2023 foi o melhor ano de lançamentos desde 2017, mas não de maneira óbvia.
Se 6 anos atrás artistas de quem eu já gostava estavam inspirados (Morrissey, Accept entre outros), dessa vez o melhor veio de onde menos era provável: bandas que nunca me agradaram, estilos para os quais não costumo dar muita atenção.
Como nem de rock e nem de artistas estabelecidos vive o homem, houve espaço também para bandas underground, novas, das que sabem o que querem dizer e, principalmente, como dizer. Poucas vezes exercer a curiosidade ativa e andar por caminhos pouco trilhados valeu tanto a pena.
- Confira mais listas: Os melhores discos de 2023 na opinião da equipe do site IgorMiranda.com.br
Ao final de cada justificativa tem a dica de uma música para que você concorde comigo.
Os melhores discos de 2023 para Rolf Amaro
10) Nervosa – “Jailbreak” (thrash metal)
Além de ser um dos grandes nomes do thrash metal da atualidade, a Nervosa está se consolidando como escola para vocalistas do estilo. Depois de Fernanda Lira e Diva Satanica, a guitarrista Prika Amaral assume os vocais sem deixar que o nível baixasse, mesmo sendo a terceira formação diferente em três discos consecutivos. E ainda conseguiu lançar um disco dinâmico e agressivo até quando surge voz limpa, como em “Superstition Failed”, que tem participação de Lena Scissorhands. O destaque é “Ungrateful”.
9) Crypta – “Shades of Sorrow” (death metal)
Sucessor que confirma a força do death metal que a Crypta indicava ser no álbum de estreia, “Echoes of the Soul”. A intro, “The Aftermath”, distrai o ouvinte para que pancada “Dark Clouds” cause ainda mais impacto. A brutalidade que o vocal da Fernanda Lira apresenta nessa faixa é absurda e as variações de gutural que vão surgindo só aumentam a intensidade. O timbre e as viradas da Luana Dametto, bem como o peso e a melodia das guitarras de Tainá Bergamaschi e Jéssica Di Falchi, fazem com que um disco seja acessível mesmo sendo indiscutivelmente death metal. O destaque é “Lord of Ruins”.
8) Alice Cooper – “Road” (hard rock)
Disco conceitual sobre a vida na estrada, longo, que é bem-sucedido em passar o clima de viagem. Diferente do que costuma fazer, o Alice Cooper gravou com a banda com que excursiona para que mostrassem como a formação está afiada. É classic rock feito por um dos fundadores do estilo que já soma mais de cinquenta anos de experiência no ramo. Embora “White Line Frankstein”, que tem a participação de Tom Morello, também seja muito boa, o destaque mesmo é “I’m Alice”.
7) Extreme – “Six” (hard rock)
Quando a banda fez o show matador no festival Best of Blues and Rock em São Paulo, o disco ainda não havia saído. Quase tudo o que se sabia era que o single “Rise” era grudento e o solo fez a comunidade gutarrística do mundo todo voltar aos estudos. Mas o disco vai além disso e das previsíveis – e boas – baladas, “Other Side of the Rainbow” e “Small Town Beautiful”. Tem pop em “Beautiful Girls” e nu metal em “Thicker Than Blood”, sem que soe conflitante ou que pareça que o Extreme tenha perdido o rumo de casa. O tanto que o Gary Cherone está cantando, tanto nos tons altos como nos mais suaves, não é brincadeira. O destaque é “Rise”.
6) Ego Kill Talent – “Call Us By Her Name”, EP (rock alternativo)
É um EP, mas que se destaca tanto pela qualidade das músicas por marcar um momento significativo da história da banda brasileira: é o primeiro lançamento com a nova vocalista, a incrível Emmily Barreto (do Far From Alaska, que também lançou um EP muito bom neste ano). As quatro músicas lembram uma combinação de Alanis Morissette com Paramore, mas com intensidade e melodias em nível inédito na carreira da banda. Todas já são de longe as melhores que lançaram até o momento e o destaque é “Finding Freedom”.
5) Prezola – “Antes da Próxima Fase” (hip hop)
O que o melhor do hip hop brasileiro tem a oferecer. Letras com ritmo e rimas cativantes, refrãos grudentos de sobra e uma produção que reforça o talento dos envolvidos e o que a música quer dizer. Isso fica evidente como o clima que músicas pesadas como “Sobrevivendo em Perigo” e “Vozes no Silêncio” difere de “Nóis Num Have”, que retoma o verso de “1406” do Mamonas Assassinas para fechar o disco em clima festivo. O destaque é “Porra Meu Flavin”.
4) Luis Mariutti – “Unholy” (heavy metal)
Luis Mariutti é conhecido pela excelência técnica e por ter criado alguns dos arranjos de baixo mais complexos do metal nacional. Logo, era de se esperar um disco de solos desenfreados sem um vocalista creditado em qualquer das faixas. Não é nada disso. Com a ajuda de Fernanda Mariutti, Hugo Mariutti e a dupla Thiago Bianchi e Henrique Pucci (respectivamente vocalista e baterista do Noturnall), ele apresenta um disco sombrio, em que o baixo mais conduz o clima do que brilha sozinho. Coral católico, elementos de rituais do submundo da maçonaria, baião… é um todo que prende a atenção do ouvinte, que ainda pode se espantar com o encerramento dance/disco “Ilustrious Nobody”. O destaque é “The Eye of Evil”.
3) Måneskin – “Rush” (pop/glam rock)
Sobreviventes de todos os atentados que boas bandas novas tendem a sofrer por parte do conservadorismo característico do rock, os italianos provaram que não são só um rostinho bonito. Levaram a mistura de Franz Ferdinand com Red Hot Chilli Peppers ao nível da excelência e capturaram em disco a energia das excelentes e bem sucedidas apresentações ao vivo. “Rush” parece uma coletânea; não é todo dia que faixas como “Gossip”, com Tom Morello (olha ele aí de novo), “Don’t Wanna Sleep” e “Mammamia” aparecem no mesmo disco. O destaque é “The Loneliest”.
2) McFly – “Power to Play” (pop/hard rock)
O McFly sempre foi visto como uma boy band essencialmente pop, o que é meia verdade. São bons instrumentistas e compositores que mantiveram um pé e meio no rock de arena à la Bryan Adams. Em “Power to Play”, rasgaram a fantasia de vez. O álbum abre com um riff de respeito, um título autoexplicativo, “Where Did All the Guitars Go?” e versos como “Quem vai tocar para a rapaziada de cabelo comprido / Quando ninguém mais se importar? / Como eles vão lidar com a dor? Você não sabe que rock’n’roll faz bem pra alma?”. É um disco grudento que ferta com o hard rock, tem o momento indie em “I’m Fine” — que poderia tranquilamente ser do Weezer —, mas o destaque é a garageira “Crash”.
1) Mateus Fazeno Rock – “Jesus Ñ Voltará” (rock alternativo)
Dá para traçar vários paralelos entre o Mateus e o Chico Science e a Nação Zumbi. O principal é a abordagem inovadora e particular do bom e velho rock’n’roll. Se o último fundou o manguebeat, o Mateus traz o rock de favela, segundo o próprio. Reggae e hip hop complementam a mistura explosiva que ele usa para, ao mesmo, protestar e apresentar um universo, embora não seja um trabalho conceitual propriamente dito. É o melhor disco desta lista e o Mateus é um dos artistas mais promissores que despontaram em 2023. Destaque para a pedrada na vidraça que é a própria faixa-título, “Jesus Ñ Voltará”, que conta com a participação de Jup do Bairro.
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