Steve Albini foi um produtor lendário com ojeriza ao rótulo

Americano veio a se tornar uma espécie de anti-herói do rock graças a sua abordagem despida de toda e qualquer firula

Todo grande produtor tem um som característico, uma firula particular que faz sua abordagem única. Steve Albini, cuja morte aos 61 anos foi anunciada nesta quarta-feira (8), era a antítese disso.

O americano, notório pelos trabalhos com Nirvana, Pixies, PJ Harvey, Bush, Page & Plant, Helmet e vários outros, construiu uma carreira ilustre na indústria musical tentando ao máximo se remover da equação sonora. Chegou ao ponto de recusar o crédito de produção, preferindo a atribuição apenas de “gravação”.

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Entretanto, esse método o tornou singular e vital. E músicos de todo o planeta, independente de gênero, buscavam seus serviços pela fidelidade à performance.

Ele era um mestre da arte de registro sonoro na sua forma mais pura, com todas as imperfeições aparentes. Sua discografia consegue soar agressiva a ponto de ser difícil escutar e também carregar uma intimidade assustadora. Isso porque, ao seu ver, o importante era o artista e sua obra.

Quem era Steve Albini

Nascido em Pasadena, na Califórnia, Steve Albini viveu uma infância itinerante antes de sua família se estabelecer no estado de Montana durante os anos 1970.

Durante a adolescência, descobriu o punk através de um amigo lhe mostrar o primeiro álbum dos Ramones. Sua vida ganhou propósito. 

A cena punk veio a conhecê-lo quando ele se matriculou na Northwestern University, em Chicago. O jovem Albini era um estudante de jornalismo e logo começou a contribuir para zines locais e nacionais.

Seu tom era ácido. Suas opiniões, polêmicas. As tretas acumuladas durante esse período, impossíveis de contabilizar. O mesmo pode ser dito sobre o som da banda responsável por torná-lo uma figura importante no rock underground: Big Black.

Originalmente um projeto solo, o Big Black logo cresceu com as entradas de Jeff Pezzatti e Santiago Durango, ambos do Naked Raygun, e do baterista Pat Byrne, logo substituído por Dave Riley.

O som do grupo era extremo, beirando o industrial e o noise. As letras escancaravam a podridão da natureza humana. Toda e qualquer convenção sonora do rock era rejeitada com ódio.

Ao longo de seis anos, eles escreveram não apenas a cartilha de como um grupo poderia soar, mas também conduzir seus negócios. Albini não tinha apenas opiniões polêmicas, mas princípios dos quais não abria mão de jeito nenhum.

Ele firmou um acordo com a Homestead Records no qual a gravadora independente apenas licenciou os direitos de lançar material do Big Black por um período de tempo. Ao fim desse tempo, assinaram com a Touch & Go, selo de Chicago no qual o músico permaneceu pelo resto da carreira.

Produtor por acaso

A carreira de Steve Albini como produtor veio por acaso. Ele começou a gravar bandas locais para ter renda além do Big Black e desenvolveu um interesse pelas tecnologias de gravação.

Apesar de não trabalhar com ninguém fora de seu círculo de amigos, a 4AD o contatou em 1987 para produzir “Surfer Rosa”, álbum de estreia dos Pixies

Ele aceitou, e o sucesso do disco no Reino Unido o levou ao Nirvana, com quem trabalhou em “In Utero”, lançado em 1993. A abordagem de Albini no disco ficou imortalizada por um fax no qual expôs suas opiniões e princípios quanto à sonoridade e negócios. O produtor era famoso por se recusar a aceitar royalties por seu trabalho, argumentando ser um insulto ao artista fazê-lo.

“In Utero” cimentou seu nome na história do rock. Por mais que tenha trabalhado mais 30 anos e gravado milhares de outros artistas, o som desse álbum o transformou num anti-herói alternativo. Ele era um guardião da pureza do som, da performance. O cara responsável por manter guitarras perigosas, seja na sua função em estúdios ou no grupo Shellac.

Só não chame ele de produtor, porque Steve Albini não se considerava um.

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A morte de Steve Albini

Morreu aos 61 anos o músico e produtor Steve Albini. A informação foi confirmada ao site Pitchfork pela equipe de seu estúdio de gravação, Electric Audio.

De acordo com a publicação, Albini faleceu em decorrência de um infarto. Não foram divulgadas outras informações a respeito.

Uma de suas bandas, o Shellac, lançaria seu primeiro álbum em uma década, “To All Trains”, na próxima semana. O grupo ainda não se manifestou sobre manter ou adiar o disco.

Discografia parcial como engenheiro

  • Dark Arts – “A Long Way from Brigadoon” (1985)
  • End Result – “Ward” EP (1985)
  • Urge Overkill – “Strange, I…” (1986)
  • Slint – “Tweez” (1987)
  • Pixies – “Surfer Rosa” (1988)
  • UrgeOverKilldozer a/k/a Kill and Kill Again – “Evil Womyn” (1988)
  • Urge Overkill – “Jesus Urge Superstar” (1988)
  • The Jesus Lizard – “Pure” (1989)
  • The Breeders – “Pod” (1990)
  • The Jesus Lizard – “Head” (1990)
  • Wreck – “Soul Train” (1990)
  • The Jesus Lizard – “Goat” (1991)
  • Urge Overkill – “The Supersonic Storybook” (1991)
  • Helmet – “Meantime” – música “In The Meantime” (1992)
  • Fugazi – “In on the Kill Taker” – em gravações não oficiais (1992)
  • Crow – “My Kind of Pain” (1993)
  • PJ Harvey – “Rid of Me” (1993)
  • Nirvana – “In Utero” (1993)
  • Zeni Geva – “Desire for Agony” (1993)
  • Jawbreaker – “24 Hour Revenge Therapy” (1993)
  • The Jesus Lizard – “Down” (1994)
  • Tar – “Over and Out” (1995)
  • Palace Music – “Viva Last Blues” (1995)
  • Silkworm – “Firewater” (1996)
  • Brainiac – “Hissing Prigs in Static Couture” (1996)
  • A Minor Forest – “Flemish Altruism (Constituent Parts 1993–1996)” (1996)
  • Bush – “Razorblade Suitcase” (1996)
  • Burning Witch – “Towers…” (1996)
  • Cheap Trick – “In Color” versão não lançada (1997)
  • Plush – “More You Becomes You” (1998)
  • Jimmy Page & Robert Plant – “Walking into Clarksdale” (1998)
  • Neurosis – “Times of Grace” (1999)
  • Chevelle – “Point #1” (1999)
  • Don Caballero – “American Don” (2000)
  • Neurosis – “Sovereign” (2000)
  • Low – “Things We Lost in the Fire” (2001)
  • Flogging Molly – “Drunken Lullabies” (2002)
  • The Breeders – “Title TK” (2002)
  • Cheap Trick – “Special One” (2003)
  • Songs:ohia – “Magnolia Electric Co.” (2003)
  • Living Things – “Black Skies in Broad Daylight” (2004)
  • Cheap Trick – “Rockford” (2006)
  • The Stooges – “The Weirdness” (2007)
  • Scott Weiland – “‘Happy’ in Galoshes” (2008)
  • Manic Street Preachers – “Journal for Plague Lovers” (2009)
  • Jarvis Cocker – “Further Complications” (2009)
  • Foxy Shazam – “Gonzo” (2014)
  • Ty Segall – “Ty Segall” (2017)
  • The Breeders – “All Nerve” (2018)
  • Sunn O))) – “Life Metal” (2019)
  • Sunn O))) – “Pyroclasts” (2019)
  • Frank Iero and the Future Violents – “Barriers” (2019)
  • Laura Jane Grace – “Stay Alive” (2020)
  • Code Orange – “The Above” (2023)

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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