Não é todo dia que um evento de cultura pop como a CCXP recebe um astro do rock. Isso fez Bruce Dickinson, uma das atrações do primeiro dia de CCXP23, nesta quinta-feira (30), ser recebido como se estivesse prestes a fazer um show — com direito a iluminação e fumaça no palco.
Até rolou palhinha de “Revelations” — que pode ser vista abaixo —, a capella, na pegada “quem sabe, faz ao vivo”, no alto de seus 65 anos, mas Dickinson não estava ali para uma performance musical. O vocalista do Iron Maiden veio ao Brasil para apresentar “The Mandrake Project”, seu primeiro trabalho solo desde 2005.
A iniciativa envolve o lançamento de um álbum, dia 1º de março 2024 pela gravadora BMG, e de uma história em quadrinhos, dividida em 12 “episódios” a serem disponibilizados em intervalos de três meses.
Dickinson começou lembrando de seus sete shows solo agendados no Brasil para abril de 2024 (clique aqui para conferir a agenda) e destacou que o Maiden lançou, no último dia 21 de novembro, uma HQ para celebrar os 40 anos de “Piece of Mind”, quarto álbum da banda. Algumas prévias foram exibidas e o cantor comentou que cada canção do disco rendeu um capítulo feito por um artista diferente — e a parte referente à música “Revelations” na graphic novel foi roteirizada por ele em parceria com Tony Lee.
O profissional em questão é um dos vários envolvidos também em “The Mandrake Project”, definida por Dickinson como uma história de “um mundo em que a ciência conquistou a morte”. O primeiro capítulo será disponibilizado em 15 de janeiro e põe fim a uma espera de quase uma década por parte de Bruce. Ele conta:
“Em 2014, pensei em fazer um álbum solo. Até então eu havia feito sete discos, como ‘Accident of Birth’, ‘The Chemical Wedding’, entre outros. Pensei em lança-lo após ‘The Book of Souls’, mas acabei ficando doente, tive câncer de garganta (na verdade, na língua). Eu me recuperei e fizemos a tour de ‘The Book of Souls’. Então, pensei que logo após seria hora do meu álbum solo. Mas aí veio a pandemia de covid. Foram oito anos perdidos. Até que em 2021 pude retomar. Junto da graphic novel, levei dois anos e meio para fazer a coisa sair.”
A história de “The Mandrake Project”
O poeta e alquimista inglês William Blake (1757-1927) é a principal inspiração para a história de “The Mandrake Project”, assim como havia sido de “The Chemical Wedding”, álbum lançado em 1998. Blake, inclusive, foi descrito por Bruce Dickinson como “o artista mais rock and roll que existe, um gênio e um visionário”. Durante entrevista posterior ao painel, Bruce Dickinson comentou:
“A HQ é uma graphic novel de 12 episódios. É adulta: tem sexo, drogas, violência, todo tipo de coisa. Mas é basicamente sobre um cara que busca por sua identidade. É o Necropolis, um órfão, um gênio e ele odeia isso, odeia a vida. Mas ele está envolvido no Mandrake Project. E este Mandrake Project planeja tirar a alma humana e colocar em outra coisa. O professor Lazarus, que comanda o projeto, tem uma visão do que irá acontecer com essa tecnologia. Necropolis tem outra ideia. E aí vai a história.”
Videoclipe e Brasil
Com duração aproximada de pouco mais de meia hora, o painel na CCXP foi encerrado com a exibição — dupla — do videoclipe de “Afterglow of Ragnarok”, primeiro single de “The Mandrake Project”. Com direção de Ryan Mackfall, a filmagem teve seu resultado bastante elogiado por Bruce Dickinson; segundo ele, o investimento foi tão alto — e teve tanta gente trabalhando no material — que a própria BMG não parecia acreditar no tamanho de tudo aquilo.
E não será o único vídeo do novo disco. De acordo com Bruce, um segundo clipe será disponibilizado quando for iniciado o ciclo de lançamentos da HQ, em janeiro. Ainda haveria um terceiro. Sabe onde ele deve ser filmado? Isso mesmo: no Brasil, durante a turnê do cantor, em abril; ou ao menos foi o que ele deu a entender. Durante a entrevista pós-painel, Dickinson refletiu sobre sua relação com o país — cada vez mais visitado por ele nos últimos tempos, com direito a outras duas palestras no último ano (clique aqui e aqui para relembrá-las):
“Viemos pela primeira vez ao Brasil em 1985, no Rock in Rio. Antes de muitos aqui serem nascidos. Era meio caótico, pois foi o primeiro, mas o amor era incrível. A plateia era incrível. É o que faz valer a pena. Temos plateias incríveis na Europa, como a Itália, que é muito explosivo, e a Espanha, onde quanto mais pesado fica, melhor fica. Mas aí vamos ao Brasil e pensamos: ‘uau, que lugar é esse?’.”
Sentindo-se até um morador de nosso país, Bruce fez uma cobrança — em aparente tom de brincadeira — ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para acabar com a chamada taxa de conveniência para compra de ingressos. O valor adicional chega a 20% do preço da entrada.
“Ingressos no Brasil são algo estranho, não é? Se você compra online, você precisa pagar MAIS. É insano. Uma grande bobagem. Vocês precisam fazer algo com relação a isso. Lula, faça algo sobre isso! Faça algo útil.”
Assista ao videoclipe de “Afterglow of Ragnarok” a seguir.
HQ, música e paixão
Durante a entrevista pós-painel, Bruce Dickinson apontou que HQ e música “são coisas que andam juntas, assim como videogames”. Ele também revelou que a ideia de trabalhar com quadrinhos surgiu naturalmente e por causa de sua banda de origem.
“Anos atrás, o Iron Maiden estava fazendo algumas capas de singles (em provável menção aos singles de ‘The Final Frontier’, álbum de 2010). Eu pensei: ‘por que não fazer uma história em quadrinhos como eu lia na infância?’. Eu era um grande fã do Surfista Prateado e do Tocha. Eu queria ser o Tocha Humana quando criança: ele sempre ficava pistola e ele sempre colocava fogo em tudo.
Quando sugeri fazer capas de HQs, fizemos algumas capas para o Iron Maiden. Foi muito legal. Depois, o Maiden lançou um videogame, ‘Legacy of the Beast’. E alguém produziu uma série de HQs relacionada ao game. Achei visualmente fantástico, mas faltava uma história. Então, pensei: ‘e se um álbum tivesse uma HQ conectada?’. Mas isso se separou. Em 2014, seria uma história em quadrinhos junto do álbum e é isso. Mas aí outras coisas aconteceram, a Covid veio, sete anos se passaram. Eu tinha uma HQ de 12 episódios, mas não quis restringir o álbum a isso. Essas duas coisas existem separadamente, mas elas se ‘informam’, estão relacionadas.”
Dickinson reconhece que temáticas de fantasia e ficção científica se encaixam muito bem com heavy metal. Ele próprio gostava de consumir tais temáticas na juventude — ele se descreveu como um “nerd que passava a maior parte do tempo em bibliotecas lendo coisas estranhas quando garoto”. O público geek, em sua visão, se identifica muito com o do heavy metal devido ao tratamento apaixonado que dão para suas obras prediletas.
“Amo pessoas que sejam apaixonadas por qualquer coisa. Seja metal, música, cinema… tem quem diga que o heavy metal é agressivo. Mas eu não gosto dessa palavra. Prefiro ‘apaixonado’. Parece a mesma coisa, mas não é. As pessoas amam tanto, se empolgam tanto, por isso ficam assim. É por isso que minha turnê solo começa no Brasil. Queria começar com a melhor plateia do mundo.”
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