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Entrevista: Tarja fala sobre shows no Brasil, projetos atuais e “Once”

Com três apresentações marcadas no país para setembro, cantora celebra fase atual ao mesmo tempo em que olha para o passado com carinho

Fãs brasileiros de Tarja Turunen não podem reclamar da ausência da cantora em território nacional. A cantora ex-Nightwish volta em setembro para mais uma sequência de três shows, pouco mais de um ano após sua última visita, em abril de 2022. Porto Alegre (Opinião | 22/09), São Paulo (Tokio Marine Hall | 23/09) e Limeira (Mirage | 24/09) são os destinos da vez (clique no nome de cada cidade para ingressos).

Logo de cara, Tarja esclareceu uma confusão provocada pela produtora Top Link ao anunciar o show. A empresa nacional havia dito que a artista retornaria com a turnê “The Hits”, tocando “os maiores hits de toda a sua carreira, inclusive da fase Nightwish”. Porém, nos shows da tour mencionada (que já tem passado por Europa e América do Norte), a única canção de sua antiga banda a marcar presença no repertório é “Nemo”. Ninguém mentiu, mas o texto levava a crer que haveria mais de seu ex-grupo no setlist. Ela afirma:

“As únicas informações oficiais que você pode encontrar estão em meu site e minhas redes. A turnê atual é baseada em minha coletânea ‘Living the Dream’, que estou promovendo com a turnê ‘Living the Dream – The Hits Tour’. A excursão continua até o fim de 2024.”

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A compilação mencionada pela artista, vale destacar, é focada em sua carreira pós-Nightwish. Não há qualquer composição da banda no material, que, além de percorrer seus mais de 15 anos como artista solo, oferece a faixa inédita “Eye of the Storm”. Sobre a coletânea, disponibilizada em formato duplo, ela destaca:

“O álbum principal inclui as músicas favoritas dos fãs e as que foram lançadas como singles no passado. Porém, quis lançar algumas versões diferentes do álbum, para que todos pudessem ter a chance de me conhecer melhor. Nessas versões limitadas, escolhi minhas músicas de rock favoritas e canções que não são tão conhecidas nem mesmo pelos fãs mais dedicados. É incrível para mim perceber o quão rápido o tempo passou e quantos álbuns lindos tenho em minha carreira. Já se passaram 18 anos desde que comecei minha jornada sozinha – é o dobro do tempo que passei em uma banda como vocalista.”

A respeito de “Eye of the Storm”, Tarja comentou anteriormente que a composição foi influenciada por dois países muito importantes em sua vida: Finlândia, sua terra natal, e Argentina, país de seu marido, o empresário Marcelo Cabuli. Agora, ela explica que a inspiração veio justamente por, na época em que criou a música, sentir que faltava equilíbrio em sua vida – o que também tinha a ver com onde morava.

“Tinha acabado de me tornar mãe e essa experiência mudou a maneira como eu via o mundo. Não queria voltar para a Finlândia e minha vida na Argentina começou a ficar complicada após o nascimento de nossa filha. Procurava um lugar onde pudéssemos nos estabelecer como família. Amo esses dois países, ambos me deram vida. Quando precisei de privacidade e tempo, a Argentina foi meu plano de fuga. Buenos Aires é inspiradora. Porém, uma parte de mim sempre quer voltar ao meu país de origem. Então, compus uma música sobre essa ‘batalha’ interior. Eu não estava pronta para lançá-la no álbum da época, então guardei para depois. Agora, senti que era o momento certo de divulgá-la, pois encontrei equilíbrio em minha vida pessoal.”

Próximo álbum e ao vivo de 2016

Workaholic inveterada não só na estrada, Tarja Turunen trabalhou em uma série de novos lançamentos nos últimos tempos. Além da já mencionada coletânea “Living the Dream”, a artista disponibilizou no último mês de junho o álbum homônimo do Outlanders, seu projeto de música eletrônica com Torsten Stenzel (e com convidados que vão de Joe Satriani a Mike Oldfield). E em 11 de agosto, chega ainda o ao vivo “Live at Metal Church”, primeiro da série “Rocking Heels”.

O material foi gravado em 2016, diante de 300 fãs especialmente convidados, na igreja de Wacken, cidade onde acontece o tradicional festival metálico Wacken Open Air. Além de faixas de sua carreira solo e do Nightwish, o repertório contou com peças clássicas e versões para canções de vários artistas ligados ao rock e metal. O tracklist completo ainda não foi divulgado, mas o evento contou com versões para músicas do Linkin Park (“Numb”), Avenged Sevenfold (“Afterlife”), Megadeth (“Trust”), Metallica (“The Unforgiven”), Rammstein (“Ohne dich”), entre outros. Tarja relembra:

“Este show que gerou o ‘Live at Metal Church’ foi único. Fiquei super empolgada em poder fazer um show como esse no Wacken, para um público de metal, já que estou muito acostumada a fazer shows de música de câmara. Senti que o público realmente gostou e fomos aplaudidos de pé várias vezes. A série ‘Rocking Heels’ terá lançamentos de diferentes tipos de shows que gostei por diferentes razões. Em breve divulgaremos novidades.”

Em meio a tudo isso, Turunen confirmou também que haverá um novo álbum de músicas inéditas em “algum momento de 2024”. A artista disse estar “trabalhando nas músicas e letras, deixando tudo pronto para a produção”.

E ainda sobra tempo para alguns acenos ao passado. Pela primeira vez em 18 anos, ela se apresentou ao lado de seu ex-colega de Nightwish, o baixista e vocalista Marko Hietala. Os dois interpretaram “The Phantom of the Opera”, clássico de Andrew Lloyd Weber, durante evento em Pratteln, na Suíça, no último dia 8 de julho.

Cautelosa com as palavras, a cantora evitou responder como está atualmente Hietala, que se retirou do Nightwish devido a questões de saúde mental. Porém, descreveu o momento como “emotivo para todos os envolvidos” e adiantou que subirá ao palco novamente com o colega dentro de alguns dias – mais especificamente na próxima quinta-feira (3) em Savonlinna, na Finlândia.

As primeiras vezes no Brasil

Este mês de julho marcou o 23º aniversário da primeira turnê de Tarja Turunen pelo Brasil. Na ocasião, ela ainda fazia parte do Nightwish, banda que veio com a turnê de “Wishmaster” para três apresentações: em Curitiba, São Paulo (no mesmo Tokio Marine Hall – à época chamado Tom Brasil – onde a cantora se apresentará em setembro) e Porto Alegre (também no mesmo Opinião Bar para onde está agendada solo). Como agora, o itinerário também era apertado, de três dias.

Apesar da correria, as lembranças são ótimas. A artista destacou, em especial, o frenesi causado pela estreia em território nacional.

“Naquela época, eu ficava sozinha e ninguém cuidava da segurança, então as coisas às vezes ficavam um pouco fora de controle. Lembro que em Curitiba, depois do nosso show, não conseguia chegar na van onde todos da banda já estavam, pois havia centenas de pessoas esperando do lado de fora do local só para me dar um ‘oi’. Foi assustador, porque eu estava sozinha em meio à histeria em massa. Apesar disso, me diverti muito. Adorei experimentar pela primeira vez as iguarias locais e conhecer melhor a cultura de vocês. Conheci pessoas maravilhosas que ainda hoje fazem parte da minha vida.”

Já a estreia sem o Nightwish se deu em 2004. Ela ainda fazia parte da banda, mas veio com o projeto Noche Escandinavia para apresentações em teatros de Porto Alegre e São Paulo. As cantoras Marjut Paavilainen e Ingvild Storhaug a acompanhavam no trabalho, juntamente da pianista japonesa Izumi Kawakatsu e o dbaritono Juha Koskela. Com um repertório de músicas tradicionais finlandesas, era o momento de Tarja mostrar uma outra faceta ao público.

“Meus amigos da universidade ficaram encantados com a recepção que tivemos do público. Deram autógrafos pela primeira vez –uma experiência nova. A maioria dos meus fãs nunca pôde ouvir minha voz apenas com acompanhamento de piano. Sempre gostei de surpreendê-los, fazendo muitos tipos diferentes de projetos, porque não acho que há fronteiras na música. Claro que há coisas que eu jamais faria, pois conheço minhas limitações, mas música, para mim, é emoção. Adoraria voltar e fazer mais desses tipos de shows clássicos, já que faço muitos deles na Europa.”

“Once”, o “maior de idade”

O bate-papo foi concluído com uma breve reflexão sobre um álbum que já é “maior de idade”. Lançado em 2004, “Once” está prestes a celebrar seu 20º aniversário.

Foi o disco responsável por fazer o Nightwish mudar de patamar, tamanho o sucesso especialmente do hit-single “Nemo”. Também pôs fim à trajetória de Tarja Turunen no grupo, tendo em vista sua confusa demissão no ano seguinte.

A cantora reconhece que “tudo parecia certo em termos musicais” em “Once”. O problema era que a banda não estava preparada para tamanho sucesso, que transcendeu a barreira do heavy metal e transformou o grupo finlandês em um fenômeno pop.

“As gravações de ‘Once’ foram mais fáceis e as músicas eram fortes. A banda já esperava algum sucesso, já que causamos grande impacto no mundo do metal com nossos álbuns anteriores, mas o enorme sucesso que se seguiu ao lançamento de ‘Once’ não era esperado. Foi impressionante. De repente, passamos a tocar apenas em grandes arenas e as coisas ficaram grandes. Existia pressão da mídia o tempo todo, mas o sentimento dentro da banda não era bom. Eu não estava feliz, nem os caras. A banda não estava preparada para lidar com esse sucesso, infelizmente.”

*Tarja Turunen, vale reforçar, apresenta-se no Brasil no próximo mês de setembro. Locais e datas: Porto Alegre (Opinião | 22/09), São Paulo (Tokio Marine Hall | 23/09) e Limeira (Mirage | 24/09).

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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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