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Bruce Dickinson tira fãs da zona de conforto e os recompensa com show de excelência em Brasília

Vocalista do Iron Maiden comprova força de seu repertório solo, com ênfase no aclamado "The Chemical Wedding"; incidente no fim não compromete

Enérgico, provocativo e disposto a tirar o séquito de fãs do Iron Maiden da zona de conforto. Essa foi a tônica de um Bruce Dickinson que, para além da já decantada performance vocal irreprensível, entregou um show de excelência na noite de sábado (27), em Brasília.

Com um setlist poderoso, que comprova a força de seu repertório solo, o músico inglês de 65 anos esbanjou vitalidade na execução dos temas. Deu ênfase nas músicas do aclamado “The Chemical Wedding” (1998) — incluindo a surpresa da noite, “Gates of Urizen”, que não era tocada desde 1999.

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As do novo álbum, “The Mandrake Project” (2024), também foram bem-recebidas, deixando Bruce à vontade para demonstrar seus dotes, como cantor e intérprete que agita e gesticula a todo instante. O único fato que o tirou do sério foi o incidente envolvendo um vape (cigarro eletrônico) já perto do fim, mas que em nada comprometeu sua quarta apresentação na cidade — a primeira sem ser com o Maiden.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Repertório impecável

Após uma abertura discretíssima da Clash Bulldog’s — banda de Nova Friburgo (RJ) que vinha acompanhando a turnê, mas acabou deixando o restante das datas em função de um problema de saúde —, Bruce Bickinson subiu ao palco pontualmente, às 22h.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Bastou o vocalista dar as caras para incendiar o Opera Hall, até então meio sonolento. Com muita gente viajando até São Paulo para assistir ao Summer Breeze Festival — ou mesmo devido à grande oferta de shows em Brasília —, o local com capacidade para cerca de 3 mil pessoas não esteve perto de encher.

Logo, “Accident of Birth” foi uma escolha acertada para iniciar o show. A primeira de várias, diga-se. Faixa que dá nome ao disco de 1997 que praticamente fez Bruce renascer para o metal tradicional, ela tratou de antecipar que seria uma noite épica, ainda que muitos não soubessem disso.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Por mais que represente um desconhecimento gritante, a impressão foi de que muitos esperavam que o vocalista tocasse algo de Iron Maiden. Felizmente, a avalanche de ótimas músicas, como “Starchildren” e “Chemical Wedding”, não deu brecha para engraçadinhos gritarem pedindo algum clássico da banda. Seria muito deselegante e, certamente, em vão.

“Afterglow of Ragnarok” e “Many Doors to Hell”, que abrem “The Mandrake Project”, foram também as primeiras do disco novo a serem executadas. E não fizeram feio, pelo contrário. Soando mais vigorosas ao vivo, trouxeram diferentes facetas e um equilíbrio interessante entre o aspecto sombrio e cativante do álbum.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

A surpresa e a cereja do bolo

Depois de “Many Doors to Hell”, Bruce anunciou que tocaria uma canção há muito aguardada por todos: “Gates of Urizen”. Foi a grande novidade do setlist, seja no Brasil ou em outras partes do globo, pois não era executada desde 1999, quando da turnê de “The Chemical Wedding”.

Com letra e conceito que remetem diretamente à obra de William Blake, é uma das pedras preciosas do repertório solo do vocalista, um profundo admirador do poeta, pintor e “alquimista” inglês que viveu entre os séculos 18 e 19.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Por falar em alquimia, “Gates of Urizen” só não foi o ápice do show porque ainda havia uma tal de “The Alchemist”. Com brilhantismo, Bruce entregou uma performance simplesmente arrebatadora, sobressaindo junto aos riffs pesadíssimos e ao refrão dramático que emociona a todos, mesmo quem já teve a oportunidade de ver o vocalista inúmeras vezes. Realmente impressionante!

“Resurrection Men”, por sua vez, se mostrou forte candidata a virar o grande hino ao vivo dentre as músicas do novo disco. Com violão no início, levada galopante e uma quebra de expectativa sensacional na parte intermediária, foi um dos pontos altos. E Bruce parece se orgulhar bastante dela, agitando muito e até “dançando” em determinados trechos.

Dançante também é a versão para “Frankenstein”, do The Edgar Winter Group. Nela, Bruce ajuda a batucar e cria a polirritmia que demonstra toda a qualidade instrumental do grupo que o acompanha atualmente: Philip Naslund (guitarra), Chris Declercq (guitarra), Tanya O’Callaghan (baixo), Dave Moreno (bateria) e Mistheria (teclados).

Incidente explosivo

“Tears of the Dragon”, a única de “Balls to Picasso” (1994) tocada em Brasília, e “Darkside of Aquarius” encerraram o set formal. Na volta para o bis, porém, um incidente tirou o sossego de Bruce Dickinson.

Conhecido por se irritar com cigarro, fumaça e afins, o vocalista se dirigiu à primeira fileira da pista premium reclamando de um suposto gás de pimenta. A princípio, a informação foi de que uma briga teria gerado a utilização do spray, por parte de um segurança. Contudo, de acordo com a produtora do evento, a MCA Concerts, o que houve foi a explosão acidental de um vape (cigarro eletrônico) que pertencia a um fã. Leia comunicado aqui.

O episódio fez com que Bruce cantasse “Navigate the Seas of the Sun” praticamente toda fora do palco, direto da coxia. A voz estava lá normalmente, mas não se via o vocalista, que saiu de cena para evitar inalar o produto químico. Alguns fãs relataram irritação nos olhos e dificuldade moderada para respirar.

Apesar disso, “Book of Thel” e “The Tower” vieram em seguida e não foram afetadas, com Bruce de volta ao palco. Um pequeno incidente desagradável, mas que não causou maiores danos à apresentação.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Com a ordem restabelecida, o vocalista concluiu mais um show de excelência em sua carreira. Desta vez, com os holofotes apontados não para o Iron Maiden, mas para músicas que, mesmo sem serem contempladas há décadas, envelheceram muito bem e mereciam esse resgate. Até para sacudir alguns fãs e tirá-los da zona de conforto, algo inexistente no vocalubário de Bruce Dickinson.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Bruce Dickinson – ao vivo em Brasília

  • Local: Opera Hall
  • Data: 27 de abril de 2024
  • Turnê: The Mandrake Project
  • Produtora: MCA Concerts

Repertório:

  1. Accident of Birth
  2. Abduction
  3. Starchildren
  4. Afterglow of Ragnarok
  5. Chemical Wedding
  6. Many Doors to Hell
  7. Gates of Urizen
  8. Resurrection Men
  9. Rain on the Graves
  10. Frankenstein (cover de The Edgar Winter Group)
  11. The Alchemist
  12. Tears of the Dragon
  13. Darkside of Aquarius

Bis:

  1. Navigate the Seas of the Sun
  2. Book of Thel
  3. The Tower
Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka
Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka
Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

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Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É repórter do Globo Esporte e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room e Rock Brigade. Atualmente revisa livros da editora Estética Torta e é editor do Morbus Zine, dedicado ao death metal e grindcore.

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Enérgico, provocativo e disposto a tirar o séquito de fãs do Iron Maiden da zona de conforto. Essa foi a tônica de um Bruce Dickinson que, para além da já decantada performance vocal irreprensível, entregou um show de excelência na noite de sábado (27), em Brasília.

Com um setlist poderoso, que comprova a força de seu repertório solo, o músico inglês de 65 anos esbanjou vitalidade na execução dos temas. Deu ênfase nas músicas do aclamado “The Chemical Wedding” (1998) — incluindo a surpresa da noite, “Gates of Urizen”, que não era tocada desde 1999.

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As do novo álbum, “The Mandrake Project” (2024), também foram bem-recebidas, deixando Bruce à vontade para demonstrar seus dotes, como cantor e intérprete que agita e gesticula a todo instante. O único fato que o tirou do sério foi o incidente envolvendo um vape (cigarro eletrônico) já perto do fim, mas que em nada comprometeu sua quarta apresentação na cidade — a primeira sem ser com o Maiden.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Repertório impecável

Após uma abertura discretíssima da Clash Bulldog’s — banda de Nova Friburgo (RJ) que vinha acompanhando a turnê, mas acabou deixando o restante das datas em função de um problema de saúde —, Bruce Bickinson subiu ao palco pontualmente, às 22h.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Bastou o vocalista dar as caras para incendiar o Opera Hall, até então meio sonolento. Com muita gente viajando até São Paulo para assistir ao Summer Breeze Festival — ou mesmo devido à grande oferta de shows em Brasília —, o local com capacidade para cerca de 3 mil pessoas não esteve perto de encher.

Logo, “Accident of Birth” foi uma escolha acertada para iniciar o show. A primeira de várias, diga-se. Faixa que dá nome ao disco de 1997 que praticamente fez Bruce renascer para o metal tradicional, ela tratou de antecipar que seria uma noite épica, ainda que muitos não soubessem disso.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Por mais que represente um desconhecimento gritante, a impressão foi de que muitos esperavam que o vocalista tocasse algo de Iron Maiden. Felizmente, a avalanche de ótimas músicas, como “Starchildren” e “Chemical Wedding”, não deu brecha para engraçadinhos gritarem pedindo algum clássico da banda. Seria muito deselegante e, certamente, em vão.

“Afterglow of Ragnarok” e “Many Doors to Hell”, que abrem “The Mandrake Project”, foram também as primeiras do disco novo a serem executadas. E não fizeram feio, pelo contrário. Soando mais vigorosas ao vivo, trouxeram diferentes facetas e um equilíbrio interessante entre o aspecto sombrio e cativante do álbum.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

A surpresa e a cereja do bolo

Depois de “Many Doors to Hell”, Bruce anunciou que tocaria uma canção há muito aguardada por todos: “Gates of Urizen”. Foi a grande novidade do setlist, seja no Brasil ou em outras partes do globo, pois não era executada desde 1999, quando da turnê de “The Chemical Wedding”.

Com letra e conceito que remetem diretamente à obra de William Blake, é uma das pedras preciosas do repertório solo do vocalista, um profundo admirador do poeta, pintor e “alquimista” inglês que viveu entre os séculos 18 e 19.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Por falar em alquimia, “Gates of Urizen” só não foi o ápice do show porque ainda havia uma tal de “The Alchemist”. Com brilhantismo, Bruce entregou uma performance simplesmente arrebatadora, sobressaindo junto aos riffs pesadíssimos e ao refrão dramático que emociona a todos, mesmo quem já teve a oportunidade de ver o vocalista inúmeras vezes. Realmente impressionante!

“Resurrection Men”, por sua vez, se mostrou forte candidata a virar o grande hino ao vivo dentre as músicas do novo disco. Com violão no início, levada galopante e uma quebra de expectativa sensacional na parte intermediária, foi um dos pontos altos. E Bruce parece se orgulhar bastante dela, agitando muito e até “dançando” em determinados trechos.

Dançante também é a versão para “Frankenstein”, do The Edgar Winter Group. Nela, Bruce ajuda a batucar e cria a polirritmia que demonstra toda a qualidade instrumental do grupo que o acompanha atualmente: Philip Naslund (guitarra), Chris Declercq (guitarra), Tanya O’Callaghan (baixo), Dave Moreno (bateria) e Mistheria (teclados).

Incidente explosivo

“Tears of the Dragon”, a única de “Balls to Picasso” (1994) tocada em Brasília, e “Darkside of Aquarius” encerraram o set formal. Na volta para o bis, porém, um incidente tirou o sossego de Bruce Dickinson.

Conhecido por se irritar com cigarro, fumaça e afins, o vocalista se dirigiu à primeira fileira da pista premium reclamando de um suposto gás de pimenta. A princípio, a informação foi de que uma briga teria gerado a utilização do spray, por parte de um segurança. Contudo, de acordo com a produtora do evento, a MCA Concerts, o que houve foi a explosão acidental de um vape (cigarro eletrônico) que pertencia a um fã. Leia comunicado aqui.

O episódio fez com que Bruce cantasse “Navigate the Seas of the Sun” praticamente toda fora do palco, direto da coxia. A voz estava lá normalmente, mas não se via o vocalista, que saiu de cena para evitar inalar o produto químico. Alguns fãs relataram irritação nos olhos e dificuldade moderada para respirar.

Apesar disso, “Book of Thel” e “The Tower” vieram em seguida e não foram afetadas, com Bruce de volta ao palco. Um pequeno incidente desagradável, mas que não causou maiores danos à apresentação.

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Com a ordem restabelecida, o vocalista concluiu mais um show de excelência em sua carreira. Desta vez, com os holofotes apontados não para o Iron Maiden, mas para músicas que, mesmo sem serem contempladas há décadas, envelheceram muito bem e mereciam esse resgate. Até para sacudir alguns fãs e tirá-los da zona de conforto, algo inexistente no vocalubário de Bruce Dickinson.

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Bruce Dickinson – ao vivo em Brasília

  • Local: Opera Hall
  • Data: 27 de abril de 2024
  • Turnê: The Mandrake Project
  • Produtora: MCA Concerts

Repertório:

  1. Accident of Birth
  2. Abduction
  3. Starchildren
  4. Afterglow of Ragnarok
  5. Chemical Wedding
  6. Many Doors to Hell
  7. Gates of Urizen
  8. Resurrection Men
  9. Rain on the Graves
  10. Frankenstein (cover de The Edgar Winter Group)
  11. The Alchemist
  12. Tears of the Dragon
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  1. Navigate the Seas of the Sun
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Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É repórter do Globo Esporte e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room e Rock Brigade. Atualmente revisa livros da editora Estética Torta e é editor do Morbus Zine, dedicado ao death metal e grindcore.

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