui
- Execução Sumária
- Manifestos / Reação
- Servir e Proteger
- O Jogo Vai Virar
- Estado Livre
Eskröta e sua dose cavalar de thrash metal
Formada por Yasmin Amaral (voz e guitarra), Tamy Leopoldo (voz e baixo) e Jhon França (bateria), a Eskröta deu o seguimento na noite com uma performance avassaladora. A banda, de sonoridade agressiva e letras que colocam as mulheres em primeiro plano, logo conquistou o público com a dobradinha “Grita” e “Playbosta”.
O setlist, composto ainda por faixas como “Cena Tóxica”, “Não entre em Pânico”, “Homem é assim mesmo”, “Mosh Feminista” e “Instagramável”, explorou diferentes facetas do seu thrash metal com toques de punk e hardcore, sempre com riffs cortantes.
Com seu baixo em evidência, Tamy também alternou vocais com Yasmin em algumas partes, em boa demonstração de entrosamento — notado não só entre elas, como também por parte de Jhon França, responsável por impulsionar a fúria sonora do trio.
O fim do set da Eskröta se deu com “Mulheres”, hino de empoderamento que exaltou a força feminina em um meio predominantemente masculino.
Repertório — Eskröta:
- Grita
- Playbosta
- Cena Tóxica
- Episiotomia
- Não entre em Pânico
- Exorcist in the Pit
- Homem é assim mesmo
- Mosh Feminista
- Filha do Satanás
- Eticamente Questionável
- Instagramável
- Mulheres
DFC com forte dose de hardcore
Última atração de abertura, o DFC demonstrou sua energia costumeira e levou o público ao delírio. A banda brasiliense, composta por Túlio (vocal), Miguel (guitarra), Fabrício (bateria) e Luca (Possuído pelo Cão, baixo, substituindo o baixista oficial, Leonardo, que não pôde viajar), entregou um show insano, com seu punk/hardcore com pitadas de thrash e até grind, marcado por riffs rápidos e batidas implacáveis.
Músicas como “P.N.C. do Capitalismo em Posições Obscenas”, “Lucro é o fim” e “Petróleo Maldito” fizeram a galera cantar junto e criaram um grande mosh pit que dominou o Sacadura 154.
A abordagem política sempre tem espaço adicional para o bom humor. Túlio sempre apresenta as canções como “temas românticos”, com deboche direcionado até a si mesmo. Ao final, saíram ovacionados pelos cariocas que sentiram falta de suas passagens por aqui.
Repertório — DFC:
- P.N.C. do Capitalismo em Posições Obscenas
- Petróleo Maldito
- Sou o Mesmo fdp
- Porrada de rua
- Todos eles te odeiam
- Inferno na Terra
- Conversa para boy dormir
- O Mal da liberdade
- Lucro é o fim
- Demônio da fé cristã
- Censura
- Vai se fuder no inferno
- Existência ignóbil
- Guilhotina
- Molecada 666
Suicidal Tendencies e o perfeito equilíbrio de thrash e hardcore
Para fechar a noite com chave de ouro, o Suicidal Tendencies, liderado pelo icônico vocalista Mike Muir, brindou o público do Sacadura 154 com uma performance magistral. O grupo se apresentou completo por Dean Pleasants (guitarra), Jay Weinberg (bateria), Tye Trujillo (baixo) e Tim Stewart (guitarra) — este último substituindo Ben Weinman, ausente apenas da turnê nacional.
A banda, que começou sua carreira mais centrada no hardcore, mas foi adicionando mais elementos de thrash no decorrer do tempo, mescla de maneira mais equilibrada características de ambos os gêneros. O resultado é um show eletrizante, que logo de cara revisita clássicos como “You Can’t Bring Me Down” e “I Shot the Devil”. O repertório só melhora com sons do porte de “War Inside My Head”, “Subliminal” e “Possessed to Skate”, todas muito celebradas pelos presentes.
As performances individuais dos músicos são bem afiadas e todos jogam para o time. Todavia, é inevitável destacar Mike Muir, que esbanja carisma, liderança e disposição — o cantor, que participou de um show do Planet Hemp em São Paulo no dia anterior, não para em uma determinada posição por mais de 5 segundos. O jovem Tye Trujillo, que ainda ganhou holofotes nos solos de baixo de “Send Me Your Money”, também surpreendeu positivamente.
Em meio a tantos clássicos (e moshpits), um dos destaques do set foi a execução de “Nós Somos Família”, regravação de “We Are Family” e faixa cujo título dá nome à tour. Como na gravação disponibilizada recentemente, a canção trouxe vários convidados do Brasil — naquela noite, muitos dos artistas que se apresentaram na abertura. A festa que já ocorria na pista desde os primeiros acordes fez um primeiro movimento de transbordar para o palco.
Tal movimento se completou algumas músicas depois. Mais especificamente, no final apoteótico com “Pledge Your Allegiance”. Aos primeiros gritos de “ST”, a catarse foi geral e, agora, o próprio público “invadiu” o palco, a convite do próprio Mike. Era tanta gente que já não se via mais a banda — o que pouco importou naquele contexto.
Um final perfeito e altamente compatível com o nome da tour. Já não existia mais distinção entre público e bandas: era tudo tão somente uma grande família reunida.
*O Suicidal Tendencies se apresenta ainda em São Paulo (13/07, Esquenta Rockfun Fest, gratuito, mas com retirada de ingressos esgotada), Curitiba (14/07, Tork n’ Roll), Florianópolis (16/07, John Bull) e Belo Horizonte (17/07, Mister Rock).
Suicidal Tendencies — ao vivo no Rio de Janeiro
- Data: 12 de julho de 2024
- Local: Sacadura 154
- Turnê: Nós Somos Família
- Produção: Estelita / Rider2 / Demétrio / New Direction
Repertório — Suicidal Tendencies:
- You Can’t Bring Me Down
- Lost Again
- I Shot the Devil
- Send Me Your Money
- War Inside My Head
- Memories of Tomorrow
- Freedumb
- Subliminal
- Lovely
- Possessed to Skate
- I Saw Your Mommy
- We are Family (Nós Somos Família)
- Cyco Vision
- How Will I Laugh Tomorrow
- Pledge Your Allegiance
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