Danny Vaughn promove celebração ao Tyketto durante show extra em SP

Execução impecável de “Don’t Come Easy” na íntegra marcou apresentação no House of Legends, realizada no último domingo (20)

A história é conhecida dos fãs de hard rock dos anos 1980: uma boa banda consegue contrato com uma gravadora, mas lança seu primeiro álbum em 1991 e fracassa em vendas. Não dá para culpar apenas a chegada do grunge: o público estava cansado desse tipo de som. Culpa, acima de tudo, dos próprios selos que também contratavam grupos de qualidade questionável simplesmente porque o estilo estava “na moda” – aliás, tendência que nunca pegou no Brasil.

O Tyketto de Danny Vaughn, vocalista que esteve no Brasil para três apresentações – uma em Curitiba, na sexta-feira (18), e duas em São Paulo, no sábado (19) e domingo (20) –, estava no meio das boas bandas que até se associaram a uma grande gravadora, mas não vingaram. Seu disco de estreia, “Don’t Come Easy”, saiu em abril de 1991 pela Geffen. Vaughn diz em entrevistas que o lançamento foi atrasado, já que a gravadora, então associada à Warner, estava no processo de ser vendida para a MCA/Universal.

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A partir daí, tudo desmoronou aos poucos. O segundo álbum, “Strength in Numbers” (1994), saiu por um selo independente, CMC International, e com outro baixista, Jaimie Scott, na vaga deixada por Jimi Kennedy. O próprio Danny saiu, sendo substituído por Steve Augeri (futuro vocalista do Journey) para mais um disco, “Shine” (1995), antes do grupo encerrar em definitivo. Após reuniões em 2004 e 2007, a banda retornou de vez em sua configuração original 2008, com direito a seu primeiro e único show no Brasil, no festival carioca Hard in Rio. Aos poucos, os integrantes foram saindo até restar somente Vaughn.

Foto gentilmente cedida por Andre Santos / Roadie Crew

Talvez nem o próprio vocalista, após uma trajetória repleta de percalços que não combinam com seu talento, esperasse tamanha resposta positiva de sua segunda vinda ao país, a primeira como artista solo. Especialmente em São Paulo, onde chegou a marcar apresentação extra após o primeiro show ter seus ingressos esgotados. Vale destacar, contudo, que a performance adicional foi agendada na data em que ele passaria por Belo Horizonte, cidade retirada de seus planos depois que apenas seis ingressos foram vendidos. Ainda assim, o evento sold-out na capital paulistana deve tê-lo deixado impressionado.

No domingo (20), o clima era um pouco diferente. O House of Legends, local de ambas as apresentações na terra da garoa, parecia estar com pouco mais de 50% de sua capacidade máxima. Danny não se importou e apresentou-se como se estivesse em uma grande arena lotada, assim como sua banda de apoio formada pelos brasileiros Bruno Luiz (guitarra; Command6 e StormSons), Bento Mello (baixo; Sioux 66, Nite Stinger), Bruno Sá (teclados; Geoff Tate, Angra etc) e Gabriel Haddad (bateria; Sioux 66).

Menos glamour, mais som

O quinteto subiu ao palco às 20h12 e se ajustou no palco sem muito glamour. Nada de entradas triunfais ou vinhetas de introdução. O foco era na música, ainda bem. Apesar do início morno com “Reach”, faixa-título do álbum lançado pelo Tyketto em 2016 e única composição do século 21 a fazer parte do setlist – era como se estivessem passando o som –, “Wings”, uma das canções mais conhecidas de “Don’t Come Easy”, veio na sequência e arrebatou o público com seu apelo melódico irrefutável.

Como prometido, os fãs puderam conferir uma execução integral de “Don’t Come Easy”, ainda que fora de ordem. Era preciso poupar o único semi-hit “Forever Young” para o final – como feito no ao vivo “Live from Milan” (2017), quando o álbum fora tocado de trás para frente “porque todo mundo iria embora após a primeira canção”, segundo o próprio Danny Vaughn.

Foto de celular: Igor Miranda

Por outro lado, a centena de presentes nesta data extra não parecia fazer diferenciação das músicas tocadas. Se vinha de “Don’t Come Easy”, quase todo mundo cantava junto. Depois de “Wings”, poderia vir qualquer coisa que o público mataria no peito: da carregada “Burning Down Inside”, talvez a mais “hard oitentista” do álbum de 1991, à intensa “Walk on Fire”, injustamente pouco tocada pelo Tyketto em suas apresentações.

Desfile vocal

“Burning Down Inside” e “Walk on Fire”, aliás, foram executadas em tom um pouco mais grave, mas seriam praticamente as únicas. O restante do repertório surgiu na pegada original, mostrando como Danny, no alto de seus recém-completos 62 anos de idade, ainda canta muito. Em entrevista de 2018 ao site, ele admitiu ter preservado bem sua voz por não ter exigido tanto dela em longas turnês como outros nomes mais famosos, de Jon Bon Jovi a Axl Rose. Mas há, sim, méritos próprios do artista, que se passaria facilmente como alguém 15 anos mais novo.

Ele até confessou ter feito uma pequena pausa “por não ter mais 30 anos” antes de tocar “Strength in Numbers”, faixa-título do álbum de 1994. No entanto, a partir daí, emendou uma série de canções de “Don’t Come Easy” que, de tão fiéis em sua execução, pareciam ser reproduzidas diretamente do álbum: “Strip Me Down” com direito à sua gaita marota, “Seasons” com pequena intro acústica, “Nothing but Love” e seu refrão arrebatador e “Lay Your Body Down” com divertidas interações junto ao público.

A última mencionada trouxe um solo estendido do talentoso Bruno Luiz, cujos esforços também seriam destacados pelo próprio Vaughn em “Rescue Me”, definida por ele como uma canção “para guitarristas”. A sequência, porém, teria o seu tom estabelecido pelo violão de 12 cordas do frontman.

Antes de iniciar a poderosa balada “Standing Alone”, uma das mais apreciadas pelo público, o vocalista contou uma breve história sobre tê-la composto em apenas 15 minutos. “Alguns compositores que admiro relatam experiências parecidas a respeito de algumas de suas melhores músicas saírem assim, de forma rápida e espontânea”, comentou, antes de dizer que a faixa não havia sido pensada para “Don’t Come Easy” e só entrou porque eles precisavam completar o disco. Sorte a nossa que ainda não estávamos na era dos EPs e singles.

Foto gentilmente cedida por Andre Santos / Roadie Crew

Violão, participação, conclusão

A pegada semiacústica permaneceu com a afável “Catch My Fall” e “Sail Away”, talvez uma das canções mais representativas do som do Tyketto: meio Bon Jovi, meio Eagles, mas sempre convincente. Danny Vaughn se despediu do público, mas todo mundo sabia que rolaria bis, então, ninguém pediu – fato estranhado por ele.

Se o “encore” não era surpresa, a participação de BJ em “Heaven Tonight”, canção do Waysted (banda de Pete Way da qual Vaughn fez parte antes do Tyketto), era. “Amo quando alguém aparece para fazer a parte mais difícil do trabalho”, brincou a estrela da noite sobre a boa colaboração com o frontman do Spektra e músico da banda de Jeff Scott Soto.

A breve “canção de cowboy” “The Last Sunset” trouxe até Gabriel Haddad, empunhando uma meia-lua, à frente do palco. Mas o clima acústico se dissiparia de vez para o encerramento com “Forever Young”, em mais uma performance impressionante de Danny e banda, além de adesão absoluta da plateia.

O próprio cantor, aliás, reconheceu os esforços do quarteto brasileiro que o acompanhava. Chegou a definir o grupo como um “tanque”. De fato, exceção feita a uma outra linha de bateria e aos backing vocals inaudíveis de Bruno Sá, tudo foi tocado de forma muito fiel às gravações – mérito e tanto dos instrumentistas, já que não é nada fácil tirar esse material onde até o baixo soa meticuloso. Cenário perfeito para o inteiraço Vaughn brilhar.

O frontman do Tyketto até prometeu voltar ao Brasil num futuro indefinido, mas não espantaria se não retornasse. Trata-se de um caso similar ao de Johnny Gioeli, outro nome lado B do hard rock que fez há alguns meses um show arrebatador sob a mesma iniciativa e no mesmo local. Apresentações tão únicas – e até inusitadas – que era inevitável sair do House of Legends com a sensação de que “quem viu, viu”.

https://www.instagram.com/p/CwMCDb8g5Ey/

Danny Vaughn – ao vivo em São Paulo

  • Local: House of Legends
  • Data: 20 de agosto de 2023

Repertório:

  1. Reach
  2. Wings
  3. Burning Down Inside
  4. Walk on Fire
  5. Strength in Numbers
  6. Strip Me Down
  7. Seasons
  8. Nothing but Love
  9. Lay Your Body Down
  10. Rescue Me
  11. Standing Alone
  12. Catch My Fall
  13. Sail Away

Bis:

  1. Heaven Tonight (Waysted)
  2. The Last Sunset
  3. Forever Young

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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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