Antes da popularização da internet, “tentativa e erro” era a principal técnicas que os guitarristas iniciantes usavam para aprender uma música. Com a era digital e a infinidade de tutoriais e aplicativos disponíveis, os novatos puderam se concentrar em reproduzir o catálogo de seus ídolos, algo que pode ser prejudicial para a construção do musicista.
Em entrevista à Ultimate Guitar, Nuno Bettencourt refletiu sobre o impacto da tecnologia na vida de novos guitarristas. O músico do Extreme comparou os tutoriais disponíveis na internet com o método analógico que usava.
“Jovens guitarristas têm tudo. Eles têm a internet. O que isso significa? Isso significa que eles podem procurar qualquer pessoa – um solo de Eddie Van Halen, Eric Clapton, Five Finger Death Punch, o que eles quiserem. E quase aprender, literalmente, nota por nota, desacelerar no YouTube, fazer o que eles quiserem fazer, ver os caras te mostrarem, talvez até ver o guitarrista real mostrando para você.
É ótimo até que não seja ótimo. O que quero dizer com isso? Adoraria ter isso quando tinha 15, 16, 17, 18 anos. Mas, ao mesmo tempo, eu tinha a versão arcaica: você aprendia o primeiro riff de ‘Runnin’ with the Devil’ [música do Van Halen], rezava para lembrar exatamente o que tocou, pegar a guitarra e fazer aquele pedacinho. E então ir e voltar, ir e voltar, ir e voltar com a agulha no disco.”
Nuno ainda comentou como o método de “tirar música de ouvido” leva a formas diferentes de reproduzir o mesmo material. Isso oferece a oportunidade do musicista desenvolver seu próprio estilo.
“Quando aprendi o que pensava ser ‘Mean Street’, percebi que… eu acreditava que estava tocando exatamente como Edward [Van Halen]. E descobri mais tarde que estava tocando em uma região diferente da guitarra, eu estava tocando as notas em oitavas diferentes, áreas diferentes. Não vi exatamente como fizemos isso. Não sabia qual amplificador foi usado. Não sabia o que estava acontecendo.
Essa foi a má notícia. Mas a boa notícia foi que me permitiu interpretar minha versão de Edward, minha versão de Brian May, minha versão de Led Zeppelin. E mais tarde, quando você vê ao vivo, você fica tipo: ‘oh meu Deus, eu não tocava nada parecido’. Mas essa foi a boa notícia. Você toca Jimmy Page do seu jeito, não do jeito que Jimmy Page está mostrando exatamente. Acho super importante que os guitarristas tenham muito cuidado para não aprender demais a replicar.”
O conselho de Nuno Bettencourt
Por fim, Nuno Bettencourt aconselhou os jovens guitarristas a aproveitarem melhor das ferramentas disponíveis na internet, aprender com seus ídolos e então superá-los.
“Talvez seja isso que está acontecendo com a garotada tentando encontrar sua própria voz. Acho que eles precisam pegar essas ferramentas, aprender com os guitarristas que amam, mas depois parar. Quase como o que eu fiz, tipo: pegue tudo o que você quer de todos e então acabe com eles. Vá atrás deles. Tente derrubá-los. Acredite que você pode derrubar Eddie Van Halen. Mesmo que você não possa, mas você acredita, sabe? Você acaba criando sua própria sopa com esses ingredientes.”
A presença de Eddie Van Halen em “Six”
Nuno Bettencourt nunca escondeu que Eddie Van Halen, tão mencionado na entrevista, é a sua maior referência. Em “Six” (2023), novo álbum do Extreme, o quarteto prestou homenagem ao ás da guitarra. Com um ritmo consistente e solos de guitarra executados com maestria — destaque para o single “Rise” —, o grupo alcançou críticas positivas e um ótimo desempenho nas paradas.
O trabalho rendeu uma série de comparações entre Eddie e Nuno Bettencourt, que foi chamado de “herdeiro de Eddie Van Halen”. O guitarrista português recusou o posto alegando que “não há herdeiro do trono de Van Halen”.
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