Brian May é um guitarrista diferente em muitos sentidos. Curioso pela parte técnica e eletrônica da área musical, o integrante do Queen utiliza um instrumento personalizado, construído por seu próprio pai.
Sua história anterior ao grupo também é um tanto distinta. Antes de estourar como artista, May – que já tinha diploma universitário – estava fazendo seu PhD em astronomia.
Precisou abrir mão dos estudos para focar em sua carreira musical. Décadas mais tarde, conseguiu concluir o trabalho que deixou em aberto.
Brian May, astrofísico e músico
Antes de se tornar o lendário guitarrista do Queen, Brian May estudou física e matemática na Imperial College London, na Inglaterra, concluindo os estudos em 1970. No mesmo ano, iniciou seu PhD em astrofísica. O músico estudava a luz refletida pela poeira interplanetária e a velocidade desta mesma poeira no plano do Sistema Solar.
Ao mesmo tempo, fundou o Smile, banda que logo mudaria de nome para Queen. Em 1974, com o grupo começando a fazer sucesso, o guitarrista decidiu abrir mão dos estudos para focar em sua carreira musical.
Pouco antes de deixar esse trabalho de lado, o músico ainda foi coautor de dois artigos, baseados nos estudos que fez enquanto estava no Observatório de Teide, que fica em Tenerife, na Espanha.
May explicou que tomou a decisão por acreditar que seria melhor músico do que astrofísico.
“Quando estava perto de concluir minha tese, o Queen ainda estava no início e tinha de fazer uma escolha. E essa escolha foi feita na minha suposição de que não era tão bom em física e que poderia ser melhor com música.”
Com certeza, May não deve ter nenhum arrependimento da mudança: afinal, o Queen é uma das bandas mais importantes de todos os tempos e já deixou seu nome marcado na história da música.
Ainda assim, ele não se esqueceu completamente do que fazia antes de alcançar o sucesso. Um dia, decidiu concluir o trabalho que deixou em aberto.
PhD em astrofísica mais de 30 anos depois
Em outubro de 2006, 32 anos depois de desistir do PhD, Brian May decidiu retomá-lo na Imperial College London. O agora famoso guitarrista também contou com a sorte para poder voltar a estudar, já que neste longo intervalo de tempo, praticamente ninguém pesquisou o assunto, que começou a ficar em alta no campo na astronomia. Caso contrário, não poderia continuá-lo.
Foi justamente o crescimento do interesse de outros profissionais que fez May retomar seus estudos.
“De repente, o tema se tornou requisitado novamente. Comecei a conversar sobre astronomia de novo com algumas pessoas, que disseram: ‘por que você não volta?’ Eu segurei tudo, e realmente digo tudo, por um ano (para concluir a tese). Me colocaram nessa pequena sala na Imperial College e eu terminei.”
Na época em que entregou sua tese, May afirmou que foi difícil abrir mão dos estudos, já que sempre gostou da área.
Em agosto de 2007, May já conseguiu submeter sua tese para avaliação um ano antes do prazo final. O músico precisou observar novamente a poeira interplanetária do estudo, pois se passaram 33 anos desde então e a Nasa, a famosa agência espacial americana, fez algumas descobertas importantes sobre o tema.
“Foi o maior período sabático já registrado (na Imperial College). Na época, foi uma decisão difícil deixar meus estudos pela música. Estou muito orgulhoso por estar aqui hoje. Astronomia sempre foi meu interesse.”
A tese de Brian May tinha 48 mil palavras e foi intitulada “Uma Pesquisa de Velocidades Radiais na Nuvem de Poeira Zodiacal”. O músico, na época em que entregou sua tese, ficou receoso de fracassar, já que seria algo que viria a público.
No entanto, May pôde ficar mais tranquilo após seu trabalho ter sido aprovado pela banca examinadora e se tornou oficialmente um doutor em astrofísica em outubro de 2007, com a tese sendo oficialmente publicada no ano seguinte. Ela está disponível no site da própria Imperial College.
O astrofísico Garik Israelian, que trabalhou junto com May, afirmou que ele teria tido uma carreira brilhante na área, mas que o perdoa por ter seguido carreira musical.
“Não tenho dúvidas de que Brian May teria tido uma brilhante carreira em ciências se tivesse completado seu PhD (na época em que o iniciou). No entanto, como fã do Queen, fico feliz que ele tenha deixado a ciência temporariamente.”
Em 2021, para o quadro “According to Google”, da Radio X, em que celebridades respondem às principais perguntas sobre elas no Google, Brian May reforçou o orgulho de ter concluído seus estudos, mas que essa também não foi uma tarefa fácil.
“Sou muito orgulhoso dele e me custou um pouco, em termos de esforço e de submergir meu pensamento a um certo ponto. Por que o lado difícil de fazer um PhD é que você precisa ser muito humilde, já que você tem de fazer algo que alguém está dizendo pra você fazer e você está sendo constantemente examinado e constantemente criticado. Foi difícil, mas estou muito feliz de ter o feito e muito feliz de ser um doutor.”
Trabalhos posteriores e junção com a música
Se você pensou que Brian May parou por aí com seu envolvimento na área de astrofísica, se enganou. Desde que se tornou doutor na área, ele continuou dando suas contribuições, ao mesmo tempo em que prosseguiu com seu trabalho no Queen – e até chegou a unir suas duas profissões em uma ocasião.
O guitarrista escreveu dois livros em conjunto com os colegas astrofísicos Patrick Moore e Chris Lintott, chamados “Bang!: The Complete History of the Universe” (ou “Bang!: A História Completa do Universo”, em português) e “The Cosmic Tourist” (ou “O Turista Cósmico”).
Moore, que se tornou amigo de Brian May, ainda fez com que um asteroide fosse renomeado em homenagem ao colega famoso: 52665 Brianmay. O músico, aliás, também foi cofundador do chamado Dia do Asteroide, junto do ex-astronauta Rusty Schweickart. A data, celebrada em 30 de junho, tem o intuito de aumentar a ciência da população sobre o estudo dos asteroides e como proteger nosso planeta de possíveis impactos.
Em 2020, o músico fez parte de uma equipe que utilizou projeções estereográficas para representar asteroides em um arigo publicado na famosa revista científica Nature. Dois anos depois, foi nomeado doutor honorário em ciência pela Universidade de Hull e aceitou a honra concedida.
Por fim, a respeito da junção dos dois trabalhos de sua vida, Brian May lançou no início de 2019 a canção “New Horizons”, nomeada em homenagem à sonda homônima lançada pela Nasa, que foi a primeira a explorar o planeta-anão Plutão.
Inclusive, na virada do ano de 2019, o próprio músico estava presente em uma festa para celebrar a ocasião em que a sonda observou 486958 Arrokoth, o objeto mais de estudo mais distante da história. May, inclusive, ajudou na construção das primeiras imagens do corpo.
*Texto construído com informações de: Wikipedia, BBC Brasil, CheatSheet, CNBC e Classic Rock.
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