Em 30 de janeiro de 1969, os Beatles realizaram o seu último show. De maneira histórica, a banda subiu ao telhado da corporação Apple Corps, em Londres, onde tocaram nove números. A performance ganhou gravações em áudio e vídeo e acabou eternizada no documentário “Let It Be” (1970), recentemente remasterizado, e na série “Get Back” (2021).
Fato é que, por pouco, a apresentação não aconteceu. Em coletiva de imprensa realizada para divulgar a nova versão do filme mencionado, disponibilizada pela Disney+ na última quarta-feira (8), o produtor Jonathan Clyde explicou o motivo.
Segundo o profissional (via NME), os quatro integrantes não pareciam muito interessados de tocar no telhado. Na véspera, todo o aparato encontrava-se pronto, assim como a equipe, mas os músicos “fugiram” do compromisso.
Ele declarou:
“Um dia antes do show, já tinham montado toda a estrutura, toda a equipe estava pronta, todo o equipamento estava lá e a banda falou, ‘sim, mas não tocaremos hoje’. Michael Lindsay-Hogg estava arrancando os cabelos porque ele, como diretor, tinha que encontrar o momento ideal para as filmagens do show. Ele sentiu certa responsabilidade.”
John Harris, colunista do The Guardian responsável por editar o livro “Get Back” (composto por transcrições de conversas do quarteto), confirmou a versão. Especificamente, mencionou a falta de vontade demonstrada pelo saudoso guitarrista George Harrison na noite anterior.
“O fato de que eles conseguiram tocar no telhado foi meio que um final feliz. Era algo incerto. A história é que, até a noite anterior, George disse que não queria fazer o show e havia um ceticismo geral. Eles chegam na porta do telhado e ficaram parados até que John falasse ‘f#da-se’ e então eles entraram. É realmente lindo de uma maneira modestamente espetacular. Não é um show sobre pirotecnia, é sobre os grandes músicos que eles eram e sobre Londres na época também.”
Beatles e a apresentação final no telhado
O repertório dos Beatles no topo da Apple Corps teve nove músicas. A saber:
- “Get Back” (tomada um)
- “Get Back” (tomada dois)
- “Don’t Let Me Down” (tomada um)
- “I’ve Got a Feeling” (tomada um)
- “One After 909”
- “Dig a Pony”
- “I’ve Got a Feeling” (tomada dois)
- “Don’t Let Me Down” (tomada dois)
- “Get Back” (tomada três)
A sede da Apple fica localizada no meio de Saville Row, uma das ruas mais tradicionais de Londres, onde alguns dos melhores alfaiates do planeta estão sediados. E a 300 metros de uma delegacia. Então, a banda sabia muito bem que a interrupção do show pela polícia não era uma questão de “se”, e sim “quando”.
Esse “quando” foi bem no meio do set. Enquanto os Beatles começavam a tocar “One After 909”, os policiais Ray Dagg e Ray Shayler apareceram na portaria da Apple para acabar com a performance. A esse ponto, além das reclamações de barulho feitas por comércios adjacentes, uma multidão se formou na rua. Afinal, era um show da maior banda do planeta.
No meio da canção, sob instrução dos policiais, o assistente Mal Evans desligou os amplificadores de guitarra de George Harrison e John Lennon. Os dois simplesmente religaram e continuaram a tocar.
Ao final da apresentação, John falou uma frase que acabou aparecendo na versão final do disco:
“I’d like to say thank you on behalf of the group and ourselves, and I hope we’ve passed the audition.” [“Eu gostaria de agradecer em nome do grupo e nós mesmos, e espero que tenhamos passado no teste”]
Sobre o filme “Let It Be”
Após sua exibição programada, “Let It Be” não foi disponibilizado pelos Beatles em nenhum formato. Fãs só tiveram acesso oficialmente ao material a partir da série expandida “The Beatles: Get Back”, que resgatou mais materiais produzidos por Michael Lindsay-Hogg entre os dias 2 e 31 de janeiro de 1969. Na época, o Fab Four trabalhava em estúdio na criação de um álbum que seria intitulado “Get Back”, mas acabou se tornando “Let It Be”.
A ideia era produzir um especial de TV na época. Contudo, o projeto se transformou no documentário de 1970.
A versão repaginada em termos audiovisuais foi trabalhada pelo cineasta Peter Jackson, responsável pela série mencionada, e sua equipe na Park Road Post Production. O diretor original, Michael Lindsay-Hogg, auxiliou no processo — que, conforme apontado pelo Ultimate Classic Rock, contou com remasterização usando o negativo original de 16 mm.
Em nota à imprensa, Jackson celebrou o projeto e se declarou “absolutamente emocionado” pela remasterização. Também em comunicado, Hogg destacou que a remasterização visa tirar a imagem negativa atribuída ao documentário na época de seu lançamento.
“Sempre achei que ‘Let It Be’ era necessário para completar a história de ‘Get Back’. Em três partes, mostramos Michael e os Beatles filmando um novo documentário inovador, e o documentário é justamente ‘Let It Be’, de 1970. Agora penso nisso tudo como uma história épica, finalmente concluída após cinco décadas. Os dois projetos se apoiam e se aprimoram: Let It Be é o clímax de Get Back. […] Michael Lindsay-Hogg foi infalivelmente prestativo e gentil enquanto eu fazia Get Back, e é justo que seu filme original tenha a última palavra… parecendo e soando muito melhor do que pareceu em 1970.”
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