O número considerável de pessoas esperando a abertura da casa de shows dava uma boa ideia do perfil do público que foi prestigiar o Black Veil Brides na última data da turnê “Bleeders South American Tour” na noite da última terça (26), que passou por Colômbia, Chile e Argentina.
Eram majoritariamente mulheres mais jovens. Estavam “montadas”; ou seja, roupa, maquiagem e cabelo de quem vai fazer o show, não somente vê-lo – capricho também praticado pelos homens ali presentes.
A depender de onde se olhava na fila, parecia ser a véspera de uma festa gótica. Ou emo. Ou hard/glam rock. Três aspectos que, juntos, definem melhor o som praticado pela banda. Eles surgiram durante o auge da “emomania”, mas restringi-los a isso é contar apenas parte da história.
Portanto, não seria absurdo supor que a maior parte ali não viu o grupo americano em 2015, no festival Monsters of Rock, ou em 2012, quando vieram pela primeira vez. Isso explicaria uma ansiedade suficiente para não serem muito amigáveis com a banda de abertura.
Axty
Felizmente, não foi o que ocorreu. Quando o logo do quarteto paulista Axty surgiu no telão de alta definição localizado no fundo do palco, um coro chamando-os surgiu, mostrando que a escolha da produtora Gig Music foi acertada. Ainda é de se espantar (e comemorar) que os dias de hostilidade com atrações de abertura se foram.
Formado por Felipe Hervoso (voz), Jonathas Peschiera (baixo), Felipi Grivol (guitarra) e Gabriel Vacari (bateria), o Axty tem se destacado no underground nacional com um metalcore com doses de post-hardcore e de nu metal. Rótulos à parte, importa é que soa muito pesado, cadenciado, com discretas adições de teclado de muito bom gosto.
Curiosamente, o merchandising é colorido e o rosa predomina na comunicação visual. É notório como conseguem acrescentar sutileza à desgraceira berrada que tocam sem que fique contraditório.
Mas fica problemático se o som não ajuda — e foi o que aconteceu. Uma equalização desfavorável e embolada fez as nuances sumirem, as bases pré-gravadas se tornarem inúteis e ficar difícil separar o refrão do verso. Somem-se as muitas pausas que existem nas músicas e temos a confusão que concorreu com a boa recepção obtida do público.
A plateia, aliás, cantou e aplaudiu com gosto quando possível. Quando não era, chegou a pedir em coro que o volume da voz fosse aumentado. A solicitação foi mal atendida e, tão logo terminaram a anunciada última música, com os integrantes ainda no palco, começaram os gritos evocando a atração principal.
Black Veil Brides
Pouco depois das 21h, as luzes se apagaram, o logo BVB surgiu no telão e teve início uma dinâmica que tanto público como músicos iriam manter no pouco que o show iria durar.
Os guitarristas Jake Pitts e Jinxx e o baixista Lonny Eagleton entraram correndo enquanto o baterista Christian Coma logo cumprimentou os fãs e assumiu o kit para começar “Crimson Skies”. Ainda antes de chegar o primeiro verso, o vocalista Andy Biersack estava no palco com um microfone que simula uma navalha e quase a totalidade do palco havia sido percorrida. Quando entra a parte cantada, o público soterra em volume a banda, que conta com uma equalização muito superior em relação à obtida pelo Axty.
Se estavam cansados por percorrer a América do Sul — o Brasil era o quarto país em uma semana —, souberam disfarçar bem. Performance empolgada, voz do Andy em dia, Jake e Jinxx fazendo a dinâmica “costas com costas” durante os solos (também característica de grupos como o Avenged Sevenfold), o curto intervalo entre as músicas; é como se quisessem vencer a plateia pelo cansaço — ou conquistá-la pela intensidade.
Lonny Eagleton é o integrante mais novo; inclusive, era a estreia dessa formação aqui. Talvez por isso tenha sido o mais discreto e tenha ficado posicionado ao fundo do palco, indo à frente somente para fazer backing vocals.
“Bleeders” é o nome da turnê e, também, é um lançamento anunciado para o próximo dia 26 de abril. Se é um single ou um álbum, não se sabe. Não se tocou nesse assunto durante toda a noite.
A música mais recente apresentada foi “Devil”, do EP “The Mourning” (2022). O restante do setlist continha um equilíbrio razoável entre os seis discos de estúdio. “The Phanton Tomorrow” (2021) teve o mesmo espaço que “Wretched and Divine: The Story of the Wild Ones” (2012), por exemplo. Pode ser o acerto na escolha que tenha feito os fãs sequer se preocuparem com que diabos é “Bleeders”.
Mesmo “Vale” (2018), o disco que menos cedeu músicas, apareceu de forma certeira com “Wake Up”, com o começo grandioso — perfeito para não deixar a empolgação do início do show desvanecer.
Mas não tiveram esse cuidado quando, com cerca de meia hora de apresentação, logo após “Torch”, Andy pediu para que o povo grite “C. C.” e deixou o palco junto com os integrantes — exceto Chirstian Coma, que começa o solo de bateria. Ele é um excelente instrumentista, toca empolgado e com força, fica em pé e chega a pular no kit… mas solo de bateria é e sempre será questionável, principalmente em um show que seguia tão bem. Quando Coma foi para a frente do palco pular e fingir que toca trompete (a sincronia com a trilha gravada ficou péssima), tudo ficou mais sem sentido ainda.
Nem precisava fazer sentido, porém. O povo embarcou na doideira e participou como pôde, com gritos e aplausos. A plateia foi reconhecida e recompensada. Andy deu autógrafo no palco, abriu uma bandeira do Brasil entregue por fã e prometeu que não vão demorar dez anos para voltar. Antes do bis, todos botaram a casa abaixo com “Knives and Pens”, música que tornou a banda conhecida no mundo todo.
O público chamou o Black Veil Brides de volta durante a espera, maior do que a média. Andy voltou sozinho para “Lost It All”, balada que preparou o público para a dobradinha final de “Fallen Angels” e “In the End”, novamente elevando a cantoria dos fãs para nível recorde de volume.
O show assim foi encerrado e, para que não houvesse dúvidas, além das luzes acesas, “In the End” (Linkin Park) e “The Kill” (Thirty Seconds to Mars) soaram no P.A. Foi curto, cerca de uma hora e vinte minutos, mas sem momentos de tédio e sem reclamações de que apenas 13 músicas foram tocadas. Para efeitos de comparação, no Monsters of Rock 2015, mesmo sofrendo vaias de alguns fãs de Motörhead e espremidos pelo pouco tempo padrão de festival, tocaram nove músicas (inclusive “Faithless”, que cairia muito bem no repertório da noite da última terça-feira, 26).
De qualquer forma, o público saiu extremamente satisfeito e aceitaria uma nova rodada em breve. Se vão esperar ou não, não parece ser um problema. O Black Veil Brides demonstrou ter conseguido renovar a base de fãs, que foram um espetáculo à parte pela demonstração sem reservas de admiração pela banda, conhecimento de cada palavra das letras das músicas e até pela preocupação com o visual. Foi uma bela festa, que tem tudo para acontecer novamente.
Black Veil Brides — ao vivo em São Paulo
- Local: Terra SP
- Data: 26 de março de 2024
- Turnê: Bleeders Tour
Repertório — Axty:
- Take Me Down
- Unbreakable
- Forever Yours
- The Beauty in Breaking
- Fade Away
- Flowers & Butterflies
- You’ll Find Me
- Six Feet Under
Repertório — Black Veil Brides:
- Crimson Skies
- Rebel Love Song
- Wake Up
- Nobody’s Hero
- Devil
- Scarlet Cross
- Torch
- The Legacy
- Perfect Weapon
- Knives and Pens
Bis:
- Lost It All
- Fallen Angels
- In the End
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