A história é bem conhecida entre os fãs: em 1978, com sua formação original prestes a rachar, o Kiss teve a ideia de que os integrantes lançariam álbuns solo, ainda mantendo a maquiagem e trazendo a marca do grupo na capa. Não acalmou muito os ânimos, mas rendeu discos interessantes — especialmente o do guitarrista Ace Frehley, o mais bem-sucedido entre os quatro.
Prestes a lançar seu 10º trabalho solo, “10,000 Volts”, Frehley relembrou o registro homônimo de 1978, ainda hoje tido como especial em sua carreira. Como não poderia deixar de ser, a lembrança veio acompanhada de mais um ressentimento envolvendo os ex-colegas Paul Stanley e Gene Simmons.
Em entrevista ao Ultimate Guitar, ele comentou:
“O que faz daquele álbum realmente especial é que eu estava com uma certa mentalidade. Eu me lembro de ter uma reunião com os caras na banda e executivos e o empresário – havia cerca de 12 de nós em volta de uma mesa – e isso foi antes de sairmos para fazer nossos próprios álbuns. Lembro de Paul e Gene falando uma coisa para mim na frente de todos, o que foi um tipo de alfinetada. Eles disseram ‘oh, Ace, por falar nisso… se você precisar de qualquer ajuda no seu disco, não hesite em nos chamar’. Na minha cabeça eu disse ‘não preciso da ajuda deles’.”
Se foi mesmo uma provocação ou uma constatação – Ace e o baterista Peter Criss estavam afundados em drogas e álcool naquela época –, jamais saberemos. O fato é que o guitarrista se empenhou no disco e entregou o mais elogiado entre os quatro.
Paul Stanley optou por fazer um álbum mais conservador, próximo do que o Kiss faria. Gene Simmons adotou uma abordagem ligeiramente experimental e megalômana, como manda sua personalidade. Peter Criss se distanciou do hard rock típico do grupo e explorou influências como pop, soul e R&B, rendendo talvez o álbum mais criticado da leva de 1978.
“Mostrar pra esses filhos da p#ta”
Ace Frehley já disse em outras ocasiões que estava disposto a usar seu álbum solo de 1978 para dar um recado aos colegas de Kiss. Em sua autobiografia “Não Me Arrependo” (Belas Letras, 2020), o guitarrista revelou que Gene Simmons e Paul Stanley chegaram a deixar implícito que ele não daria conta do recado.
Diante disso, Frehley deu duro para provar que os colegas estavam errados. No livro, ele desabafou:
“Tenho certeza de que eles acharam que meu álbum seria um fiasco. Me lembro de pensar: ‘vou mostrar pra esses filhos da p#ta, e vou mostrar pro mundo!’.”
Ace Frehley e “10,000 Volts”
“10,000 Volts”, novo álbum solo de Ace Frehley, sai dia 23 de fevereiro de 2024. O trabalho será disponibilizado pela MNRK Music, gravadora antes chamada eOne Music.
Trata-se do primeiro disco de inéditas do guitarrista desde “Spaceman”, divulgado em 2018. Neste ínterim, o ex-integrante do Kiss liberou em 2020 o trabalho de covers “Origins Vol. 2”.
O tracklist apresenta 11 faixas escritas em parceria com Steve Brown, guitarrista do Trixter e da banda solo de Eric Martin (Mr. Big), além de substituto imediato no Def Leppard quando Vivian Campbell está em tratamento contra o câncer.
O material contará com a participação de Anton Fig, baterista com quem trabalhou no disco solo de 1978, na estreia homônima do Frehley’s Comet (1987) e em “Trouble Walkin’” (1989), entre outros registros.
Sobre o guitarrista
Nascido no Bronx, em Nova York, Paul Daniel Frehley começou a tocar guitarra ainda na infância, incentivado pela família. Participou de uma série de bandas amadoras entre o final dos anos 1960 e início dos 1970s.
A consagração veio quando se juntou ao Kiss. Esteve presente em dois momentos, entre 1972 e 1982, regressando em 1996 e ficando até 2002. Criou o personagem Space Ace, além de ter desenhado o logotipo da banda. É até hoje o membro preferido de uma parte considerável dos fãs.
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