Raul Seixas não costumava usar a ironia e o deboche apenas em suas músicas. O ícone do rock brasileiro tinha opiniões bastante distintas até mesmo em relação a outros artistas nacionais. Como foi o caso dos Paralamas do Sucesso.
O cantor baiano deu à banda de Herbert Vianna o apelido “Para-choques do Fracasso” no período em que o trio começou a aparecer com força na mídia, sendo uma das cabeças do levante oitentista do Brock.
Rick Ferreira, guitarrista que trabalhou com Raulzito, comentou a situação em entrevista ao jornalista Julio Ettore – transcrita pelo Whiplash. Ele disse:
“Eu sei que o Raul Seixas não gostava dos Paralamas do Sucesso. Ele chamava de ‘Para-choques do Fracasso’. Ele não curtia aquela onda de ska deles. Sendo bem sincero, também não é um som que me emociona. Eles são ótimos músicos e tudo mais. O Raul não gostava da banda. Ele não curtia também Tropicália, Bossa Nova e tal. No caso do Paralamas, era esse negócio do ska e do reggae.”
Se desculpando (mas nem tanto) com os Paralamas do Sucesso
Em entrevista de 1986 à revista Bizz – também resgatada pelo Whiplash –, Raul explicou que não se tratava de algo a ser levado a sério.
“Foi uma brincadeira. Eu gosto deles sim, mas naquela linha que não é rock..n..roll. O que os conjuntos atuais precisam entender é que eles não têm de acompanhar o processo a que estão sendo induzidos inocentemente. Eles não têm uma estrutura sólida, estão aceitando ir com a corrente, totalmente disponíveis. Foi o que aconteceu com os hippies que, com o tempo, passaram até a comprar roupas ‘hippies’ nas lojas do Sistema.”
No ano seguinte, em declaração resgatada pelo canal de Reginaldo Gomes, Raul ponderou sobre o panorama do rock na década de 1980, caracterizando a geração como portadora de uma certa ingenuidade.
“Na era dos Beatles, experimentamos o psicodelismo, imerso na atmosfera das drogas e afins. Contudo, nos anos 1980, percebo que pouco está ocorrendo, exceto por questões mais pessoais em cada país. Há o rock na Rússia e no Brasil, com o surgimento dessas bandas. Existe todo esse movimento, mas é uma perspectiva histórica. Estão cantando sobre o que existe, embora de maneira romântica. Acredito que houve uma regressão musical. Eles parecem um tanto ingênuos! [risos]. Para mim, o rock n’ roll como movimento morreu em 1959. O que sobrou foi o marketing. Cerca de 10 anos depois, surgiu outro movimento com os Beatles.”
Os últimos anos de Raul Seixas
Em 1987, Raul Seixas lançou o álbum “Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!”, que faturou disco de ouro. Menos de um ano depois saiu “A Pedra do Gênesis”. Em 19 de agosto de 1989 foi disponibilizado “A Panela do Diabo”, disco em parceria com Marcelo Nova.
Dois dias mais tarde, o cantor foi encontrado morto no seu apartamento em São Paulo, vítima de uma parada cardíaca. Seu alcoolismo, agravado pelo fato de ser diabético, e por não ter tomado insulina na noite anterior, causaram-lhe uma pancreatite aguda fulminante.
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Estranho o Rick Ferreira citar que o Raul não gostava de ‘reggae’. Acredito que ele deve ter dito isso sobre o trabalho do grupo Paralamas, pois afinal, ele gravou ”Ide a mim dada” (cujo nome é inspirado no ditador Idi Amin Dada, de Uganda, da década 70s). Na época em que nomes do reggae como Bob Marley, já estavam consolidados no mundo, o Raul foi um dos primeiros no Brasil, a gravar uma musica deste gênero.