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Uma entrevista com Irontom, a banda que abriu para o Red Hot Chili Peppers no Brasil

Grupo com filho de Jack Irons (baterista original do RHCP) discutiu influências, refletiu sobre tocar no Brasil e revelou estar ouvindo de Tom Jobim a Chitãozinho e Xororó

No último mês de novembro o Red Hot Chili Peppers veio ao Brasil para uma série de cinco shows. Com eles, trouxeram não apenas a bagagem e sua mistura peculiar de estilos, mas uma banda que ficou responsável por esquentar o público antes da atração principal: o Irontom.

Até então desconhecidos do público brasileiro, os também californianos surpreenderam positivamente. Agora, como parte de uma agenda de mídia após os shows, a banda conversou com a gente sobre sua história, sua música, influências e, claro, sobre o Brasil — onde se apresentou em estádios do Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.

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Harry Hayes (vocal), Dylan Williams (bateria) e Zack Irons (guitarra) são creditados como membros do grupo, formado há mais de uma década e cujo primeiro álbum, homônimo, saiu ainda em 2015 — enquanto a parte 1 de “Gel”, o disco mais recente, chegou em 2023. Zack, aliás, é filho de Jack Irons, baterista original dos Chili Peppers e primo de Dylan.

Todos esses laços são partes fundamentais na história da banda, inclusive na sua formação e batismo, como explica Zack:

“Meio que nos conhecemos desde sempre, Dylan e eu somos primos e Harry e eu estudamos na mesma escola no ensino médio. Meu pai viu Harry se apresentar em um show de talentos e me falou que eu deveria tocar com ele. Eu, como qualquer punk adolescente, disse: ‘não, nem conheço ele’. Então meu pai, do jeito dele, foi até a casa do Harry e o convidou. Na verdade, foi o meu pai que juntou a banda e até mesmo escolheu o nome. É a banda do meu pai, não posso levar nenhum crédito.”

Não foi diferente com a turnê em novembro último. A proximidade com o Red Hot facilitou para que o encontro no palco pudesse acontecer. Harry Hayes conta como tudo surgiu:

“Zack é um grande amigo do John (Frusciante, guitarrista do Chili Peppers) há muito tempo. Todos ficamos amigos, mas eu me tornei um amigo mais próximo do John nos últimos dois anos e enquanto estávamos compondo para nosso álbum (‘Gel’, cuja primeira parte saiu em 2023), íamos mostrando músicas para John e recebendo pequenos feedbacks. Ele gostou das músicas de verdade e ficamos felizes por isso. Quando a turnê sul-americana surgiu, todos eles perceberam que poderiam levar uma banda como nós, que está chegando e tentando aumentar o número de fãs. Então, eles pensaram em nós. John e sua esposa nos ligaram tarde da noite em uma chamada em grupo só para dizer que eles queriam nos levar para a América do Sul. Isso foi, acho, em abril ou março. Foi assim que recebemos a notícia.”

Referências sonoras

O Irontom entrega uma sonoridade bastante peculiar, indo do post-punk ao industrial, passando também pela música pop. Mistura várias influências, muitas delas bastante distantes umas das outras. E nem sempre, são meramente musicais, como explica Harry Hayes:

“Temos muitas influências, posso dizer algumas das grandes: Beatles, Led Zeppelin, Chili Peppers, Arctic Monkeys, Ray Charles, Primus, Pearl Jam, Oasis, algumas influências de hip-hop e outros estilos de música… eu diria que influências para mim, em um nível pessoal, me movem a me expressar com a mesma força e potência do espírito da música que eu gosto. Em muitos momentos é literal, através das notas; em outros, é mais sobre de onde vem esse artista e o som que estamos fazendo. É mais o que nós fazemos. Não é sempre literalmente sobre absorver a técnica ou do estilo deste artista, embora isso também aconteça.”

Por sua vez, Dylan Williams usa a culinária como analogia para explicar o papel das referências no resultado sonoro da banda.

“Influências são como ingredientes num prato: você põe tudo junto. Dez pessoas diferentes podem cozinhar o mesmo prato e podem adicionar açúcar, manteiga, sal… será sempre diferente dependendo das circunstâncias, do ambiente, da temperatura, o que for. Com a música é mais ou menos isso.”

Preparação para os estádios

A turnê pelo Brasil foi um marco na carreira do Irontom, não apenas por significar a primeira vinda à América do Sul e ao Brasil, mas por colocar o grupo em estádios e trazer grande visibilidade. Tudo isso exigiu preparo, de forma geral e específica. Após brincar que os músicos se prepararam “a vida inteira” para ocasiões como essa, Harry explicou:

“Nos tornamos músicos, começamos a tocar juntos e então você sonha com grandes shows. Começamos como qualquer banda, em uma pequena sala tocando juntos. Você toca em um bar e não tem ninguém lá. E aí você toca em todo tipo de lugar. Fizemos isso tantas vezes que crescemos como banda em muitos níveis. Para que isso acontecesse agora, parecia que tínhamos que estar completamente prontos. Obviamente nos preparamos nos meses anteriores, ensaiando e fazendo coisas específicas individualmente, mas quando chegamos lá, parecia mais natural do que quase qualquer coisa.”

E será que a América do Sul ofereceu a maior plateia da trajetória da banda? Dylan é taxativo:

“De longe a maior. Porto Alegre foram 50 mil pessoas ou algo assim… Já tínhamos excursionado com os Chili Peppers em 2017, mas em ginásios. A turnê sul-americana foi quatro ou cinco vezes maior do que aquela vez. E por algum motivo, todos concordamos que foram alguns dos foi um dos shows mais fáceis que já tocamos. Harry disse que era o ponto alto das nossas vidas. Levando em consideração nossa vida até aquele momento e todo o tempo que dedicamos, todos estávamos nos surpreendendo. Tipo: ‘uau, valeu a pena, tudo deu certo’.”

Irontom e a música do Brasil

Como o Irontom absorve muitas referências artísticas, existia a chance de música brasileira fazer parte deste caldeirão. Houve uma reverência unânime ao Sepultura, mas Dylan Williams conta uma história interessante sobre seu contato com a nossa música:

“Fiz algumas amizades com pessoas muito gentis do Brasil e perguntei sobre a música daí, porque até então a única coisa de música brasileira que eu conhecia era o Sepultura, que eu definitivamente amo. Eles me ajudaram com uma playlist que eu realmente gostei. Posso rapidamente ler alguns nomes aqui: Caetano Veloso, Jorge Ben Jor, Os Mutantes, João Gilberto, Tom Jobim, Chitãozinho e Xororó, tem muita coisa dos anos 60 e 70, bossa nova, início do rock and roll… e tudo vira influência, como falamos antes.”

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Marcel Bittencourt é jornalista musical, produtor musical e baixista da banda Hit the Noise. Esteve presente em mais de 600 shows, sendo mais de 200 na qualidade de repórter dos hoje extintos sites PoaShow e Rockbox, dos quais também foi editor. Nas horas vagas joga poker e espalha a palavra dos suecos do Hellacopters.

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