A personalidade de Kurt Cobain desperta curiosidade nos fãs até hoje. Por ter falecido muito jovem e no auge do estrelato, em abril de 1994, aos 27 anos, o vocalista e guitarrista do Nirvana não pôde mostrar tanto de si para além das músicas e de algumas entrevistas.
Em entrevista de 2021 ao Whatever, Nevermind (com transcrição do Ultimate Guitar), o ex-empresário do grupo, Danny Goldberg, refletiu sobre o assunto ao comentou o início da colaboração com a banda.
O antigo manager destacou a postura visionária de Kurt Cobain quando o assunto era sua arte e contou que o grupo chegou até ele graças a uma característica pouco mencionada do músico: a ambição.
“Eles vieram até mim por causa desse lado ambicioso dele. Embora ele não mostrasse, era parte do que tornava a arte bem-sucedida. Ficou óbvio desde o primeiro encontro que ele tinha ideias muito fortes sobre onde queria que a banda fosse, e isso foi reforçado todas as outras vezes que falei com ele.”
Na visão de Goldberg, ninguém se torna tão bem-sucedido apenas por acidente. É preciso ter um certo nível de ambição para conquistar algo de tamanha proporção.
“Conversando com Krist Novoselic (baixista) sobre isso, ele disse que Kurt era muito intenso quando se tratava de sua arte. Ele insistia em ensaiar todos os dias, e se você olhar em seus diários, ele tinha todos esses desenhos de quando era criança, imaginando o Nirvana como atração principal e tocando em arenas. Ele tinha uma visão exata do que o Nirvana se tornou – uma banda de muito sucesso que falava a linguagem internacional do rock ‘n’ roll de massa, mas estava enraizada nos valores culturais e na intimidade do punk americano.”
O ex-empresário ainda revelou acreditar que todas as decisões relacionadas ao Nirvana (desde o público alvo à postura perante a mídia), foram cuidadosamente pensadas por Kurt.
“Ele mostrou ao mundo da música que havia um público mais jovem que estava cansado de rock, o que eles chamavam de ‘rock corporativo’, então ele realmente tinha essa visão. Ele teve muita angústia em sua vida, muita dor, mas tudo saiu de sua visão quando se tratava de sua arte – incluindo toda a carreira do Nirvana, não apenas a composição, o vocal e a guitarra, mas a produção dos discos, a capa dos álbuns, a maneira como eles lidam com a mídia, a maneira como eles lidam com a carreira em turnê. E ele se manifestou exatamente do jeito que queria. Não deu a ele toda a felicidade que esperava, mas foi absolutamente realizado. Aquilo foi uma criação consciente, não foi acidental.”
O papel do Sonic Youth na trajetória do Nirvana
Em 1990 o Nirvana era atração de abertura do Sonic Youth, agenciado por Danny Goldberg. Thurston Moore, guitarrista do grupo, foi responsável por apresentar o projeto de Cobain ao empresário, que mais tarde levou o Nirvana ao mainstream.
“Então [o outro empresário John] Silva tinha visto o Nirvana abrir para o Sonic Youth, e ele conseguiu que Thurston [Moore] me ligasse, Thurston era o guitarrista principal do Sonic Youth – e um dos vocalistas – e ele disse: ‘Olha, eu sei você não gosta de novos artistas, mas esta é a melhor banda que já vimos.’ E eu confiava nele completamente. Eles eram um grande artista, mas Kim Gordon e os outros do Sonic Youth eram apenas os curadores do tipo de punk americano, mundo indie-rock pós-moderno, e tinham uma tremenda reputação de descobrir talentos.
Com base em seu entusiasmo, concordei em me encontrar com o Nirvana, e acho que o Nirvana se encontrou conosco porque eles confiavam no Sonic Youth – porque o Sonic Youth era um exemplo. Eles tinham ética, criatividade – e ainda tinham uma função no mercado. Tivemos uma reunião com eles e, no final do dia, éramos o empresário deles. Eles haviam feito o álbum ‘Bleach’, queriam mudar para uma grande gravadora, queriam um tipo convencional de empresa de gerenciamento de Los Angeles.”
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Ótimo texto!! Kurt fornecer!!!!