Se comparado com 2022 tanto em volume de lançamentos quanto na qualidade destes, 2023 representou uma queda em ambos os números.
Uma das possíveis explicações talvez seja a volta dos shows e turnês após dois anos e meio de majoritária estase no setor do entretenimento ao vivo; podendo voltar a desfrutar de sua principal fonte de renda, artistas e bandas anunciaram giros locais e globais como nunca antes, e os ingressos nunca estiveram tão caros, uma inacessibilidade que margeia a falta de noção.
Mas há que se lembrar, também, que muitos foram aqueles que, em meio às restrições da pandemia, produziram discos como uma forma de manter a sanidade; música como fuga e canalização de emoções.
- Confira mais listas: Os melhores discos de 2023 na opinião da equipe do site IgorMiranda.com.br
No balaio restrito de novidades dentro do rock e do metal que sobreviveram à empolgação do dia de lançamento e encontraram espaço na playlist da vida, aqui estão os medalhistas do ano.
Melhores discos de 2023 para Marcelo Vieira
10) Wig Wam – “Out of the Dark” (hard rock)
Ter a música de abertura da série “Pacificador” apresentou o Wig Wam a um mundo além do nicho protecionista dos fãs de hard rock. Contudo, apesar do sucesso dos primeiros shows dos noruegueses em solo americano, o hype não se estendeu muito além disso. Sexto álbum de estúdio da banda, “Out of the Dark” é o mais metal de sua discografia. No entanto, apenas por incluir a balada “The Purpose”, um ponto totalmente fora da curva em relação ao repertório convencional, já merece atenção. Mas, de fato, o Wig Wam headbanger também se destaca como excelente!
9) Cannibal Corpse – “Chaos Horrific” (death metal)
O segundo álbum do Cannibal Corpse desde que o produtor Erik Rutan assumiu também a função de guitarrista é tão impressionante quanto “Violence Unimagined” (2021), mas ainda mais direto. Essa abordagem mais concisa lhe confere uma vantagem no tira-teima com o antecessor. Em apenas 39 minutos, a maior banda de Death Metal do planeta entrega dez provas do porquê merece esse título. Além disso, Vincent Locke, mais uma vez, acertou em cheio na arte da capa. Brutal.
8) Blink-182 – “One More Time…” (pop punk)
“Por que tem que haver uma tragédia para abrirmos nossos corações?”, questiona Mark Hoppus em um dos versos da faixa-título de “One More Time…”. De fato, não fosse o câncer com o qual o baixista e vocalista foi diagnosticado, talvez Matt Skiba, do Alkaline Trio, ainda estivesse ocupando o lugar do ufólogo Tom DeLonge. A sensação de “tudo certo em seu lugar” — semelhante ao sentimento de completude que a volta de John Frusciante proporcionou ao Red Hot Chili Peppers — predomina no novo álbum do Blink-182, com a juventude punk rock que nunca morrerá quase que restrita à forma e um olhar maduro sobre a vida ditando o tom do conteúdo.
7) Mammoth WVH – “Mammoth II” (hard rock / alternativo)
“Blood is thicker than water”, diz o ditado em inglês, significando que os laços familiares são mais importantes ou mais fortes do que qualquer outro tipo de relação. Wolfgang, o “filho do homem”, em sua segunda empreitada solo, dá motivos de sobra para deixar o saudoso papai Eddie orgulhoso; não por simplesmente emular seu estilo — até porque isso seria impossível, diga-se —, mas por criar música tão difícil de rotular — é pop, rock, metal, tudo junto — quanto de tirar da cabeça, empregando uma técnica invejável nas composições. “II” é um testemunho de que, sim, “tá no sangue”!
6) Noel Gallagher’s High Flying Birds – “Council Skies” (rock alternativo)
Dada a quantidade de abobrinhas que Noel Gallagher fala à imprensa, gostar de sua música adquire incômodos contornos de prazer culposo. No entanto, é difícil resistir ao encanto de um álbum como “Council Skies”, no qual ele finalmente parece ter percebido que a parafernália eletrônica onipresente em “Who Built the Moon?” (2017) mais apequena do que valoriza. Os violões estão de volta com tudo, assim como o tom reflexivo que transformou o primeiro álbum homônimo do High Flying Birds em um clássico instantâneo em 2011. Resumindo numa frase que o próprio Noel seria capaz de proferir: não se coloca adesivo numa Ferrari. Mas ainda torço por uma reunião do Oasis.
5) Extreme – “Six” (hard rock)
“Extrume, a banda do Gary Chorume”. Perdi as contas das vezes em que me referi assim ao quarteto cujo único atrativo sempre me pareceu ser o exímio guitarrista Nuno Bettencourt. É verdade, sem mentira, certo e muito verdadeiro que o cara continua carregando os colegas nas costas — vide o solo de “Rise”, disparado o mais impressionante do rock neste ano —, mas o repertório de “Six” vai além da técnica suprema exibida por seu principal responsável, com ótimos refrães e até mesmo uma baladinha ao violão; a irresistível “Small Town Beautiful”.
4) Uriah Heep – “Chaos & Colour” (hard rock)
Vinte e cinco álbuns de estúdio representam uma conquista notável. Poucos podem se orgulhar desse feito. No seleto grupo de bandas longevas que continuam produzindo em escala quase industrial, o Uriah Heep destaca-se por abraçar o presente sem renunciar à sua essência. Mantendo as raízes fincadas no hard rock setentista, do qual foram um dos principais expoentes, Mick Box e cia. se mostram cientes de que a sobrevivência neste mercado está intrinsicamente ligada à renovação do público. É nesse quesito que “Chaos & Colour” leva nota máxima: é som de velho com pique de garoto, destinado a garotos com alma de velho.
3) Foo Fighters – “But Here We Are” (rock alternativo)
Dave Grohl enfrentou a perda de duas das pessoas mais importantes de sua vida em um curto espaço de tempo. Quatro meses após a morte do baterista e melhor amigo Taylor Hawkins, o líder do Foo Fighters disse adeus à mãe, Virginia. Como não surtar? Canalizando o luto da única e melhor maneira que conhece. Lançado com pouquíssimo alarde, “But Here We Are” é o produto desse expurgo forçado, com Dave dividindo os vocais com a filha Violet e explorando os ermos do shoegaze em “Show Me How”, ao mesmo tempo em que arrisca um prog fluxo de consciência na imersiva “The Teacher”. O primeiro capítulo da nova vida da banda não poderia ser mais pungente e significativo.
2) Winger – “Seven” (hard rock)
“Uma atualização de bases e valores, cujo objetivo é educar para o hard rock do presente milênio.” Foi assim que defini “Seven” em minha resenha publicada no site IgorMiranda.com.br em maio. Na ocasião de seu lançamento, o novo trabalho do Winger já tinha me impressionado, como há tempos um disco de hard rock não fazia. Passados sete meses e muitas audições depois, devo admitir: ele só melhora. Seus predicados, elencados na análise supramencionada, não apenas o elevam acima da média de seus pares, mas também lhe conferem potência suficiente para posicioná-lo no segundo lugar mais alto do pódio deste jornalista.
1) The Rolling Stones – “Hackney Diamonds” (rock)
A primeira foto promocional dos Stones neste ciclo atual apresenta Mick Jagger, Keith Richards e Ronnie Wood caminhando por um beco, com um visível vazio entre o vocalista e o guitarrista cofundador do grupo. É ali onde deveria estar Charlie Watts, o discreto baterista que nos deixou em 2021. O trio seguiu em frente com o colega em espírito, arregimentando um discípulo seu, Steve Jordan, para o posto e produzindo o que, tudo indica, é seu álbum final. Há quase três décadas, o mundo não era presenteado pelos pais da p#rra toda com um trabalho de qualidade tão inquestionável — sim, eu amo o quase trintão “Voodoo Lounge” (1994) —, permeado por tantos acenos à trajetória vitoriosa da banda e adornado com estelas de brilho ofuscante, tanto do passado (Sir Paul McCartney) quanto do presente, com a “ridícula” Lady Gaga roubando a cena na música do ano, “Sweet Sounds of Heaven”. São mais de 50 anos de carreira, e nem sinal dessas pedras que rolam criarem limo.
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