Kurt Vile nunca quer parar de produzir música. Quase um ano após o lançamento do disco “Watch My Moves”, ele retornou com o EP “Back to Moon Beach”, mostrando que enquanto sua sonoridade é despojada, sua produtividade é constante. Em entrevista para o site, o cantor e multi-instrumentista americano abriu o jogo sobre seu processo constante de composição e gravação, colaboradores e como seleciona covers.
“Back to Moon Beach” (clique aqui para ouvir) é o exemplo mais recente da prática feita por Vile de lançar trabalhos suplementares aos seus discos. Formado por canções originais e versões para faixas de Bob Dylan (“Must Be Santa”), Wilco (“Passenger Side”) e Marty Robbins (“Cool Water”), o EP reflete um desejo constante do músico indie, ex-integrante do The War on Drugs, de trabalhar em material interessante. Ele falou:
“O ideal é sempre ter algo guardado no cofre com cada disco. Tantas canções legais de álbuns anteriores que ainda não viram a luz do dia. É uma combinação de querer lançar mais arte, sabe? Fazer uma declaração. Mas também uma questão de encontrar o melhor jeito de fazer isso à medida que o tempo passa. Eu não sabia o quanto conseguiria fazer. Mas quando se dedica à tarefa, é meio que uma mistura do passado, sabe, coisas gravadas em setembro de 2019 antes da pandemia, o material mais antigo feito pra Verve [Vile assinou com a Verve Records em 2021], com coisa nova porque sempre estou fazendo overdubs que nem louco, sem saber se ia lançar, mas isso acaba resultando em algo.”
Sessões pré-pandemia
Kurt Vile revelou que a maior parte de “Back to Moon Beach” teve suas origens em uma sessão gravada em 2019 no estúdio Panoramic House, na cidade de Stinson Beach, Califórnia. Sobre esse período, afirmou:
“Eu sabia que o material de Stinson Beach tinha um potencial louco. Eu nunca tinha finalizado essas canções. A única canção das sessões em Stinson Beach que entrou no último álbum [‘Watch My Moves’] foi ‘Jesus on a Wire’. É com Cate Le Bon no piano e cantando.”
Le Bon, cantora e produtora galesa, está em alta ultimamente devido ao seu trabalho no disco mais recente do Wilco, “Cousin”. Sobre a contribuição da artista nas sessões em Stinson Beach, Vile lamentou que ela só esteve presente por menos de uma semana, mas destacou as contribuições feitas pela amiga, que foram além da música:
“Ela escutava as coisas, sugeria ideias de percussão e coisa assim. Ela tem seu próprio estilo e eu gostava de tê-la por perto. Ela te inspira já na base da presença dela. O piano dela em ‘Jesus on a Wire’ é lindo. Foi tudo dela. Ela tem uma voz única, e além de cantar nessa, ela também cantou na faixa título de ‘Back to Moon Beach’. Ela também toca um piano meio hipnótico. Quanto mais você trabalha, mais você quer ter certas pessoas em volta, que elas te fazem querer plugar a guitarra pra começar a trabalhar, sabe? Então ela trouxe uma combinação boa de adicionar elementos legais e a presença dela ser algo legal.”
Cover em família
Outra artista do Reino Unido que inspira Kurt Vile é um nome inusitado: Charli XCX. O músico se tornou fã da cantora inglesa durante a turnê de “Watch My Moves”, apresentando o trabalho dela para as duas filhas. A família se amarrou tanto no som a ponto de gravarem um cover de “Constant Repeat”, disponível por enquanto apenas na edição deluxe do EP.
Sobre as origens da versão, ele falou:
“Ela ganhou um prêmio no Reino Unido e me pediram pra fazer um cover dela. Eu fiquei bem nervoso. Eu estava intimidado, tenho complexo de inferioridade. Sei que estou mais velho, mas vejo essas músicas sendo lançadas super maneiras e é diferente, sabe? Essa música pop, mas Charli está no topo. Eu tava com medo de errar, e sabia que minhas filhas eram fãs de verdade como eu, então envolvê-las era vital porque não conseguiria fazer isso sozinho.”
Morte na banda
O EP também tem a distinção de conter as últimas gravações feitas por Rob Laakso com os Violators, a banda de apoio de Kurt Vile. Companheiro do frontman há mais de uma década, o baixista faleceu em 2023 por decorrência de um câncer raríssimo.
Ao refletir sobre a morte do amigo, o músico se mostrou triste pela perda, mas grato pelo tempo passado com o amigo. Ele disse:
“Fico tão feliz que pudemos trabalhar juntos no último disco. Foi muito divertido. A gente conversava muito pelo telefone enquanto fazíamos ‘Watch My Moves’. Ele foi crucial em certas coisas. A gente trabalhou muito duro juntos e fizemos tantas coisas legais, e evoluiu desde nosso começo, então ele sempre está lá conosco. A gente sempre vai continuar tocando música e é como todo mundo segue em frente. Até o Rob. Antes mesmo dele morrer, ele estava gravando até o fim.”
A revelação pública do câncer de Laakso só ocorreu dias antes de sua morte. Sobre o desejo por privacidade do companheiro de banda e sua determinação de continuar trabalhando, Vile falou:
“Foi muito impressionante como ele segurou a barra. Ele manteve o segredo por muito tempo, e foi difícil pra todo mundo porque estávamos na estrada e não podíamos falar para ninguém. Mas pelo outro lado, foi como ele conseguiu seguir em frente sem pensar no assunto. Viveu sua vida ao máximo até o fim, então isso foi lindo de ver.”
Planos para o Brasil
No espírito de seguir em frente, Kurt Vile ainda revelou seu desejo de tocar novamente no Brasil. Vile e os Violators vieram em abril de 2012 em uma turnê com Thurston Moore (Sonic Youth).
O cantor e compositor disse que quer retornar, mas não de qualquer jeito. Ele contou como houve uma oferta de festival no passado:
“É claro que quero ir. Não tem nada marcado ainda, mas faço questão de tocar aí. Houve uma época que rolaram umas ofertas de festival de última hora, mas não. Queremos planejar direitinho e fazer uma turnê mesmo. Ainda não tá marcado, mas definitivamente voltaremos ao Brasil.”
*Clique aqui para ouvir “Back to Moon Beach” em sua plataforma favorita.
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