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Do luto aos palcos: Os bastidores de “Bark at the Moon”, de Ozzy Osbourne

Terceiro álbum solo do cantor traz estreia de Jake E. Lee nas guitarras; subsequente turnê com Mötley Crüe foi marcada por comportamentos selvagens

Em 25 de março de 1982, Ozzy Osbourne participou do talk show americano “Late Night with David Letterman”. Ao final da entrevista, o apresentador dirigiu-se a ele com as seguintes palavras: “Sei que recentemente você passou por uma tragédia pessoal e profissional em sua vida. Honestamente, fiquei surpreso por você ter aceitado vir aqui hoje e estou muito agradecido. Se quiser, tome um minuto para explicar”.

Embora estivesse visivelmente sob o efeito de drogas e tentando conter as lágrimas, o cantor compartilhou: “Perdi duas das pessoas mais importantes da minha vida”.

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Essas pessoas eram o guitarrista Randy Rhoads e a cabeleireira Rachel Youngblood, que morreram em um acidente de avião em 19 de março — sim, menos de uma semana antes do programa.

Em meio ao luto, Ozzy considerou abandonar a música, interpretando as mortes como um sinal de que deveria parar. No entanto, esse pensamento não o acompanhou ao Ed Sullivan Theater naquela noite:

“Isso não vai me fazer parar porque eu amo o rock ‘n’ roll e o rock está relacionado com as pessoas, e eu amo as pessoas. É por isso que faço música. Vou continuar porque Randy gostaria disso e Rachel também. Não vou parar porque ninguém pode matar o rock ‘n’ roll.”

Assim começa a história de “Bark at the Moon”.

A busca pelo substituto perfeito

Para que Ozzy pudesse continuar, sua primeira providência era encontrar um novo guitarrista. Na autobiografia “Eu Sou Ozzy” (Saraiva, 2010), ele relata que o primeiro nome que lhe veio à mente foi o do alemão Michael Schenker:

“Liguei para ele. Ele disse algo como: ‘Eu faço isso, mas quero um jato particular, e isso e aquilo’. Eu disse a ele: ‘Por que você está impondo essas exigências agora? Apenas me ajude no próximo show e conversaremos’. Mas ele continuou dizendo: ‘Oh, eu vou precisar disso e daquilo’. No final, eu disse: ‘Sabe de uma coisa? Vá para o inferno’.”

A vaga acabou sendo preenchida pelo irlandês Bernie Tormé, que havia tocado com a banda solo de Ian Gillan, do Deep Purple. Em seu livro, Ozzy reflete sobre os primeiros shows com o suplente de Randy Rhoads:

“Honestamente, não sei como fizemos. Estávamos em estado de choque. Mas acho que sair em turnê era melhor do que ficar em casa, pensando nas duas pessoas incríveis que tínhamos perdido e no fato de que elas nunca mais voltariam.”

Bernie não durou muito, e Brad Gillis foi contratado para concluir a turnê. Quando este decidiu voltar para sua banda, Night Ranger, após o fim do giro, Ozzy se viu obrigado a encontrar um substituto permanente.

Após realizar testes em Los Angeles, ele reduziu a lista a dois finalistas: George Lynch, do Dokken, e Jake E. Lee, do Rough Cutt. Embora estivesse inicialmente inclinado a oferecer a vaga a Lynch, Ozzy mudou de ideia no último minuto e escolheu Lee.

Foi um golpe duro para George, que, casado e pai de dois filhos pequenos, pensava que sua sorte estava finalmente mudando. Em uma entrevista a Tom Beaujour e Richard Bienstock, autores de “Nöthin’ But a Good Time” (Estética Torta, 2022), o guitarrista comentou:

“Acho que o grande problema [que me fez perder a vaga] foi ter cortado meu cabelo curto. Eu não parecia um daqueles roqueiros das revistas. Mas, ei, eu poderia ter usado uma peruca. O próprio Ozzy estava careca na época!”

Embora sua esposa e empresária, Sharon — a quem Ozzy pediu em casamento nessa mesma época —, concordasse que Jake tinha um cabelo mais bonito — “Ele tinha tudo melhor do que George”, disse ela a Beaujour e Bienstock —, o cantor atribuiu a escolha a um critério puramente musical:

“George Lynch é um guitarrista excelente, mas Jake E. Lee tinha mais elegância ao tocar guitarra.”

O primeiro compromisso de Jake com Ozzy foi no US Festival, em maio de 1983, diante de 350 mil espectadores. Podemos dizer que foi um verdadeiro batismo de fogo para ele.

A história não contada por trás das letras e da composição

Após o US Festival, Ozzy Osbourne, Jake E. Lee, o baixista Bob Daisley e o baterista Tommy Aldridge foram para Nova York e começaram a compor. Na verdade, Lee e Daisley começaram a compor. Em uma entrevista à Guitar World de novembro de 1986, o guitarrista disse:

“A maioria das músicas era minha: ‘Rock ‘n’ Roll Rebel’, ‘Bark at the Moon’, ‘Now You See It (Now You Don’t)’, ‘Waiting for Darkness’ e ‘Slow Down’ eram minhas.”

Ao Ultimate Classic Rock em dezembro de 2013, Lee falou especificamente sobre a faixa que acabaria dando título ao álbum:

“Lembro que tinha o riff de ‘Bark at the Moon’ e o toquei, e ele [Ozzy] disse: ‘Ah, gostei disso’. Ele já tinha o título do álbum em mente. Então disse: ‘Essa é a que vai ser ‘Bark at the Moon’.’ Ele vinha com coisas assim do nada e então enchia a cara. Daí, ou ele apagava ou ia embora, deixando Bob e eu sozinhos. Ficávamos no estúdio e aprimorávamos as músicas. Foi divertido trabalhar com Bob. Ele escreveu todas as letras, [e é] um ótimo letrista.”

Na época de “Bark at the Moon”, Sharon apresentou a Jake e Bob um contrato que retirava seus direitos de composição e reprodução do álbum. O documento também os proibia de se pronunciarem publicamente sobre o assunto. Meio que sem saída, os dois optaram por assinar, e é por isso que no encarte de “Bark at the Moon” está escrito “Todas as músicas por Ozzy Osbourne”. Isso, obviamente, não é verdade.

Muitas pessoas pensam que Ozzy escreveu grande parte das letras que canta; foram levadas a acreditar nisso. Em entrevistas, o cantor sempre usou a primeira pessoa: “quando eu escrevi aquilo”. “É tudo mentira”, segundo Daisley em uma entrevista ao BraveWords em maio de 2011:

“Lembro que Ozzy deu uma entrevista para a revista International Musician, lá em 1983 ou 1984, e perguntaram a ele como ele escreveu aquelas músicas e ele respondeu ‘com um dedo no piano’. Que piada! A maioria das pessoas dá como certo que se alguém está cantando letras, as escreveu. Ridículo isso.”

Nas letras das quais Daisley abriu mão da autoria, há alfinetadas nas pessoas que julgavam, criticavam e acusavam Ozzy de ser um adorador do diabo (“Rock ‘N’ Roll Rebel”, “You’re No Different”); uma indireta a Sharon Osbourne (“Now You See It (Now You Don’t)”); ideias chupadas de Beatles (“Slow Down”) e The Kinks (“So Tired”); e uma crítica à hipocrisia dentro da religião organizada em “Waiting for Darkness”, sobre a qual Bob dissertou em seu site oficial em abril de 2011:

“Escrevi sobre a lavagem cerebral, controle mental, pedofilia e manipulação através da culpa, e que se isso é o que equivale à ‘luz’, então esperarei pela ‘escuridão’. Quando perguntaram a Ozzy sobre o que a música tratava, sua resposta foi ‘uma bruxa’. Parece que ele não entendeu as letras que eu havia escrito e ele cantou, embora tenha levado o crédito pela composição.”

O surgimento do clássico

A gravação de “Bark at the Moon” ocorreu no Ridge Farm Studios, em Rusper, Inglaterra, com Max Norman na engenharia de som e produção. O restante do álbum foi finalizado no Power Station, em Nova York, com Tony Bongiovi — primo de Jon Bon Jovi — cuidando da maior parte da mixagem.

Lançado em 18 de novembro de 1983 nos Estados Unidos e em 2 de dezembro de 1983 no Reino Unido com mudanças na tracklist — “Centre of Eternity” aparece com o título “Forever” e tem-se “Spiders in the Night”, posteriormente renomeada “Spiders”, ao invés de “Slow Down” —, “Bark at the Moon” levaria menos de dois meses para conquistar o status de disco de ouro (500 mil cópias vendidas). Atualmente, as vendas ultrapassam os três milhões de cópias.

Ao lançamento do álbum, seguiu-se o típico frenesi de turnê. Como as partes de bateria levaram muito tempo para serem concluídas, Sharon se vingou de Tommy Aldridge demitindo-o pouco antes de a banda iniciar o giro. Carmine Appice, do Vanilla Fudge, assumiu a vaga a tempo de aparecer no clipe de “Bark at the Moon”. No entanto, devido a seus frequentes atrasos para as passagens de som, ele também acabou sendo demitido.

Caos na estrada

De janeiro a abril de 1984, a etapa norte-americana da turnê de “Bark at the Moon”, que contou com os bad boys do rock de Los Angeles, Mötley Crüe, e os notórios beberrões britânicos do Waysted — banda liderada pelo ex-baixista do UFO, Pete Way —, gerou histórias que Ozzy não tem certeza se são verdadeiras ou falsas. “As pessoas me perguntam: ‘Você realmente cheirou uma carreira de formigas?’ e eu não faço ideia. É possível. Eu estava doido o tempo todo”, recorda-se ele em “Eu Sou Ozzy”.

No encarte da edição remixada de 2002 de “Bark at the Moon”, Ozzy lembra de ter dito ao empresário do Mötley, Doc McGhee: “Alguém vai morrer nessa turnê”. Pouco depois, o vocalista do Mötley, Vince Neil, matou o baterista do Hanoi Rocks, Razzle, em um acidente de carro. Sobre a banda de abertura, o cantor acrescenta:

“Eles [Mötley Crüe] eram completamente loucos. O que, obviamente, eu vi como um desafio (…) senti que precisava ser mais louco do que eles, ou não estaria fazendo minha parte adequadamente (…) Os shows eram a parte fácil. O problema era sobreviver entre eles (…) eles se vestiam como garotas, mas viviam como animais (…) Toda noite, garrafas voavam, facas eram mostradas, cadeiras eram destroçadas, narizes eram quebrados, propriedades eram destruídas. Era como se o hospício e o pandemônio se juntassem, multiplicados pelo caos.”

Ozzy pode até rir disso agora, mas no final da turnê, estava em petição de miséria. A pedido de Sharon, ele deu entrada na renomada clínica de reabilitação Betty Ford Center e ficou lá por seis semanas.

A visão de Ozzy e Jake E. Lee

Embora “Bark at the Moon” tenha rendido a Ozzy um de seus maiores sucessos — a faixa-título chegou a um impressionante 12º lugar nos Estados Unidos —, o cantor faz questão de destacar o quão difícil foi fazer o álbum:

“Foi difícil porque meus sonhos tinham sido despedaçados [com a morte de Randy Rhoads]. Foi uma daquelas situações em que você grava um álbum, sai em turnê, grava outro e faz outra turnê, e você começa a se sentir como uma porcaria de rato em uma roda depois de um tempo.”

Jake E. Lee, por sua vez, tende a ver o lado positivo:

“‘Bark at the Moon’ foi minha primeira gravação importante, então sempre terá um lugar especial no meu coração, e o fato de que ‘Bark at the Moon’ [a música], que eu escrevi, ainda é uma música icônica do repertório do Ozzy, é muito legal.”

Ozzy Osbourne – “Bark at the Moon”

  • Lançado em 15 de novembro de 1983 pela CBS
  • Produzido por Ozzy Osbourne, Bob Daisley e Max Norman

Faixas:

  1. Bark at the Moon
  2. You’re No Different
  3. Now You See It (Now You Don’t)
  4. Rock ‘N’ Roll Rebel
  5. Centre of Eternity
  6. So Tired
  7. Slow Down
  8. Waiting for Darkness

Músicos:

  • Ozzy Osbourne (vocal)
  • Jake E. Lee (guitarra, backing vocals)
  • Bob Daisley (baixo, backing vocals)
  • Tommy Aldridge (bateria)
  • Don Airey (teclados)

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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Terceiro álbum solo do cantor traz estreia de Jake E. Lee nas guitarras; subsequente turnê com Mötley Crüe foi marcada por comportamentos selvagens

Em 25 de março de 1982, Ozzy Osbourne participou do talk show americano “Late Night with David Letterman”. Ao final da entrevista, o apresentador dirigiu-se a ele com as seguintes palavras: “Sei que recentemente você passou por uma tragédia pessoal e profissional em sua vida. Honestamente, fiquei surpreso por você ter aceitado vir aqui hoje e estou muito agradecido. Se quiser, tome um minuto para explicar”.

Embora estivesse visivelmente sob o efeito de drogas e tentando conter as lágrimas, o cantor compartilhou: “Perdi duas das pessoas mais importantes da minha vida”.

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Essas pessoas eram o guitarrista Randy Rhoads e a cabeleireira Rachel Youngblood, que morreram em um acidente de avião em 19 de março — sim, menos de uma semana antes do programa.

Em meio ao luto, Ozzy considerou abandonar a música, interpretando as mortes como um sinal de que deveria parar. No entanto, esse pensamento não o acompanhou ao Ed Sullivan Theater naquela noite:

“Isso não vai me fazer parar porque eu amo o rock ‘n’ roll e o rock está relacionado com as pessoas, e eu amo as pessoas. É por isso que faço música. Vou continuar porque Randy gostaria disso e Rachel também. Não vou parar porque ninguém pode matar o rock ‘n’ roll.”

Assim começa a história de “Bark at the Moon”.

A busca pelo substituto perfeito

Para que Ozzy pudesse continuar, sua primeira providência era encontrar um novo guitarrista. Na autobiografia “Eu Sou Ozzy” (Saraiva, 2010), ele relata que o primeiro nome que lhe veio à mente foi o do alemão Michael Schenker:

“Liguei para ele. Ele disse algo como: ‘Eu faço isso, mas quero um jato particular, e isso e aquilo’. Eu disse a ele: ‘Por que você está impondo essas exigências agora? Apenas me ajude no próximo show e conversaremos’. Mas ele continuou dizendo: ‘Oh, eu vou precisar disso e daquilo’. No final, eu disse: ‘Sabe de uma coisa? Vá para o inferno’.”

A vaga acabou sendo preenchida pelo irlandês Bernie Tormé, que havia tocado com a banda solo de Ian Gillan, do Deep Purple. Em seu livro, Ozzy reflete sobre os primeiros shows com o suplente de Randy Rhoads:

“Honestamente, não sei como fizemos. Estávamos em estado de choque. Mas acho que sair em turnê era melhor do que ficar em casa, pensando nas duas pessoas incríveis que tínhamos perdido e no fato de que elas nunca mais voltariam.”

Bernie não durou muito, e Brad Gillis foi contratado para concluir a turnê. Quando este decidiu voltar para sua banda, Night Ranger, após o fim do giro, Ozzy se viu obrigado a encontrar um substituto permanente.

Após realizar testes em Los Angeles, ele reduziu a lista a dois finalistas: George Lynch, do Dokken, e Jake E. Lee, do Rough Cutt. Embora estivesse inicialmente inclinado a oferecer a vaga a Lynch, Ozzy mudou de ideia no último minuto e escolheu Lee.

Foi um golpe duro para George, que, casado e pai de dois filhos pequenos, pensava que sua sorte estava finalmente mudando. Em uma entrevista a Tom Beaujour e Richard Bienstock, autores de “Nöthin’ But a Good Time” (Estética Torta, 2022), o guitarrista comentou:

“Acho que o grande problema [que me fez perder a vaga] foi ter cortado meu cabelo curto. Eu não parecia um daqueles roqueiros das revistas. Mas, ei, eu poderia ter usado uma peruca. O próprio Ozzy estava careca na época!”

Embora sua esposa e empresária, Sharon — a quem Ozzy pediu em casamento nessa mesma época —, concordasse que Jake tinha um cabelo mais bonito — “Ele tinha tudo melhor do que George”, disse ela a Beaujour e Bienstock —, o cantor atribuiu a escolha a um critério puramente musical:

“George Lynch é um guitarrista excelente, mas Jake E. Lee tinha mais elegância ao tocar guitarra.”

O primeiro compromisso de Jake com Ozzy foi no US Festival, em maio de 1983, diante de 350 mil espectadores. Podemos dizer que foi um verdadeiro batismo de fogo para ele.

A história não contada por trás das letras e da composição

Após o US Festival, Ozzy Osbourne, Jake E. Lee, o baixista Bob Daisley e o baterista Tommy Aldridge foram para Nova York e começaram a compor. Na verdade, Lee e Daisley começaram a compor. Em uma entrevista à Guitar World de novembro de 1986, o guitarrista disse:

“A maioria das músicas era minha: ‘Rock ‘n’ Roll Rebel’, ‘Bark at the Moon’, ‘Now You See It (Now You Don’t)’, ‘Waiting for Darkness’ e ‘Slow Down’ eram minhas.”

Ao Ultimate Classic Rock em dezembro de 2013, Lee falou especificamente sobre a faixa que acabaria dando título ao álbum:

“Lembro que tinha o riff de ‘Bark at the Moon’ e o toquei, e ele [Ozzy] disse: ‘Ah, gostei disso’. Ele já tinha o título do álbum em mente. Então disse: ‘Essa é a que vai ser ‘Bark at the Moon’.’ Ele vinha com coisas assim do nada e então enchia a cara. Daí, ou ele apagava ou ia embora, deixando Bob e eu sozinhos. Ficávamos no estúdio e aprimorávamos as músicas. Foi divertido trabalhar com Bob. Ele escreveu todas as letras, [e é] um ótimo letrista.”

Na época de “Bark at the Moon”, Sharon apresentou a Jake e Bob um contrato que retirava seus direitos de composição e reprodução do álbum. O documento também os proibia de se pronunciarem publicamente sobre o assunto. Meio que sem saída, os dois optaram por assinar, e é por isso que no encarte de “Bark at the Moon” está escrito “Todas as músicas por Ozzy Osbourne”. Isso, obviamente, não é verdade.

Muitas pessoas pensam que Ozzy escreveu grande parte das letras que canta; foram levadas a acreditar nisso. Em entrevistas, o cantor sempre usou a primeira pessoa: “quando eu escrevi aquilo”. “É tudo mentira”, segundo Daisley em uma entrevista ao BraveWords em maio de 2011:

“Lembro que Ozzy deu uma entrevista para a revista International Musician, lá em 1983 ou 1984, e perguntaram a ele como ele escreveu aquelas músicas e ele respondeu ‘com um dedo no piano’. Que piada! A maioria das pessoas dá como certo que se alguém está cantando letras, as escreveu. Ridículo isso.”

Nas letras das quais Daisley abriu mão da autoria, há alfinetadas nas pessoas que julgavam, criticavam e acusavam Ozzy de ser um adorador do diabo (“Rock ‘N’ Roll Rebel”, “You’re No Different”); uma indireta a Sharon Osbourne (“Now You See It (Now You Don’t)”); ideias chupadas de Beatles (“Slow Down”) e The Kinks (“So Tired”); e uma crítica à hipocrisia dentro da religião organizada em “Waiting for Darkness”, sobre a qual Bob dissertou em seu site oficial em abril de 2011:

“Escrevi sobre a lavagem cerebral, controle mental, pedofilia e manipulação através da culpa, e que se isso é o que equivale à ‘luz’, então esperarei pela ‘escuridão’. Quando perguntaram a Ozzy sobre o que a música tratava, sua resposta foi ‘uma bruxa’. Parece que ele não entendeu as letras que eu havia escrito e ele cantou, embora tenha levado o crédito pela composição.”

O surgimento do clássico

A gravação de “Bark at the Moon” ocorreu no Ridge Farm Studios, em Rusper, Inglaterra, com Max Norman na engenharia de som e produção. O restante do álbum foi finalizado no Power Station, em Nova York, com Tony Bongiovi — primo de Jon Bon Jovi — cuidando da maior parte da mixagem.

Lançado em 18 de novembro de 1983 nos Estados Unidos e em 2 de dezembro de 1983 no Reino Unido com mudanças na tracklist — “Centre of Eternity” aparece com o título “Forever” e tem-se “Spiders in the Night”, posteriormente renomeada “Spiders”, ao invés de “Slow Down” —, “Bark at the Moon” levaria menos de dois meses para conquistar o status de disco de ouro (500 mil cópias vendidas). Atualmente, as vendas ultrapassam os três milhões de cópias.

Ao lançamento do álbum, seguiu-se o típico frenesi de turnê. Como as partes de bateria levaram muito tempo para serem concluídas, Sharon se vingou de Tommy Aldridge demitindo-o pouco antes de a banda iniciar o giro. Carmine Appice, do Vanilla Fudge, assumiu a vaga a tempo de aparecer no clipe de “Bark at the Moon”. No entanto, devido a seus frequentes atrasos para as passagens de som, ele também acabou sendo demitido.

Caos na estrada

De janeiro a abril de 1984, a etapa norte-americana da turnê de “Bark at the Moon”, que contou com os bad boys do rock de Los Angeles, Mötley Crüe, e os notórios beberrões britânicos do Waysted — banda liderada pelo ex-baixista do UFO, Pete Way —, gerou histórias que Ozzy não tem certeza se são verdadeiras ou falsas. “As pessoas me perguntam: ‘Você realmente cheirou uma carreira de formigas?’ e eu não faço ideia. É possível. Eu estava doido o tempo todo”, recorda-se ele em “Eu Sou Ozzy”.

No encarte da edição remixada de 2002 de “Bark at the Moon”, Ozzy lembra de ter dito ao empresário do Mötley, Doc McGhee: “Alguém vai morrer nessa turnê”. Pouco depois, o vocalista do Mötley, Vince Neil, matou o baterista do Hanoi Rocks, Razzle, em um acidente de carro. Sobre a banda de abertura, o cantor acrescenta:

“Eles [Mötley Crüe] eram completamente loucos. O que, obviamente, eu vi como um desafio (…) senti que precisava ser mais louco do que eles, ou não estaria fazendo minha parte adequadamente (…) Os shows eram a parte fácil. O problema era sobreviver entre eles (…) eles se vestiam como garotas, mas viviam como animais (…) Toda noite, garrafas voavam, facas eram mostradas, cadeiras eram destroçadas, narizes eram quebrados, propriedades eram destruídas. Era como se o hospício e o pandemônio se juntassem, multiplicados pelo caos.”

Ozzy pode até rir disso agora, mas no final da turnê, estava em petição de miséria. A pedido de Sharon, ele deu entrada na renomada clínica de reabilitação Betty Ford Center e ficou lá por seis semanas.

A visão de Ozzy e Jake E. Lee

Embora “Bark at the Moon” tenha rendido a Ozzy um de seus maiores sucessos — a faixa-título chegou a um impressionante 12º lugar nos Estados Unidos —, o cantor faz questão de destacar o quão difícil foi fazer o álbum:

“Foi difícil porque meus sonhos tinham sido despedaçados [com a morte de Randy Rhoads]. Foi uma daquelas situações em que você grava um álbum, sai em turnê, grava outro e faz outra turnê, e você começa a se sentir como uma porcaria de rato em uma roda depois de um tempo.”

Jake E. Lee, por sua vez, tende a ver o lado positivo:

“‘Bark at the Moon’ foi minha primeira gravação importante, então sempre terá um lugar especial no meu coração, e o fato de que ‘Bark at the Moon’ [a música], que eu escrevi, ainda é uma música icônica do repertório do Ozzy, é muito legal.”

Ozzy Osbourne – “Bark at the Moon”

  • Lançado em 15 de novembro de 1983 pela CBS
  • Produzido por Ozzy Osbourne, Bob Daisley e Max Norman

Faixas:

  1. Bark at the Moon
  2. You’re No Different
  3. Now You See It (Now You Don’t)
  4. Rock ‘N’ Roll Rebel
  5. Centre of Eternity
  6. So Tired
  7. Slow Down
  8. Waiting for Darkness

Músicos:

  • Ozzy Osbourne (vocal)
  • Jake E. Lee (guitarra, backing vocals)
  • Bob Daisley (baixo, backing vocals)
  • Tommy Aldridge (bateria)
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