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Turnstile promove sessão de descarrego com show em SP

Apresentação intensa não economiza na pancadaria paz-e-amor típica do quinteto americano de Baltimore

O Turnstile encerrou sua segunda turnê sul-americana, produzida pela Live Nation, diante de um cheio Tokio Marine Hall, em São Paulo, na última terça-feira (16). Sem passar por festival desta vez — ao contrário da primeira vinda em 2022, quando se apresentaram no Lollapalooza — puderam também se apresentar no Rio de Janeiro na segunda (15), com casa igualmente cheia.

Contrariar expectativas é o que mais ocorre aqui. A banda americana de Baltimore apresenta influências noventistas, que incluem Suicidal Tendencies, Jane’s Addiction, Rage Against the Machine, Faith No More e, por que não, Pixies e Hüsker Dü. O que resulta daí é um som pesado, rápido, mas com fortes doses psicodélicas e andamentos nada típicos. Um hardcore hippie — ou hippie core seria um rótulo possível de ser adotado para definir o estilo do grupo formado por Brendan Yates (voz), Daniel Fang (bateria), Freaky Franz (baixo), Pat McCrory (guitarra) e Meg Mills (guitarra somente em turnês).

- Advertisement -

É uma hipótese com fundamento. Eles fazem questão de deixar claro que não são uma banda pesada como as outras. Tal qual o Axty, que abriu o recente show do Black Veil Brides (leia aqui como foi), a comunicação visual do Turnstile não diz o tipo de banda que são. As fotos de divulgação e cores adotadas e o merchandising parecem dialogar mais com catálogo de moda skatista do que com música de combate. A ideia é incluir, não excluir.

São bem-sucedidos nisso. O público presente no Tokio Marine compreendeu e reproduziu a ideologia que abraça em vez de ir ao confronto do que foge ao estilo. Com as pochetes penduradas no ombro (sem exagero, eram muitas pochetes sempre penduradas no ombro), os fãs abdicaram de todas as oportunidades de hostilizar a atração de abertura Liam Benzvi — e não foram poucas.

O nova-iorquino se apresentou sozinho, cantando com o microfone colocado quase de lado em relação ao público. Executou o repertório, um synthpop bem feito à la Tears for Fears, com um desleixo indisfarçável. Atrapalhou-se com as bases pré-gravadas e tocou fora do ritmo e com som embolado enquanto tentava corrigir o problema.

Quando tudo estava resolvido, deixou a guitarra de lado e fez movimentos indecifráveis; talvez dança, talvez imitação de robô. Shows como esse e com o do Big Special, que tocou antes do Placebo em março (leia mais clicando aqui), levantam perguntas como sobre qual seria o critério que estão utilizando para escolher algumas atrações de abertura.*

* Devido ao atraso da produção para liberar a imprensa, não foi possível assistir ao show da banda Joker.

Enfim, o povo entrou na brisa, aplaudiu isso e dançou ao som da discotecagem “pop-adulto-fm” que normalmente precede a apresentação do Turnstile. Detalhe: dela fez parte “Na Boca do Sol”, do pianista brasileiro Arthur Verocai, que foi sampleado por artistas de hip-hop como o finado MF Doom.

O show

Um pouco antes do horário marcado, 21h50, o nome do Turnstile ao fundo do palco foi iluminado por uma forte luz lilás, que lembrou a cor predominante em “Glow On” (2021). É o lançamento mais recente e o mais celebrado: para a alegria geral, 11 das 17 músicas do show vem dele. “Mystery” que abre o disco, também abre o show, dando início ao pula-pula e à cantoria que não poucas vezes superou o volume do som que vinha do palco.

Brendan Yates, Daniel Fang, Freaky Franz, Pat McCrory e Meg Mills haviam ali começado a oitava apresentação em uma turnê que passou por seis países em 15 dias. O cansaço a que teriam direito foi ignorado e tocaram sem pausas — mesmo quando a banda age de fato, uma trilha de fundo indica que ainda não é hora de parar, como pouco antes de “Underwater Boi”.

O grupo se comunica pouco com a plateia — ou, melhor, se comunica somente o necessário. São alguns acenos com a mão, um microfone apontado para que a plateia solte a voz. E é isso. Não precisa de mais, porque o público entrega sem que seja solicitado, canta e pula o tempo todo, mesmo nas canções mais cadenciadas como “Real Thing” ou na dançante “NEW HEART DESIGN”.

Outra expectativa quebrada foi quando, após “FLY AGAIN”, a banda deixou o palco para que Fang fizesse o solo de bateria, inesperado nesse estilo de música. Foi o mais próximo que se chegou de pausa para o bis. Contando com uma discreta adição de um sintetizador quase imperceptível, a técnica foi utilizada mais como geradora de clima do que uma exibição de habilidade. Já estava agradando pelo bom gosto, mas ganhou todo mundo quando tocou o surdo em ritmo de samba.

Sem pausa, o Turnstile voltou ao palco para a sequência “Blue by You” e, a princípio executado com toda as luzes apagadas, “BLACKOUT”, o principal hit — se é que se pode dizer isso. Com a pancada amorosa “T.L.C. (TURNSTILE LOVE CONNECTION)”, a banda encerrou uma apresentação para ninguém botar defeito.

Ainda que o set tenha durado cerca de uma hora, os três discos foram representados nas dezessete músicas tocadas. Cada uma extraiu gradativamente voz, suor e energia dos presentes, sem misericórdia, como se não houvesse amanhã.

Se a banda conseguiu fazer isso com o considerável público em uma noite de terça-feira útil, é de se pensar de como seria se a apresentação fosse em um sábado, como muitos fãs solicitaram desde que o evento foi divulgado. A verdade é que o Turnstile deixou até que não pôde ir com gosto de quero mais.

** Não há registros fotográficos devido à resposta negativa para o credenciamento do profissional do site.

Turnstile — ao vivo em São Paulo

  • Local: Tokio Marine Hall
  • Data: 16 de abril de 2024
  • Turnê: Latin America 2024

Repertório:

  1. MYSTERY
  2. ENDLESS
  3. Come Back for More / Fazed Out
  4. UNDERWATER BOI
  5. DON’T PLAY
  6. WILD WRLD
  7. Drop
  8. Real Thing
  9. Big Smile
  10. NEW HEART DESIGN
  11. I Don’t Wanna Be Blind
  12. FLY AGAIN
  13. Blue by You
  14. BLACKOUT
  15. ALIEN LOVE CALL
  16. HOLIDAY
  17. T.L.C. (TURNSTILE LOVE CONNECTION)

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Rolf Amaro
Rolf Amarohttps://igormiranda.com.br
Nasceu em 83, é baixista do Mars Addict, formado em Ciências Sociais pela USP. Sempre anda com o Andreas no braço, um livro numa mão e a Ana na outra.

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Contrariar expectativas é o que mais ocorre aqui. A banda americana de Baltimore apresenta influências noventistas, que incluem Suicidal Tendencies, Jane’s Addiction, Rage Against the Machine, Faith No More e, por que não, Pixies e Hüsker Dü. O que resulta daí é um som pesado, rápido, mas com fortes doses psicodélicas e andamentos nada típicos. Um hardcore hippie — ou hippie core seria um rótulo possível de ser adotado para definir o estilo do grupo formado por Brendan Yates (voz), Daniel Fang (bateria), Freaky Franz (baixo), Pat McCrory (guitarra) e Meg Mills (guitarra somente em turnês).

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É uma hipótese com fundamento. Eles fazem questão de deixar claro que não são uma banda pesada como as outras. Tal qual o Axty, que abriu o recente show do Black Veil Brides (leia aqui como foi), a comunicação visual do Turnstile não diz o tipo de banda que são. As fotos de divulgação e cores adotadas e o merchandising parecem dialogar mais com catálogo de moda skatista do que com música de combate. A ideia é incluir, não excluir.

São bem-sucedidos nisso. O público presente no Tokio Marine compreendeu e reproduziu a ideologia que abraça em vez de ir ao confronto do que foge ao estilo. Com as pochetes penduradas no ombro (sem exagero, eram muitas pochetes sempre penduradas no ombro), os fãs abdicaram de todas as oportunidades de hostilizar a atração de abertura Liam Benzvi — e não foram poucas.

O nova-iorquino se apresentou sozinho, cantando com o microfone colocado quase de lado em relação ao público. Executou o repertório, um synthpop bem feito à la Tears for Fears, com um desleixo indisfarçável. Atrapalhou-se com as bases pré-gravadas e tocou fora do ritmo e com som embolado enquanto tentava corrigir o problema.

Quando tudo estava resolvido, deixou a guitarra de lado e fez movimentos indecifráveis; talvez dança, talvez imitação de robô. Shows como esse e com o do Big Special, que tocou antes do Placebo em março (leia mais clicando aqui), levantam perguntas como sobre qual seria o critério que estão utilizando para escolher algumas atrações de abertura.*

* Devido ao atraso da produção para liberar a imprensa, não foi possível assistir ao show da banda Joker.

Enfim, o povo entrou na brisa, aplaudiu isso e dançou ao som da discotecagem “pop-adulto-fm” que normalmente precede a apresentação do Turnstile. Detalhe: dela fez parte “Na Boca do Sol”, do pianista brasileiro Arthur Verocai, que foi sampleado por artistas de hip-hop como o finado MF Doom.

O show

Um pouco antes do horário marcado, 21h50, o nome do Turnstile ao fundo do palco foi iluminado por uma forte luz lilás, que lembrou a cor predominante em “Glow On” (2021). É o lançamento mais recente e o mais celebrado: para a alegria geral, 11 das 17 músicas do show vem dele. “Mystery” que abre o disco, também abre o show, dando início ao pula-pula e à cantoria que não poucas vezes superou o volume do som que vinha do palco.

Brendan Yates, Daniel Fang, Freaky Franz, Pat McCrory e Meg Mills haviam ali começado a oitava apresentação em uma turnê que passou por seis países em 15 dias. O cansaço a que teriam direito foi ignorado e tocaram sem pausas — mesmo quando a banda age de fato, uma trilha de fundo indica que ainda não é hora de parar, como pouco antes de “Underwater Boi”.

O grupo se comunica pouco com a plateia — ou, melhor, se comunica somente o necessário. São alguns acenos com a mão, um microfone apontado para que a plateia solte a voz. E é isso. Não precisa de mais, porque o público entrega sem que seja solicitado, canta e pula o tempo todo, mesmo nas canções mais cadenciadas como “Real Thing” ou na dançante “NEW HEART DESIGN”.

Outra expectativa quebrada foi quando, após “FLY AGAIN”, a banda deixou o palco para que Fang fizesse o solo de bateria, inesperado nesse estilo de música. Foi o mais próximo que se chegou de pausa para o bis. Contando com uma discreta adição de um sintetizador quase imperceptível, a técnica foi utilizada mais como geradora de clima do que uma exibição de habilidade. Já estava agradando pelo bom gosto, mas ganhou todo mundo quando tocou o surdo em ritmo de samba.

Sem pausa, o Turnstile voltou ao palco para a sequência “Blue by You” e, a princípio executado com toda as luzes apagadas, “BLACKOUT”, o principal hit — se é que se pode dizer isso. Com a pancada amorosa “T.L.C. (TURNSTILE LOVE CONNECTION)”, a banda encerrou uma apresentação para ninguém botar defeito.

Ainda que o set tenha durado cerca de uma hora, os três discos foram representados nas dezessete músicas tocadas. Cada uma extraiu gradativamente voz, suor e energia dos presentes, sem misericórdia, como se não houvesse amanhã.

Se a banda conseguiu fazer isso com o considerável público em uma noite de terça-feira útil, é de se pensar de como seria se a apresentação fosse em um sábado, como muitos fãs solicitaram desde que o evento foi divulgado. A verdade é que o Turnstile deixou até que não pôde ir com gosto de quero mais.

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Turnstile — ao vivo em São Paulo

  • Local: Tokio Marine Hall
  • Data: 16 de abril de 2024
  • Turnê: Latin America 2024

Repertório:

  1. MYSTERY
  2. ENDLESS
  3. Come Back for More / Fazed Out
  4. UNDERWATER BOI
  5. DON’T PLAY
  6. WILD WRLD
  7. Drop
  8. Real Thing
  9. Big Smile
  10. NEW HEART DESIGN
  11. I Don’t Wanna Be Blind
  12. FLY AGAIN
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Nasceu em 83, é baixista do Mars Addict, formado em Ciências Sociais pela USP. Sempre anda com o Andreas no braço, um livro numa mão e a Ana na outra.

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