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Kings of Leon oferece diversão para si em “Can We Please Have Fun”

De gravadora nova, grupo americano lança nono álbum de estúdio com abordagem mais experimental sem abdicar da coesão

Na última quinta-feira (10), foi promovida uma audição exclusiva do novo disco do Kings of Leon, “Can We Please Have Fun”, nos Estúdios Guidon, em São Paulo.

Antes de irmos propriamente às músicas, Mariana Moreira, gerente de produtos da gravadora Universal, destacou que o nono disco de estúdio feito pelo quarteto americano de Nashville apresenta a tecnologia Dolby Atmos. Com aparelho e plataforma adequados, o ouvinte desfruta da música como se estivesse no meio da sala de ensaio, com a banda ao redor. É notório como, ao mesmo tempo, redes sociais e dispositivos eletrônicos são desenvolvidos no sentido de diminuir ao máximo distância entre ouvinte e artista, quase que colocando-os no mesmo patamar. Fica o convite à reflexão se isso é ou não é bom, correto e/ou necessário.

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“Nós podemos nos divertir um pouco?”, tradução do título, “Can We Please Have Some Fun”, parecia indicar alguma mudança na direção de uma banda que tem o costume de não ser divertida. Tal característica costuma se manifestar tanto em material gravado, quando lembramos de músicas como “Closer”, quanto  ao vivo, como destacou o colega deles de profissão Brian Molko, vocalista do Placebo, em entrevista onde os chamou de “bonecos de cartolina”.

O produtor, Kid Harpoon, já trabalhou com Shakira, Florence + The Machine e Harry Styles. Reforçou a impressão de que novos tempos estão chegando.

Contudo, quem afirmar que foi isso o que aconteceu está fadado a um encontro com Celso Russomano por propaganda enganosa. Aqui, quem se diverte é o Kings of Leon. O “nós” são eles. Aceitar o convite para se entreter com eles vai render uma viagem e tanto.

Coesão e experimentos

“Ballerina Radio”, a primeira faixa, traz o frontman Caleb Followill cantando em forma de lamento após uma introdução onde um instrumento que parece ser um mensageiro dos ventos soa mais alto do que a guitarra. A bateria, reta e sem firulas, só aparece no minuto final. O eixo principal do disco está dado, sem muitas diferenças ao longo das outras 11 músicas.

O maior mérito de “Can We Please Have Some Fun” é a coesão. O material foi claramente pensado como um todo. É como o livro “O Jogo da Amarelinha” do Júlio Cortázar, em que os capítulos podem ser lidos na ordem normal ou na sequência numérica sugerida pelo autor na introdução. Isso quer dizer que a experiência de quem ouve “Can We Please Have Fun” inteiro e de quem ouve as canções aleatoriamente são diferentes e complementares: fazer os dois mostra aspectos distintos da obra.

De um jeito ou de outro, o que vai ser encontrado é um disco com muitos espaços, o baixo e sintetizador de Jared Followill presentes e claros, a guitarra de Matthew Followill beirando a ausência e a bateria de Nathan Followill soando suja, distorcida, quase abafada.

Caleb é quem mais experimenta. Em “Mustang”, já conhecida dos brasileiros por ter sido tocada no show em substituição ao Paramore no Lollapalooza 2024, e em “Nothing to Do”, há registros que vão da voz falada (caso da primeira), ao berro (na segunda, a mais pesada do disco). “Peso” é um conceito a ser usado com bastante ressalva aqui, bem como características “dançantes”, casos de “Nowhere to Run” e “Ease Me On”.

“Seen” é um indie rock clássico, na toada de Pavement (que vem ao Brasil no C6 Fest) e Pixies. O andamento se mostra lento, mas com alguns dos tons mais altos cantados por Caleb, em momentos em que o timbre se aproxima muito ao de Humberto Gessinger (pode conferir, é por volta dos dois minutos). Arranjos tímidos de guitarra e baixo, sintetizador e aquele mensageiro dos ventos encerram o disco, tal qual como começou.

Satisfatória preguiça em ser comercial

Uma banda gigante lançar um álbum que nem disfarça a preguiça em ser comercial não é algo que se vê todo dia – e é o primeiro lançamento pela nova gravadora, Universal. Mesmo em momentos mais pop, como em “Don’t Stop the Bleeding”, o riff cantarolável é feito pelo baixo e não há um refrão para o ouvinte chamar de seu.

O Kings of Leon se esforçou a produzir uma obra que inicia uma conversa em vez de atender à solicitação de terceiros, sejam fãs, gravadoras, ou profissionais do entretenimento que gostariam de um show mais enérgico. Foram bem-sucedidos nisso.

*Ouça “Can We Please Have Fun” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

*O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Kings of Leon – “Can We Please Have Fun”

  1. Ballerina Radio
  2. Rainbow Ball
  3. Nowhere To Run
  4. Mustang
  5. Actual Daydream
  6. Split Screen
  7. Don’t Stop The Bleeding
  8. Nothing To Do
  9. Television
  10. Hesitation Generation
  11. Ease Me On
  12. Seen

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Rolf Amaro
Rolf Amarohttps://igormiranda.com.br
Nasceu em 83, é baixista do Mars Addict, formado em Ciências Sociais pela USP. Sempre anda com o Andreas no braço, um livro numa mão e a Ana na outra.

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