Mötley Crüe pode ter influenciado o Kiss nos anos 80, reflete Bruce Kulick

Guitarrista acredita que turnê de 1982 fez com que os já veteranos ficassem mais "selvagens" ao vivo no período sem maquiagem

Quando as maquiagens do Kiss foram tiradas, no início dos anos 1980, a banda entrou de cabeça na sonoridade da época: o típico hard rock “farofa”. Um dos grandes representantes do segmento na época era o Mötley Crüe.

Para Bruce Kulick, guitarrista titular dos ex-mascarados na época, a banda liderada pelo baixista Nikki Sixx pode ter servido de influência para os já veteranos. A opinião foi manifestada em entrevista para o podcast “Rock Experience with Mike Brunn”, transcrita pelo Ultimate Guitar.

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Na ocasião, o músico lembrou que as duas bandas fizeram uma curta turnê juntas em 1982, nos últimos meses do Kiss ainda mascarado. À época, a guitarra do grupo ainda era assumida por Vinnie Vincent, substituto do membro original Ace Frehley. Ele disse:

“Do que eu entendi, eles vieram de uma turnê… eles não fizeram datas com o Mötley Crüe? Eu acho que eles viram o que era ser selvagem e frenético — e acho que isso se tornou o estilo deles, ser o mais empolgante possível. Naquela idade, você até consegue tocar rápido daquele jeito. Hoje é impossível.”

Kiss e Mötley Crüe em turnê

A tour que Bruce Kulick se refere aconteceu em 1982 e foi uma série curta de shows. O Kiss comemorava 10 anos de existência e divulgava o álbum “Creatures of the Night” (1982), com o mesmo espetáculo que passaria pelo Brasil no ano seguinte. O Mötley Crüe abriu os cinco últimos shows nos Estados Unidos, ainda promovendo seu disco de estreia, “Too Fast For Love” (1981).

Em 2012, três décadas depois, as duas bandas voltaram a excursionar juntas, dessa vez como co-headliners. Em entrevista ao site GoUpstate, o baixista Nikki Sixx, do Crüe, relembrou a primeira tour.

“Kiss e Ozzy Osbourne foram as duas bandas que nos deram nossas primeiras chances. Olhando para trás, foram poucas datas com o Kiss. Foram 4 ou 6 datas (nota: 5, na verdade), mas eles nos deram nosso primeiro gosto de tocar por toda a costa oeste em palcos grandes. Nós sempre vamos nos lembrar disso. São boas lembranças.”

“Influência inversa”

Que o Kiss dos anos 70 inspirou o Mötley Crüe e todas as bandas daquela geração, é fácil de observar. Mas como teria acontecido a influência contrária?

De volta à entrevista para Mike Brunn, Bruce Kulick citou a velocidade da execução das músicas, fenômeno comum nos anos 1980. Para muitos fãs, o responsável por isso era o baterista Eric Carr, mas Kulick discorda.

“Eu não culparia Eric, mas não posso dizer se era mais Paul ou mais Gene, sabe? Não sei. Mas sei que aconteceu. Acho que Paul me deu fitas para aprender as músicas, ainda as tenho. São de quando eu entrei na banda, ‘aprenda essas músicas’. E eram coisas de Vinnie Vincent. Eram coisas do álbum ‘Lick It Up’ (1983). Eu sei que meu amigo Michael Edwards sabe tudo sobre isso porque ele me ajuda a arquivar e proteger essas coisas. Independentemente disso, era tudo tocado de um jeito acelerado. Era bem acelerado.”

Por fim, o guitarrista comenta que os próprios álbuns de estúdio do Kiss nessa época costumavam trazer material mais rápido do que os discos mais antigos — cujas músicas já eram tocadas em batida mais ágil ao vivo.

“’Animalize’, por exemplo, algumas das músicas são rápidas. Apenas um exemplo, ok? A primeira música, ‘I’ve Had Enough (Into the Fire)’ – aquilo é muito acelerado. Então imagine que você vai sair em turnê para divulgar isso ao vivo. É uma selvageria.”

Sobre Bruce Kulick

Bruce Kulick foi o guitarrista que ajudou a conduzir o Kiss na tortuosa estrada dos anos 1980 e 90. Ele entrou na banda após o período de instabilidade que teve início na saída de Ace Frehley, passando pela breve passagem de Vinnie Vincent e o meteórico período de Mark St. John.

Com total competência, caiu no gosto da maior parte dos fãs, permanecendo até o momento que a inevitável reunião da formação original aconteceu.

Outros momentos menos conhecidos, mas igualmente interessantes, aconteceram ainda nos anos 1970. Junto de seu irmão Bob, falecido recentemente, participou da turnê de “Bat Out of Hell” (1977), clássico de Meat Loaf que se tornou um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos.

A seguir, participou do Blackjack, grupo que contava com o futuro astro brega Michael Bolton nos vocais e fazia um hard rock de primeira qualidade. Seguiu com o cantor no início da carreira solo, até ser chamado por Paul Stanley e Gene Simmons.

Após deixar o Kiss, se aventurou junto a John Corabi – que recém havia sido chutado do Mötley Crüe no Union. No início dos anos 2000, entrou para o Grand Funk Railroad, permanecendo até 2023.

Paralelamente, desenvolveu a carreira solo, enquanto realizou uma série de participações com vários outros artistas e projetos, além de um grupo designado a tocar exclusivamente material de sua fase com os maiores mascarados do rock – no bom sentido.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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