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Recuperado da gripe, Glenn Hughes faz show de alto nível no Rio

“The Voice of Rock” celebra os 50 anos do álbum mais clássico que gravou no Deep Purple com sorrisos e jams

O cancelamento do show de Glenn Hughes em Curitiba por conta de uma gripe deixou quem estava com ingresso comprado para as datas de Rio de Janeiro e São Paulo com a pulga atrás da orelha. Por mais que pareça ser de outro mundo, o artista que ostenta o título de “The Voice of Rock” é um ser humano, no fim das contas.

Mas Hughes, 72, não apenas se recuperou a tempo de dar continuidade à turnê como mostrou, na noite da última sexta-feira (10) na capital fluminense, que o altíssimo nível seria mantido, vocal e musicalmente falando.

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Foto: Carla Cardoso

O presente giro visa à celebração dos 50 anos de “Burn” (1974), álbum inaugural da chamada formação MK3 do Deep Purple e responsável por colocar no mapa os nomes dos recém-chegados Hughes e David Coverdale. O aniversário é só em fevereiro, mas Glenn deu início aos festejos em maio passado e, diga-se, vem cumprindo o itinerário melhor do que se poderia esperar de um cara que já passou por quase tudo nessa vida em matéria de tóxicos e substâncias ilícitas.

A tenacidade dos números é estarrecedora, mas o que mais chama a atenção em Hughes, que subiu ao palco acompanhado do aniversariante da véspera Søren Andersen (guitarra), Ash Sheehan (bateria) e Bob Fridzema (teclados) meia hora após o previsto — creio, para que ninguém na fila de entrada perdesse segundos preciosos da apresentação —, é a alegria que emana da figura, sempre sorridente, jogando beijos, fazendo coraçãozinho com as mãos… o avô riponga que todos gostariam de ter.

Foto: Carla Cardoso

Embora o mote da tour seja o meio século de “Burn”, o repertório não se limita a este, com “Stormbringer”, do disco homônimo, abrindo os trabalhos. Nela já se nota o que vai ser uma das constantes da noite: a inclinação de Glenn e seus músicos a prolongadas sessões de improvisação. Solos extendidos, compassos aumentados, quebras inesperadas, interpolações, jams; cartilha jazzística aplicada no contexto do rock. O solo de Sheehan, pontuado por levadas de samba, foi um dos mais legais que este jornalista pôde presenciar num show.

Também, contrariando expectativas criadas quando do anúncio do giro, “Burn” não é tocado na íntegra. O disco comparece, talvez, com suas principais representantes: “Might Just Take Your Life”, “You Fool No One” – com enxertos de “High Ball Shooter” – “Mistreated” – incluindo um momento storytelling no qual Hughes relembrou as origens deste clássico – e, lógico, a incendiária faixa-título na condição de encerramento ideal para duas horas de música rolando.

Foto: Carla Cardoso

A era Tommy Bolin AKA MK4 viu-se representada, também. Carinho e saudade colorem o breve aceno de Hughes ao guitarrista morto em 1976 aos 26 anos. Se a ideia era – sem dúvida que é – honrar o legado do deus esquecido da guitarra, a suingada “Gettin’ Tighter” e a contemplativa “You Keep On Moving” não só o fizeram como elucidaram a versatilidade do criminosamente subestimado “Come Taste the Band” (1975), disco que Ritchie Blackmore não teria munheca para gravar.

Rolou ainda “Highway Star”, e muitos que diriam preferir outra no lugar por não ter nada a ver essa inclusão ou já estarem fartos de ouvi-la acabaram se rendendo à metralhadora de agudos que cantores com metade da idade são incapazes de atingir.

Foto: Carla Cardoso

“Vocês são o público mais barulhento do Brasil, hein?”, brincou Glenn a certa altura. “Deixem-me provar o quanto sou grato por isso e o quanto amo todos vocês!”, completou. Ao anunciar, no palco, novo álbum do projeto Black Country Communion, o delírio foi coletivo. E quando prometeu voltar assim que seu próximo disco solo estiver pronto, ele teve a certeza da reciprocidade de seu amor.

*Fotos de Carla Cardoso. Mais imagens e vídeos ao fim da página.

Foto: Carla Cardoso

Glenn Hughes – ao vivo no Rio de Janeiro

  • Local: Sacadura 154
  • Data: 10 de novembro de 2023
  • Turnê: Classic Deep Purple Live – Celebrating the 50th Anniversary of the album Burn

Repertório:

  1. Stormbringer
  2. Might Just Take Your Life
  3. Sail Away
  4. You Fool No One
  5. Mistreated
  6. Gettin’ Tighter
  7. You Keep On Moving
  8. Highway Star

Bis:

  1. Burn

Vídeos:

Fotos:

Foto: Carla Cardoso
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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

1 COMENTÁRIO

  1. Boa Resenha. Além da inimaginável energia que o circula, Glenn Hughes domina o baixo como poucos. Vale lembrar também que era aniversário do Soren Andersen, que o próprio Glenn fez um solo de baixo arrasador, e disse que gostaria de voltar fazendo um show com músicas da carreira dele [Trapeze/Hughes Thrall/Phenomena]. Show inesquecível. Quem não foi não verá mais este show tributo.

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Mas Hughes, 72, não apenas se recuperou a tempo de dar continuidade à turnê como mostrou, na noite da última sexta-feira (10) na capital fluminense, que o altíssimo nível seria mantido, vocal e musicalmente falando.

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O presente giro visa à celebração dos 50 anos de “Burn” (1974), álbum inaugural da chamada formação MK3 do Deep Purple e responsável por colocar no mapa os nomes dos recém-chegados Hughes e David Coverdale. O aniversário é só em fevereiro, mas Glenn deu início aos festejos em maio passado e, diga-se, vem cumprindo o itinerário melhor do que se poderia esperar de um cara que já passou por quase tudo nessa vida em matéria de tóxicos e substâncias ilícitas.

A tenacidade dos números é estarrecedora, mas o que mais chama a atenção em Hughes, que subiu ao palco acompanhado do aniversariante da véspera Søren Andersen (guitarra), Ash Sheehan (bateria) e Bob Fridzema (teclados) meia hora após o previsto — creio, para que ninguém na fila de entrada perdesse segundos preciosos da apresentação —, é a alegria que emana da figura, sempre sorridente, jogando beijos, fazendo coraçãozinho com as mãos… o avô riponga que todos gostariam de ter.

Foto: Carla Cardoso

Embora o mote da tour seja o meio século de “Burn”, o repertório não se limita a este, com “Stormbringer”, do disco homônimo, abrindo os trabalhos. Nela já se nota o que vai ser uma das constantes da noite: a inclinação de Glenn e seus músicos a prolongadas sessões de improvisação. Solos extendidos, compassos aumentados, quebras inesperadas, interpolações, jams; cartilha jazzística aplicada no contexto do rock. O solo de Sheehan, pontuado por levadas de samba, foi um dos mais legais que este jornalista pôde presenciar num show.

Também, contrariando expectativas criadas quando do anúncio do giro, “Burn” não é tocado na íntegra. O disco comparece, talvez, com suas principais representantes: “Might Just Take Your Life”, “You Fool No One” – com enxertos de “High Ball Shooter” – “Mistreated” – incluindo um momento storytelling no qual Hughes relembrou as origens deste clássico – e, lógico, a incendiária faixa-título na condição de encerramento ideal para duas horas de música rolando.

Foto: Carla Cardoso

A era Tommy Bolin AKA MK4 viu-se representada, também. Carinho e saudade colorem o breve aceno de Hughes ao guitarrista morto em 1976 aos 26 anos. Se a ideia era – sem dúvida que é – honrar o legado do deus esquecido da guitarra, a suingada “Gettin’ Tighter” e a contemplativa “You Keep On Moving” não só o fizeram como elucidaram a versatilidade do criminosamente subestimado “Come Taste the Band” (1975), disco que Ritchie Blackmore não teria munheca para gravar.

Rolou ainda “Highway Star”, e muitos que diriam preferir outra no lugar por não ter nada a ver essa inclusão ou já estarem fartos de ouvi-la acabaram se rendendo à metralhadora de agudos que cantores com metade da idade são incapazes de atingir.

Foto: Carla Cardoso

“Vocês são o público mais barulhento do Brasil, hein?”, brincou Glenn a certa altura. “Deixem-me provar o quanto sou grato por isso e o quanto amo todos vocês!”, completou. Ao anunciar, no palco, novo álbum do projeto Black Country Communion, o delírio foi coletivo. E quando prometeu voltar assim que seu próximo disco solo estiver pronto, ele teve a certeza da reciprocidade de seu amor.

*Fotos de Carla Cardoso. Mais imagens e vídeos ao fim da página.

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Glenn Hughes – ao vivo no Rio de Janeiro

  • Local: Sacadura 154
  • Data: 10 de novembro de 2023
  • Turnê: Classic Deep Purple Live – Celebrating the 50th Anniversary of the album Burn

Repertório:

  1. Stormbringer
  2. Might Just Take Your Life
  3. Sail Away
  4. You Fool No One
  5. Mistreated
  6. Gettin’ Tighter
  7. You Keep On Moving
  8. Highway Star

Bis:

  1. Burn

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Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

1 COMENTÁRIO

  1. Boa Resenha. Além da inimaginável energia que o circula, Glenn Hughes domina o baixo como poucos. Vale lembrar também que era aniversário do Soren Andersen, que o próprio Glenn fez um solo de baixo arrasador, e disse que gostaria de voltar fazendo um show com músicas da carreira dele [Trapeze/Hughes Thrall/Phenomena]. Show inesquecível. Quem não foi não verá mais este show tributo.

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