Ben Gillies e Chris Joannou, respectivamente baterista e baixista do Silverchair, falaram sobre as batalhas contra o vício em drogas e a saúde mental que existiam na banda australiana. Os músicos lançam no próximo dia 27 de setembro a biografia conjunta “Love and Pain”.
Durante entrevista à ABC Australia, Joannou lembrou que por volta do quarto álbum, “Diorama” (2002), o vocalista, guitarrista e compositor Daniel Johns – com quem tiveram pouco contato desde o fim do grupo – começou a assumir o controle criativo. Conforme transcrição do NME, ele destacou:
“Ben provavelmente foi o que mais sofreu com isso. Ele pode ter sentido que seu amigo não confiava mais em seu julgamento musical. E aquele relacionamento criativo que tinham praticamente acabou.”
Gillies admitiu que a situação provocou uma ferida, embora reconheça o talento do frontman. Porém, a situação o fez intensificar o uso de maconha para aliviar o que sentia.
“Daniel é incrível no que faz, mas aquilo deixou uma fenda na minha armadura. Eu nunca tinha passado por isso antes. Comecei a sentir que estava perdendo um pouco o controle. Não da realidade, mas das minhas ações.”
A seguir, Ben passou a experimentar ecstasy, o que o isolou.
“Tive o que sei agora ter sido um surto psicótico agudo. Foi muito, muito assustador. Achei que estava ficando louco. Não contei a ninguém, estava com medo de que admitir isso fosse reconhecer que havia algo errado e que eu estava louco. Levei muito tempo para abordar o tema e até hoje lido com o transtorno de ansiedade.”
Sendo assim, escrever o livro também faz parte do processo de cura para o instrumentista.
“A razão pela qual estou fazendo isso é porque descobri que ser realmente aberto sobre o assunto é libertador. Também posso ajudar outras pessoas que estejam passando pelo mesmo.”
Sobre o Silverchair
O Silverchair vendeu mais de 10 milhões de discos, tendo lançado 5 trabalhos de estúdio entre 1995 e 2007. No período, conquistou 21 estatuetas no ARIA Awards – a versão australiana do Grammy – o que os coloca no patamar de artistas com mais vitórias na premiação até hoje.
Após o grande sucesso mundial, Daniel Johns se afastou dos holofotes, tendo que lidar com uma série de problemas de saúde desencadeados pela ansiedade, fruto da superexposição midiática a que foi submetido com a fama. Atualmente, ele realiza aparições esporádicas enquanto divulga seu trabalho solo e milita nas causas psíquicas.
Daniel Johns e a anorexia
Em 2021, o músico falou abertamente sobre sua batalha contra a anorexia – problema que também é relatado por Ben e Chris no livro. Em seu podcast, “Who is Daniel Johns?”, o artista confessou que a situação se manifestou pela primeira vez à época de “Freak Show” (1997), segundo disco da banda.
Na visão de Daniel, a única coisa que ele conseguia controlar na época era sua decisão em comer, pois outras pessoas tomando decisões sobre sua então jovem banda e sofria bullying quando voltava para casa. Sentindo-se culpado simplesmente por se alimentar, o músico ficava confinado em seu quarto quando não cumpria agenda profissional com o grupo.
“Eu costumava esperar até que todos fossem dormir e então eu saía para caminhar umas 2 horas da manhã. Ficava umas 3 horas fora, pois eu sofria de anorexia, então, tentava perder peso. Sentia-me condenado ao ostracismo. Todos da banda estavam indo a festas e se divertindo demais. Já eu estava depressivo e anoréxico. Eu só ficava no quarto tentando manter a banda ainda existindo. Senti que estava abandonado.
As pessoas não falavam de saúde mental no fim dos anos 1990. Não era algo comum, fazia com que você parecesse fraco. Agora é possível conversar sobre isso e sentir que está tudo bem. Mas na época, tive que parar e tentar descobrir o que fazer para resolver. Caso contrário, acabaria como Kurt Cobain. Eu me sentia mal a esse nível. Não queria ser assim, queria traçar meu próprio futuro.”
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