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De frente para o sol, Carcass derrete no Ice Stage do Summer Breeze

Banda inglesa empolgava público, mas frontman Jeff Walker sucumbiu ao calor e show não teve bis com podreiras de fase inicial

Quatro horas da tarde de um domingo de outono. Se os membros do Carcass esperavam um clima ameno, como devem ter aprendido nas aulas de geografia, foram surpreendidos com um sol impiedoso de frente para a banda no paradoxal Ice Stage.

O calor descomunal de tempos de emergência climática derrubou Jeff Walker, de 55 anos de idade, que não aguentou o tranco. A banda encerrou, sem bis, seu repertório quinze minutos antes do horário previsto.

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O reflexo do sol batendo direto no palco ofuscava até o telão, que antes de a banda entrar em cena exibia um “Carcass TV” lembrando da época quando as emissoras de televisão saiam do ar e deixavam uma imagem congelada. Ao longo da hora na qual o quarteto se apresentou ironicamente no Ice Stage, Walker jogou garrafas d’água o tempo todo para o público na pista, pediu para que um roadie molhasse sua cabeça e chegou a tocar equilibrando um saco de gelo improvisado numa toalha sobre ela.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

A quarta passagem da banda no país promoveu seu já não tão recente álbum “Torn Arteries”, lançado em 2021. A boa recepção às suas quatro músicas executadas no repertório no impiedoso calor do domingo à tarde mostrou porque o trabalho manteve o grupo em evidência após o aclamado retorno com o já clássico “Surgical Steel”, de 2013.

Discos novos bons à parte, o público do Summer Breeze queria mesmo eram as velharias, e se deliciou logo de cara na abertura com “Buried Dreams”, do clássico “Heartwork”, de 1993. Ainda na reta inicial, o sampler pré-gravado deu a deixa para a introdução devastadora de “Incarnated Solvent Abuse”, de “Necroticism: Descanting the Insalubrious”, lançado em 1991 e dos pioneiros a adicionar um toque mais melódico ao death metal.

Após a clássica “This Mortal Coil”, do disco de 1993, o Carcass fez a primeira pausa depois de um início com cinco músicas praticamente emendadas uma à outra sem respiro. Jeff Walker, ainda sem ter seu humor ácido afetado pelo calor, chegou a elogiar a escalação do domingo do Summer Breeze Brasil e fez um comentário mordaz, mas difícil de refutar: todas as bandas tinham em comum o fato de terem lançado “discos de m*rda” nos anos 1990.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Feito isso, o Carcass executou a introdução de “Tomorrow Belongs to Nobody”, faixa do seu renegado “Swansong”, de 1995. O último disco de estúdio antes de seu hiato noventista ainda foi representado por um pedacinho de “Black Star” emendada à empolgante “Keep On Rotting in the Free World”, mostrando que o tempo amenizou as críticas ao trabalho.

E nessa toada mezzo thrash mezzo death metal, quase sem pausas, prosseguiu praticamente todo o show, salvo momentos como a introdução melosa e enganadora da nova “The Scythe’s Remorseless Swing”. Mas se Bill Steer continuava tocando sua guitarra como se nada estivesse acontecendo e seu parceiro nas seis cordas Nippy Blackford não parecia se incomodar enquanto ficava vermelho feito um pimentão, Jeff Walker começou a capitular e tocou sentado no suporte do kit de bateria a parte instrumental de “316L Grade Surgical Steel”, única faixa do álbum de 2013 presente no repertório.

Quando o extraordinário baterista Daniel Wilding tocou a introdução de “Corporal Jigsore Quandary” após Walker se desculpar pela visível exaustão, o baixista tentava equilibrar um saco de gelo improvisado numa toalha presa à sua cabeça, que caía enquanto cantava a agitada música do disco de 1991.

Emendada ao hino “Heartwork”, a banda executou antes apenas a introdução de “Ruptured in Purulence”, do clássico gore “Symphonies of Sickness” (1989). Na sequência, a pancadaria de “Tools of the Trade”, faixa título do EP de 1992, encerrou a apresentação e deixou o público com água na boca esperando por mais velharias.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

No repertório dos demais shows da atual excursão, o bis foi dedicado à fase inicial grindcore e deliciosamente nojenta do Carcass. Mas Jeff Walker pediu desculpas mais uma vez e, quando sugeriu ao público ir ver o Death Angel no palco ao lado antes de sair de cena, ficou claro que ficaríamos só na vontade.

**Este conteúdo faz parte da cobertura Summer Breeze Brasil 2024 — clique para conferir outras resenhas com fotos e vídeos.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Carcass — ao vivo no Summer Breeze Brasil 2024

Repertório:

  1. Buried Dreams
  2. Kelly’s Meat Emporium
  3. Incarnated Solvent Abuse
  4. Under the Scalpel Blade
  5. This Mortal Coil
  6. Tomorrow Belongs to Nobody (trecho)
  7. Death Certificate
  8. Dance of Ixtab (Psychopomp & Circumstance March No. 1 in B)
  9. Black Star (trecho)
  10. Keep On Rotting in the Free World
  11. The Scythe’s Remorseless Swing
  12. 316L Grade Surgical Steel
  13. Corporal Jigsore Quandary
  14. Ruptured in Purulence (trecho)
  15. Heartwork
  16. Tools of the Trade
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

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Thiago Zuma
Thiago Zuma
Formado em Direito na PUC-SP e Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, Thiago Zuma, 43, abandonou a vida de profissional liberal e a faculdade de História na USP para entrar no serviço público, mas nunca largou o heavy metal desde 1991, viajando o mundo para ver suas bandas favoritas, novas ou velhas, e ocasionalmente colaborando com sites de música.

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