Na segunda metade dos anos 1980, o Black Sabbath viveu um entra-e-sai constante de músicos. A situação se tornou motivo de piada – o que hoje seria considerado um meme – dentro da própria cena do rock e do metal. Quem não ficou feliz em ver o nome da banda se afundando dessa forma foi Ozzy Osbourne.
Porém, Tony Iommi não estava disposto a entregar os pontos. As coisas se estabilizaram um pouco quando do lançamento de “Headless Cross” (1989), com Tony Martin nos vocais e Cozy Powell na bateria – o baixista Neil Murray entraria para a turnê, sacramentando aquela formação de vez.
Em entrevista à mais recente edição da revista Classic Rock, que cobre esse período, o guitarrista exaltou a própria resiliência diante das dificuldades.
“Você tem duas opções: se entrega ou luta. E eu certamente não sou do tipo que desiste. Faz parte da minha personalidade. De uma forma ou de outra, eu sempre tento continuar.”
Cozy Powell x Ozzy e Sharon Osbourne
O momento que irritou o Madman se deu durante uma declaração de Cozy para a revista RAW em 1990. Referindo-se ao cantor e sua esposa, a empresária Sharon Osbourne, o instrumentista disse:
“O ‘outro lado’ preferia que o Black Sabbath terminasse. Assim, poderiam seguir suas carreiras e ganhar um pouco mais de dinheiro. Infelizmente para eles, não iremos embora nem vamos morrer tão facilmente.”
É difícil saber o quanto a existência da banda realmente incomodava os Osbournes no período. Afinal de contas, o grupo sequer tinha uma exposição fora do Reino Unido, devido a um contrato com o selo local IRS, que limitava muito suas ações – o que os próprios reconheciam.
Ao mesmo tempo, Ozzy era consolidado em todo o mundo, incluindo o maior mercado, o americano, de forma que os ex-colegas jamais conseguiram. Ainda assim, ele não gostou nada da declaração do hoje saudoso percussionista. A solução foi enviar uma carta à mesma publicação expondo sua visão sobre o tema.
“Mr Black Sabbath e seus três Droogs”
O texto abre se dirigindo a Tony Iommi e a formação vigente como “Mr Black Sabbath e seus três Droogs”. Droog foi uma gíria estabelecida pelo filme “Laranja Mecânica” para a gangue do protagonista. Osbourne prossegue dizendo:
“Eu não me importo com a formação que você tem, você poderia ter qualquer um, de Dio a Pavarotti, e nunca será Sabbath. Não menospreze essa banda, Tony, siga em frente.”
A Cozy, a mensagem não foi nada cortês.
“Tente tirar essa baqueta do seu c* para poder pensar com clareza.”
Nem mesmo Neil Murray escapou, com o Madman projetando a reunião da formação original e avisando:
“Prepare-se para seu novo emprego, como roadie de Geezer Butler.”
Tony Martin sequer teve o nome mencionado. Ozzy concluiu falando:
“Eu adoraria dizer tudo isso na cara de vocês, maricas, então me chamem em qualquer lugar a qualquer hora.”
Tony Iommi apaziguando
Lembrado do ocorrido pela Classic Rock, Tony Iommi adotou a diplomacia. Após dizer não lembrar do momento, arrematou:
“Tivemos mágoas, mas são águas passadas. Ozzy e eu passamos por tantas coisas. Toquei no último álbum dele e mantemos contato todas as semanas. A maneira positiva como as coisas aconteceram entre nós é realmente uma loucura.”
Black Sabbath e “Anno Domini 1989-1995”
Em 31 de maio, o Black Sabbath lança um box set intitulado “Anno Domini 1989-1995”, que traz todos os álbuns gravados nesse período, com exceção de “Dehumanizer”, de 1992. Trata-se de um verdadeiro documento da “era Tony Martin” da banda, o que explica a exclusão do disco de retorno de Ronnie James Dio.
O box contém versões remasterizadas de “Headless Cross” (1989), “Tyr” (1990) e “Cross Purposes” (1994), além de uma nova versão de “Forbidden” (1995) remixada por Tony Iommi especialmente para a ocasião.
Vários desses discos serão disponibilizados pela primeira vez em vinil. Já a versão em CD contém três faixas bônus exclusivas: o lado B “Cloak & Dagger” e as anteriormente exclusivas para o mercado japonês “What’s The Use” e “Loser Gets It All”.
O material acompanha um livreto com fotos, capas e liner notes escritas por Hugh Gilmour. Contém ainda um pôster de “Headless Cross” e uma réplica do concert book da turnê do mesmo álbum.
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