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Como Steve Vai desenvolveu a JEM, sua peculiar guitarra signature

Um dos virtuosos mais icônicos de todos os tempos passou por uma verdadeira odisseia para criar um instrumento tão reconhecível quanto ele

A essa altura, Steve Vai é conhecido tanto por sua habilidade incrível na guitarra quanto pelo instrumento no qual faz esses feitos mirabolantes: a Ibanez Jem. O que seria uma Stratocaster comum ganhou contornos lendários graças à inclusão estética de uma alça (monkey grip) no corpo, além de vários upgrades técnicos.

O modelo foi lançado inicialmente em 1987 e se tornou um sucesso de vendas. Com o passar dos anos, ainda ganhou novas versões. Mesmo sendo uma guitarra signature (que geralmente tem poucas unidades fabricadas), passou a ser produzida em grande escala.

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No livro “Iconic Guitar Gear”, escrito por Greg Prato (via Ultimate Guitar), Vai contou a história por trás da Ibanez JEM. Tudo começou por ele estar insatisfeito com o modelo que usava anteriormente.

“Depois da Green Meanie [uma Super Strat da Charvel usada por Vai com David Lee Roth] e de trabalhar com Frank Zappa – que realmente pensava fora da caixa, e fazia o que quisesse para que suas guitarras fizessem coisas estranhas – comecei a sentir: ‘a Green Meanie era legal… mas não cobre todas as minhas necessidades, pois não tem muitas casas/trastes, nem um cutaway (corte que permite acessar as casas mais agudas) maior’. Havia coisas sobre ela que eu amava, mas não era exatamente o que eu queria. Primeiro, fui a uma loja de guitarras em Hollywood, a Performance Guitar, e falei exatamente o que queria em uma guitarra.”

O músico se definiu como “ingênuo e inocente” ao fazer vários pedidos que pareciam irreais para a montagem do modelo.

“Eu era ingênuo e inocente. Eu disse: ‘Eu quero um cutaway grande, quero 24 trastes, quero que a configuração de captadores seja assim – com um humbucker, um single coil e um humbucker. E com uma elétrica que na posição intermediária você tenha dois single coils – que é aquele som Strat que eu adoro’. Eles me falaram mais tarde que era a primeira guitarra modelo de produção que tinha esse tipo de configuração de captador. Foi só mais tarde – então essa é a minha isenção de responsabilidade [risos]. Mas havia alguns recursos. Em Stratocasters e Les Pauls, os conectores de cabo estão em posições em que, se você pisar no cabo, ele cai. Então, eu disse: ‘Coloque assim, para que a entrada seja embutida na guitarra de uma forma que o cabo não caia’. E depois movemos os botões de volume e coisas assim.”

Foto via Ibanez.com

Ibanez JEM e inovação

Outra grande inovação da Ibnez JEM foi a introdução de uma ponte que não era parafusada no corpo: elaera mantida no lugar pela tensão das cordas e das molas do sistema de tremolo. Steve Vai afirma:

“Mas uma das grandes inovações – e não tenho problema em usar essa palavra, porque foi – foi o tremolo flutuante. Eu só queria instintivamente puxar para cima na alavanca, e não havia guitarras que fizessem isso. E isso foi justamente na época em que Floyd Rose [engenheiro criador da ponte homônima] era um novato, sabe? Eu apenas peguei um martelo e um cinzel e bati onde está o bloco. De repente, subiu uma quinta harmônica. Então, quando eu mandei Kuni [Kunio ‘Kenny’ Sugai, criador da Performance Guitars] fazer essas guitarras, todas elas tinham essas cavidades. Eu me juntei à banda de David Lee Roth – e essa é uma das razões pelas quais eu tinha essas guitarras feitas, porque eu estava indo em turnê com uma banda de rock grande, enorme, e eu precisava estar equipado. Então, eu achei essas guitarras ótimas para mim. Elas eram perfeitas – tinham captação DiMarzio, tudo o que eu queria. Fiquei feliz, mas não imaginava que alguém mais estaria interessado. Sempre me afastei de patrocinadores / endorsers, porque nunca quis ficar preso. Não sabia se algum dia encontraria empresas que me dessem o serviço que eu realmente precisava. Mas quando entrei na banda de David Lee Roth, muitas empresas queriam me dar o serviço que eu precisava. E todos queriam fazer a JEM.”

Apesar desse interesse todo, o processo de encontrar a empresa perfeita para fazer o instrumento ainda deu trabalho. Vai contou:

“Enviei as especificações para muitas das principais empresas e, inevitavelmente, recebi guitarras que eram os modelos delas com algumas pequenas mudanças… e meu nome nele. Não era o que eu queria. Exceto a Ibanez. Na verdade, eles me enviaram uma guitarra que eles acharam que eu gostaria como uma guitarra signature. E eu não gostei. Era boa e interessante, mas eu disse: ‘não, essa é a guitarra e quem a fizer, será meu endorser’. A Ibanez foi a única. Depois de três semanas, eles entregaram uma JEM – assim como meus protótipos, mas mais refinada.”

Foto via Ibanez.com

Steve Vai e o monkey grip

Quanto ao aspecto mais famoso da JEM – a alça (monkey grip) –, suas origens foram explicadas por Steve Vai da seguinte forma:

“A alça era algo… meio originado entre eu e meu melhor amigo, Joe Despagni. Ele era uma espécie de luthier. Fazia guitarras personalizadas, interessantes e criativas. E colocava buracos nelas. Ele colocou as primeiras alças em uma das minhas guitarras. Só elaborei a partir da ideia dele, e disse: ‘Vamos colocar uma alça com dedos nela. Por que não? Eu sou peculiar – quem se importa? Ninguém se importa além de mim!’. Mas uma vez que a Ibanez me trouxe aquela Jem, além do serviço e o apoio – além de um bom acordo –, eles disseram: ‘queremos fazer essa guitarra para outras pessoas’. Eu não conseguia entender o porquê, mas pensei: ‘bem, talvez outros fiquem interessados’. Mas, rapaz, um raio caiu. Duas vezes. Porque depois eles fizeram a de sete cordas.”

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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