Paul McCartney sempre disse que algumas das maiores músicas de sua carreira vieram de sonhos. A melodia de “Yesterday”, lançada pelos Beatles, lhe veio em um — e quando acordou, estava tão convencido de tê-la escutado em algum lugar a ponto de vasculhar todo disco que pudesse encontrar em busca de sua origem. Quando finalmente convencido de sua originalidade, aí prosseguiu na composição.
Outra canção que o ex-Beatle atribuiu à influência de uma noite bem dormida foi “Let It Be”, clássico do último disco da banda, homônimo. Em uma entrevista de 2022 à GQ, Paul contou sobre um sonho no qual sua falecida mãe, Mary, lhe dizia a frase:
“Eram os anos 1960 e estávamos sendo massacrados na maior parte do tempo. Fui para a cama e não estava me sentindo muito bem comigo mesmo. Foi então que, em meu sonho, minha mãe veio até mim. Ela tinha morrido uns 10 anos antes. Quando alguém que você perdeu volta em um sonho, é um momento milagroso porque você está com eles. E sua mente não diz: ‘espere um minuto, você não deveria estar aqui’. Só quer estar com eles.
Ela parecia perceber que eu estava passando por dificuldades e disse: ‘Vai ficar tudo bem. Você vai ficar bem. Apenas deixe estar [let it be]’. Eu me senti ótimo, acordei e pensei: ‘O que foi isso?’. E me lembro de ter pensado: ‘O que ela disse?’ Então me sentei em frente ao piano e compus a música.”
Entretanto, o músico reconheceu durante um episódio recente do podcast “McCartney: A Life in Lyrics” — no qual analisa sua obra com o poeta Paul Muldoon —, que pode ter se inspirado sem perceber em William Shakespeare. Particularmente, sua grande tragédia sobre luto, “Hamlet”.
Ele disse (transcrição via NME):
“Nos dias de escola, eu tinha que aprender os monólogos de cor. Então eu ainda poderia mandar um ‘ser ou não ser’ ou ‘essa carne sólida’. E alguém me apontou recentemente que Hamlet quando é envenenado fala ‘Let it be’ – quinto ato, cena dois. Ele fala ‘Let be’ na primeira vez, e aí na segunda vez fala ‘‘Had I but time — as this fell sergeant, Death, is strict in his arrest — oh, I could tell you. But let it be Horatio’. [se me sobrasse tempo – mas a morte, essa justiceira cruel, é inexorável nos seus prazos – oh, eu poderia lhes contar… Mas que assim seja, Horácio].”
McCartney ainda comentou sobre sua reação a essa teoria:
“Eu fiquei interessado que minha exposição a essas palavras numa época durante a qual estudava Shakespeare me levou anos depois a essa frase me vir durante um sonho, com minha mãe a dizendo. Foi ótimo vê-la de novo. Me senti abençoado de ter aquele sonho. E isso me inspirou a compor ‘Let It Be’.”
Beatles e “Let It Be”
Motivado pela comoção com o encerramento dos Beatles, o álbum “Let It Be” saiu em abril de 1970 e chegou ao topo das paradas em vários países, incluindo Reino Unido e Estados Unidos. Vendeu mais de 3 milhões de cópias só nas duas primeiras semanas no mercado.
O single da faixa-título foi disponibilizado em março daquele ano. Atingiu a primeira posição dos charts de dez países — curiosamente, no Reino Unido, chegou “apenas” à segunda colocação.
Em 2003, foi lançado “Let It Be… Naked”, projeto capitaneado por Paul McCartney que apresentou uma versão “enxugada” das músicas do disco, sem a pomposidade criada por Phil Spector no original.
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