A cidade de Criciúma, em Santa Catarina, receberá neste sábado (23) o URB Music Tour 2024, festival organizado pela Plataforma STU, cujo intuito é “conectar e potencializar todos os movimentos do skate”. Entre uma das principais atrações do evento privado, está o Planet Hemp.
Apesar de confirmada, a banda pode não realizar sua apresentação na íntegra, segundo ordens do prefeito local Clésio Salvaro. Isso porque o político ameaçou interromper o show caso, em seu ver, haja “apologia às drogas”.
Em vídeo postado nas redes sociais, ele apareceu ao lado de um funcionário da prefeitura, que portava um alicate para ilustrar a questão. No registro, deixou claro que o intuito do URB Music Tour 2024 e do STU Nacional, evento da mesma produção marcado para os dias 22, 23 e 24 de março, é celebrar o skate e não “qualquer outra coisa”.
Conforme transcrição do G1, Clésio declarou:
“Qualquer coisa diferente disso [do skate] como, por exemplo, apologia às drogas, apologia aos crimes, qualquer coisa que mexa de conteúdo sexual, que mexa com nossos meninos e as nossas meninas, o Gilberto [funcionário que está no vídeo] está, autorizado com o alicate na mão, para cortar a energia.”
Ainda acrescentou que os eventos são destinados às “famílias de bem”, sem especificar o que define uma família do tipo.
“Pode faltar energia para a televisão, para o rádio, para a internet, para os bares no entorno. Não me importa. Esse local aqui construímos para receber as famílias de bem.”
Diante da publicação, Daniel Ganjaman, produtor e engenheiro de som do Planet Hemp, manifestou-se pelo X/Twitter. Ele compartilhou o vídeo em questão e prometeu uma apresentação “animada”, sem outros detalhes.
“Se você mora em Santa Catarina e curte Planet Hemp, nosso show no STU sábado promete ser animado. Se fosse você não perderia por nada!”
Além do Planet Hemp, compõem a programação Criolo, Dandara Manoela e Beto Cardoso. Antes fechado no Parque Municipal Prefeito Altair Guidi (Parque Centenário), o festival de música urbana acontecerá em um novo lugar, ainda a ser divulgado. Os ingressos estão à venda no Sympla.
Histórico do Planet Hemp
Ao longo de sua carreira, o Planet Hemp sofreu diversas maneiras de repressão. Por exemplo, em novembro de 1997, os integrantes acabaram presos após um show no Minas Brasília Tênis Clube. A acusação da polícia é de que realizavam apologia ao uso de drogas em suas letras.
À época, artistas como Cássia Eller, Gilberto Gil, Marisa Monte e Tom Zé defenderam os músicos. Juntos, assinaram um manifesto a favor dos colegas, que dizia (via O Globo):
“Os artistas do Planet Hemp estão presos por expressarem sua opinião através de suas músicas. Já vimos esse enredo antes. E, como antes, não vamos ficar calados diante desta agressão à liberdade. O coro da censura e da repressão desafina com as aspirações de democracia e de liberdade.”
Depois de cinco dias, os artistas foram soltos. Ainda assim, havia uma promessa de que a Polícia Federal enviaria agentes para vistoriar todas as próximas apresentações da banda. Por isso, o vocalista Marcelo D2 afirmou:
“Essa prisão só reforça o que a gente já canta. Prova que estamos no caminho certo ao questionar a hipocrisia social e exercer o direito à opinião. Somos pessoas honestas e vamos agir dentro da lei. Sabemos que as drogas fazem mal e não fazemos apologia ao uso. Esperamos ter contribuído para o debate, não apenas da legalização da maconha, mas também sobre a liberdade de expressão.”
No mesmo ano, conforme publicado pela Folha de S. Paulo, um juiz proibiu que menores de 18 anos assistissem ao show do grupo em Recife, sob a justificativa de que os membros faziam “apologia do uso da maconha, substância vegetal de uso proscrito, ilícito e proibido no Brasil”. Já em Brasília, a Polícia Civil enviou cartas a rádios e boates banindo a execução de músicas do Planet Hemp em todo o Distrito Federal.
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